Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO7.1 - Comunicação, (In)visibilidade e (De)colononialidade

45064 - POVOS CIGANOS E AS ELEIÇÕES DE 2022: COMUNICAÇÃO E (IN)VISIBILIDADE NA POLÍTICA
ALUÍZIO DE AZEVEDO SILVA JÚNIOR - FIOCRUZ-RJ, INESITA SOARES DE ARAUJO - FIOCRUZ-RJ, ALUÍZIO DE AZEVEDO SILVA JÚNIOR - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Embora o IBGE não contabilize povos ciganos (ou romani) no censo, o primeiro registro no Brasil é de 1574, quando Portugal condenou João de Torres ao degredo na colônia por ser cigano. O país aplicou várias políticas colonialistas/racistas visando sua exclusão, especialmente contra a etnia Kalon, proibindo sua língua, andar em grupos e praticar ofícios próprios, intensificando um imaginário estereotipado que os classificam como bandidos perigosos. O Brasil herdou essas violências, invisibilizando-os pela política imperial da diferença, produzindo o que Mignolo (2017) chama de ferida colonial, que se torna estruturante do racismo e da colonialidade do poder político. Tal realidade impôs a exclusão social, refletindo na falta de acesso à saúde, habitação, educação, trabalho e seguridade e sofrendo preconceitos e discriminações estruturais.
A produção da inexistência dos povos ciganos na história e a desumanização por estereótipos impactam a autoestima de seus integrantes, que re-existem, contribuindo com a cultura, identidade e economia do país, mas sempre atuando na preservação e continuidade dos seus saberes e modos de vida, configurando-se como identidades de resistência. Este contexto está na origem de pesquisa de pós-doutorado em andamento, cujos resultados parciais apresentamos neste trabalho, que tem como contexto as eleições de 2022, que dividiram ideologicamente o Brasil, inclusive as comunidades ciganas e seu movimento social.
Em 2022, duas pessoas ciganas concorreram a cadeiras de deputado estadual, pelo Partido Republicano/SP e pelo Partido dos Trabalhadores/GO. Movimento cigano, comunidades e famílias ciganas racharam entre posições de direita e de esquerda no apoio aos candidatos. No movimento cigano, duas organizações fizeram campanhas evidenciando e reproduzindo o cenário de polarização político-partidária nacional: o Coletivo Ciganagens, que apoiou Lula e a Confederação Cigana do Brasil, apoiando Bolsonaro. Candidatos e organizações lançaram mão de recursos comunicacionais para obtenção de apoio.
A discriminação e silenciamento históricos das pessoas ciganas e seus saberes, por um lado, por outro a ocupação na atualidade do espaço político-eleitoral por pessoas romani, nos levaram a questões de pesquisa, entre elas: as pautas ciganas foram incluídas nas campanhas eleitorais de candidatos ciganos e dos não ciganos, trazendo visibilidade para suas demandas?


Objetivos
Avaliar a presença das pautas dos movimentos ciganos nas campanhas de candidatos ciganos e não ciganos a cargos eleitorais.
Enfocar um movimento das pessoas ciganas na afirmação e visibilidade de sua identidade, ao mesmo tempo em que reivindicam reconhecimento de seus direitos cidadãos, com respeito às suas especificidades.


Metodologia
A investigação ancora-se epistemologicamente numa construção multirreferencial de saberes e interdisciplinar entre a filosofia cigana, os estudos decoloniais, os estudos culturais e semiológicos. Para a interlocução com as pessoas ciganas na pesquisa de campo, em quatro Estados diferentes, com participação dos dois candidatos ciganos e 12 eleitores, utilizamos uma matriz fílmica intercultural, semiológica e anticolonial criada a partir destas quatro matrizes. Escuta profunda, diálogo horizontal e análise documental foram os procedimentos principais.

Resultados e discussão
Analisamos campanhas de candidatos não ciganos a cargos eleitorais no nível estadual, federal e à presidência, das duas correntes ideológicas e monitoramos a campanha eleitoral dos dois candidatos ciganos, analisando seus programas de governo.
Constatamos que os candidatos ciganos, mesmo com divergências partidárias, fizeram campanhas tendo como bandeira principal os problemas dos povos ciganos, trazendo suas demandas e lutas por inclusão social, defesa de direitos humanos, quebra de estereótipos e preconceitos, combate ao racismo estrutural e institucional, que ainda permanecem em diversos serviços públicos, incluindo o SUS.
Independentemente de sua ideologia política, candidatos não-ciganos invisibilizaram os povos ciganos no debate eleitoral, sem qualquer menção ou propostas em suas plataformas de governo. A invisibilidade foi também percebida pelas pessoas ciganas participantes da pesquisa, unânimes em destacar que não viram propaganda eleitoral ou propostas para povos ciganos nos discursos ou conteúdos publicados pelos candidatos aos diferentes cargos.


Conclusões/Considerações finais
Os problemas e demandas dos povos romani foram excluídos das propagandas eleitorais e das plataformas de governo de todos os partidos e candidatos não ciganos ao executivo ou ao legislativo, confirmando a produção da inexistência, pelo silêncio e invisibilidade dos povos ciganos e suas pautas, permanecendo e operando lógicas coloniais e racistas no jogo político eleitoral e partidário. No contraponto, mesmo sem saírem vitoriosos nas urnas e assumindo posições divergentes ideologicamente, os candidatos ciganos atuaram no sentido da reafirmação da identidade romani e da legitimidade da reivindicação de seus direitos.