45980 - A PRECARIEDADE DA ASSISTÊNCIA ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA EM CLÍNICAS ESPECIALIZADAS AMANDA DOURADO SOUZA AKAHOSI FERNANDES - UFSCAR, THAMY EDUARDA RICCI - UFSCAR, MARIA FERNANDA BARBOZA CID - UFSCAR, TAÍS QUEVEDO MARCOLINO - UFSCAR, MARINA BATISTA CHAVES AZEVEDO DE SOUZA - UFS, LEILA MARIA QUILES CESTARI - UFSCAR
Apresentação/Introdução INTRODUÇÃO:
A literatura aponta que o processo de responsabilização do Estado, das políticas e da sociedade pelas crianças e adolescentes aconteceu de forma tardia. Até meados da década de 80, para aqueles com deficiência ou sofrimento psíquico, a assistência estava fortemente atrelada à perspectiva de controle social (TANO; MATSUKURA, 2015; COUTO; DELGADO, 2015).
Diante da falta de apoio estatal para essa população os movimentos ativistas de pais e familiares de crianças com deficiência ganharam força, resultando na proliferação de instituições privadas e filantrópicas, tendo como objetivo a oferta de assistência clínica e escolar (LIMA et al, 2019).
Objetivos OBJETIVO:
Compreender, a partir de relatos publicados por terapeutas em uma mídia social (Instagram ®), como tem sido ofertado a assistência às crianças e adolescentes com deficiência nas clínicas especializadas.
Metodologia METODOLOGIA:
O presente estudo é parte da pesquisa "Terapeutas Cansadas: da precariedade do trabalho à precariedade da assistência", aprovado no Comitê de Ética em pesquisa com seres humanos da UFSCar sob número 6.057.453. Trata-se de um estudo do tipo documental, retrospectivo, de abordagem qualitativa (GIL, 2002).
Os relatos foram enviados por terapeutas de forma anônima, via formulário online do Google Forms®, e publicados no feed de notícias em um perfil público anônimo intitulado @terapeutascansados na plataforma de mídia social Instagram®.
Já a coleta dos dados ocorreu em novembro de 2022. Foram coletados 131 relatos no total. Para análise de dados utilizou-se análise temática proposto por Bardin (2011).
Resultados e discussão RESULTADOS:
Tema 1: Formação insuficiente dos terapeutas
Identificou-se nos relatos que, ainda que pais ou responsáveis paguem por um serviço ofertado por um profissional graduado e/ou especializado, a assistência fica a cargo dos estagiários ou de profissionais que sequer têm a formação especializada da técnica ou abordagem supostamente oferecida pelas clínicas.
[...] Os pais são enganados de que seus filhos estão tendo um ótimo tratamento, mas mal sabem eles que muitas vezes quem está atendendo as suas crianças, são profissionais sem diploma ou que não fazem ideia do que estão fazendo (Relato 12).
Tema 2: Distorção de abordagens e técnicas
A partir de uma compreensão distorcida de abordagens e técnicas utilizadas para a redução de sintomatologias e normatização de comportamentos aceitáveis socialmente, terapeutas relatam usos inadequados de terapias estruturadas e protocolares, que inclusive fazem uso da violência.
[...] Éramos orientados a usar métodos aversivos e que causassem dor nas crianças. [...], ao conter as crianças devíamos fazer forte, de uma forma que doesse, para que não reforçassem os seus comportamentos inadequados de autolesão. [...]. (Relato 131)
Tema 3: A comunicação entre terapeutas e pais e/ou responsáveis
Os terapeutas relatam ainda que muitas vezes os pais ou responsáveis desconhecem como de fato a prática tem sido de fato desenvolvida, seja pela impedimento de realizar devolutivas e orientações necessárias, seja pela impossibilidade de adentrar ao local onde ocorrem os atendimentos.
[...] Nessa clínica nós somos proibidos de falar qualquer coisa com os pais, que não podem ter acesso às salas de atendimento e não fazem ideia do que acontece lá dentro [...] (Relato 125).
DISCUSSÃO:
Ainda hoje, observamos que a infância tem sido alvo constante de um contexto massivo de patologização e medicalização da vida. Demandando de intervenções que visam ajustar o desenvolvimento físico e mental das mesmas. Sob nova roupagem - a da intervenção especializada de inúmeros profissionais com suas técnicas e abordagens - mas ainda sustentadas pela intolerância ao desvio (Canguilhem, 2005), a infância é novamente invisibilizada e, como identificado no presente estudo, institucionalizada e violentada (Cascio et al., 2019).
Isso posto, evidencia-se a necessidade da corresponsabilização entre os atores envolvidos no cuidado (profissionais) e familiares, no sentido de contribuir para um cuidado mais efetivo, integrado às vivências e demandas cotidianas existentes e, principalmente, baseado nos direitos humanos.
Conclusões/Considerações finais CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se que os objetivos do presente estudo foram alcançados, na medida em que a partir dos resultados obtidos e da análise crítica de relatos de terapeutas publicados em um perfil de mídia social, a assistência às crianças, adolescentes e suas famílias foi revelada.
A principal limitação deste estudo abarca a fonte primária de dados utilizada, pois não há informações adicionais que melhor caracterizem a população de terapeutas que submeteram seus relatos, e que permitam analisar possíveis viéses.
A exploração crítica desse material, indica a necessidade de estudos futuros, visando dar dimensão à realidade dos diferentes serviços que ofertam assistência às crianças e adolescentes, visando superar os desafios existentes.
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