46842 - CONSTRUINDO CAMINHOS PARTICIPATIVOS COM ADOLESCENTES: A SAÚDE MENTAL EM FOCO MARIA FERNANDA BARBOZA CID - UFSCAR, DANIELI AMANDA GASPARINI - UFSCAR, MARINA SPERANZA - UFSCAR, MARTHA MORAES MINATEL - UFSCAR, DIENE MONIQUE CARLOS - UFSCAR
Apresentação/Introdução Pesquisas COM (e não sobre) adolescentes ainda são incipientes, especialmente no Brasil e no campo da saúde mental . A literatura recente aponta um crescimento dos índices de sofrimento psíquico nesta população, o que se intensificou no contexto da pandemia da COVID-19. Tais dados alertam para a necessidade de planejamento e implementação de políticas públicas de promoção e cuidado estratégico em saúde mental direcionados às adolescências, mas que considerem sua participação nos processos de reflexão, planejamento e implementação. Tais aspectos levam em conta o Estatuto da Criança e do Adolescente que versa sobre os direitos de cidadania desta população e a política de atenção psicossocial infantojuvenil brasileira, que parte da ideia de que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos e detentores de lugares autênticos de fala, responsáveis por suas demandas, não sendo possível pensar em tratamentos e estratégias de cuidado de forma homogênea e protocolar. Assim, acredita-se que a produção de conhecimento em saúde mental também pode ser um cenário de participação ativa de adolescentes, através de um processo mediado por metodologias criativas e participativas que permitam a expressão das percepções, desejos, necessidades e ideias desta população, as quais poderão ser consideradas na formulação de políticas que sejam mais contextualizadas e efetivas.
Objetivos Relatar um processo de construção de conhecimento e ações práticas em saúde mental COM adolescentes vinculados a escolas públicas e a projetos de convivência e fortalecimento de vínculos de um território socioeconomicamente vulnerável.
Metodologia Trata-se de uma ação de pesquisa participativa e extensão universitária que acontece junto a cinquenta adolescentes de 11 a 18 anos distribuídos em duas escolas públicas e um centro de convivência e fortalecimento de vínculos de um território socioeconomicamente vulnerável localizado em um município do interior do estado de São Paulo. As ações ocorrem a partir de encontros semanais/quinzenais com os grupos de adolescentes dos respectivos locais, onde são planejadas, elaboradas, implementadas e avaliadas atividades sobre a temática da saúde mental. Nesse processo, utiliza-se como apoio o referencial da pesquisa participativa, das metodologias criativas e da terapia ocupacional, o que se desdobra em atividades que contemplam rodas de conversa, dramatizações, construção de cartazes, colagens, desenhos, utilização de fotografias e produções cinematográficas. Através destas estratégias, os participantes têm a oportunidade de falar sobre suas vivências, expressar seus sentimentos e acontecimentos do cotidiano, trocar experiências e manifestar suas perspectivas sobre a temática da saúde mental, bem como sobre o sentimento de pertença que possuem (ou não) nos grupos e aos espaços de circulação no território. Além disso, eles produzem, de forma coletiva, ações que consideram como favorecedoras da própria saúde mental. O processo é todo registrado a partir de gravação de áudio, registro fotográfico das produções e diário de campo. As análises das produções são realizadas de forma contínua a partir de sínteses construídas e validadas com o grupo após cada atividade realizada.
Resultados e discussão O processo da pesquisa, ainda em andamento, tem demonstrado que as estratégias utilizadas para a construção participativa do conhecimento e das ações facilitam o processo de formação de equipes de pesquisa com adolescentes, bem como na criação do vínculo entre os grupos (adolescentes e equipe da universidade), o que potencializa as ações. Também tem proporcionado o acesso às compreensões dos adolescentes de forma mais aprofundada, considerando outras formas de expressão para além do verbal, o que tem garantido a construção de espaços de escuta e participação e, consequentemente promoção da saúde mental. Dessa vivência já é possível identificar que, para os participantes da pesquisa, saúde mental se relaciona com a possibilidade de acesso à: escuta sem julgamentos; acolhimento (ser respeitado e bem recebido); atividades que permitem criação e prazer; relacionamentos positivos com pares/amigos/as, família e professores/as; novos repertórios de possibilidades de criação e circulação na cidade; e possibilidade de participação nas decisões e organizações dos espaços nos quais se vive. Observa-se que tais pontos levantados pelos/as participantes dialogam fortemente com a compreensão contemporânea de saúde mental produzida por teóricos da atenção psicossocial, indicando para a necessidade de avanços na execução de políticas e ações que de fato promovam a saúde mental de adolescentes de forma contextualizada.
Conclusões/Considerações finais As ações em desenvolvimento estão proporcionando a construção de espaços de promoção à saúde mental de adolescentes, pois a construção participativa tem-se demonstrado como produtora de emancipação social, protagonismo adolescente e transformação das realidades, o que favorece a saúde mental, na perspectiva dos próprios adolescentes.
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