46469 - O PAPEL DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS) NA SAÚDE E A PROPOSTA DOS DETERMINANTES DIGITAIS DE SAÚDE (DDS) MONIQUE BATISTA DE OLIVEIRA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, DANIELLE COSTA SILVEIRA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS, JOÃO CAIO SILVA CASTRO FERREIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, VANESSA BASTOS DE OLIVEIRA - INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, TANIA CRISTINA DE OLIVEIRA VALENTE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DANIELLE DIAS CORREIA DA SILVA - INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER
Contextualização No contexto atual, de domínio e avanços acelerados das tecnologias de informação e comunicação em saúde, é imprescindível avançar na discussão dos impactos que estas podem provocar. Embora estejamos falando de um campo fértil e em ascensão, ainda existe uma certa aquietação na comunidade científica, no que diz respeito às repercussões no processo saúde doença.
Na tentativa de estabelecer uma estrutura lógica que possibilite tal compreensão, partimos da concepção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como possíveis determinantes do estado de saúde de indivíduos e sociedade, visando despertar a reflexão, o diálogo e a construção de novos saberes e significados no campo da saúde e das TICs.
Descrição Trata-se de um relato de experiência de um grupo formado por profissionais, militantes e pesquisadores em saúde sobre seu processo de discussão e produção de uma conceituação própria sobre a influência das TICs nos processos de saúde e doença da população.
Período de Realização Um curso realizado em 2022, sobre as diferentes tendências e desafios das novas TICs no campo da saúde, foi o elemento disparador desta experiência. Após sua finalização, como alternativa para se manter os debates, avançando no seu refinamento teórico, foi criado um grupo de reflexão interdisciplinar, que, desde então, reúne-se quinzenalmente, de forma on-line.
Reconhecendo o uso das novas TICs – a partir de suas múltiplas influências, determinantes, e correlação com a saúde – o cerne das discussões iniciais do grupo buscou esclarecer se a utilização de tecnologias de modo massivo e pervasivo na vida, no cotidiano e, consequentemente, na saúde merecia um conceito próprio para destaque analítico e sociopolítico.
Objetivos Relatar a experiência de elaboração de uma conceituação própria sobre a influência das TICs nos processos de saúde e doença da população por um grupo de reflexão.
Resultados A cada encontro dos participantes do grupo, foram debatidos temas que pudessem contribuir para maior aprofundamento e embasamento das reflexões e construções relacionadas à necessidade e viabilidade de propor um conceito específico para a análise da relação entre as novas TICs e a saúde.
Partiu-se de uma revisão sobre os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), revisitando os modelos clássicos dos determinantes sociais que discutiam o fenômeno saúde-doença como processo determinado pela relação Estado, economia, sociedade e saúde.
Apesar da abrangência e complexidade dos modelos, o que se percebeu foi uma sub-representação das novas TICs enquanto condicionantes e determinantes dos processos individuais e coletivos de saúde na atualidade.
Era consenso para o grupo que os DSS já não eram capazes de contemplar a complexidade dos condicionantes da saúde não biomédicos a partir do avanço de aspectos muito próprios, por vezes até particulares, da presença das TICs na saúde. Em um outro extremo, também havia uma preocupação sobre a possibilidade de gerar uma desvalorização de um termo que já tinha sua historicidade, seu campo e sua defesa.
Considerando a necessidade da elaboração de um conceito que se propusesse a estreitar a articulação entre saúde e as TICs, o grupo decidiu trazer à luz a noção de Determinantes Digitais da Saúde (DDS), por entender que esse fator é primordial na construção de um novo conceito futuro que englobe fatores humanos e não humanos, conforme referencial teórico proporcionado por Bruno Latour (1994, 2004, 2012).
Aprendizados Os encontros, discussões, leituras e reflexões do grupo mostraram-se suficientemente potentes para fundamentar a proposta do conceito de DSS. O crescimento da exploração de recursos digitais para promover saúde, seja individualmente, ou na tentativa de produzir desfechos positivos coletivos a partir de bancos de dados para elaboração de políticas públicas de maior abrangência, demonstra a relevância dessa proposta.
Análise Crítica A relevância do conceito está na ação de problematizar a noção de que a tecnologia é inerte e bastaria a intencionalidade do homem para definir o seu aspecto valorativo e seus efeitos; ou seja, que determinar, grosso modo, o efeito da tecnologia na saúde, dependeria apenas da conscientização do homem para que ele faça a melhor escolha de como se utiliza a tecnologia.
Em que pese que educação tecnológica se faz relevante, há que se considerar que a materialidade da técnica tem tal peso sobre a vida social que a nossa intencionalidade é afetada. Ou seja, quando um feed de uma rede social é projetado para ser infinito, de modo que a escolha de sair daquela rede fique dificultada, estamos falando de um objeto cuja configuração factual tem impacto importante e relevante na escolha.
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