46652 - ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIAS NA PANDEMIA DE COVID-19: IMIGRANTES NA CIDADE DE SÃO PAULO À LUZ DE MARCADORES SOCIAIS DAS DIFERENÇAS. ALEXANDRA CRISTINA GOMES DE ALMEIDA - UNIFESP, MARIÁ LANZOTTI SAMPAIO - UNIFESP, NÍCOLAS NEVES DOS SANTOS - UNIFESP, CRISTÓBAL EMILIO ABARCA BROWN - UNIFESP, WILSON NASCIMENTO ALMEIDA JUNIOR - UNIFESP, REGINA YOSHIE MATSUE - UNIFESP, SILVIA REGINA VIODRES INOUE - PROCESSOS MIGRATÓRIOS INTERNACIONAIS E SAÚDE COLETIVA (PROMIGRAS/UNIFESP)), CÁSSIO SILVEIRA - FCMSCSP - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO, DENISE MARTIN COVIELLO - UNIFESP
Apresentação/Introdução Em maio de 2023 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à Covid-19. Contudo, a pandemia ainda repercute na vida social, sendo mais agravantes sobre determinados grupos, como imigrantes. O fato da pandemia ter começado em Wuhan (China) e o fechamento de fronteiras ter sido uma das primeiras profilaxias para a contenção da propagação do vírus, estes fatores impulsionaram oratórias anti-imigração e produziram violências invisibilizadas e visibilizadas sobre imigrantes, a exemplo de associá-los a vetores de transmissão do vírus. As ações de isolamento social intensificaram também os marcadores sociais de gênero, sexualidade, nacionalidade, raça e classe porque impossibilitou de imigrantes trabalharem como autônomos, paralisou fluxos de reunião familiar, serviços de câmbio foram fechados afetando a circulação de renda de famílias transnacionais, além de relatos de preconceitos no acesso à atendimento hospitalar.
Objetivos Analisar os impactos da pandemia sobre a saúde imigrantes residentes na cidade de São Paulo à luz dos marcadores sociais da diferença: gênero, raça/etnia e classe social.
Metodologia O estudo qualitativo integra o projeto “Acesso à saúde e vulnerabilidades de imigrantes internacionais no contexto de disseminação da COVID-19: uma pesquisa interinstitucional em rede colaborativa”, com apoio FAPESP e CNPQ. A pesquisa coletou dados de 14 entrevistas semiestruturadas com imigrantes da Bolívia, Haiti e Venezuela residentes em São Paulo, entre outubro e dezembro de 2022. Os critérios de seleção foram: a) maiores de 18 anos; b) residirem no Brasil durante a pandemia. A análise de dados tem como fundamento teórico marcadores sociais da diferença. Pois, esse campo de estudo auxilia na compreensão de construções sociais particulares de determinados contextos específicos, favorecendo a elucidação de como o confinamento e a posterior situação de crise sanitária impactou a vida de imigrantes no acesso à saúde.
Resultados e discussão O isolamento social ao limitar o acesso à renda e restringir oportunidades laborais, fragilizou a garantia de moradia e reduziu as possibilidades de adoção das medidas de proteção sanitária por parte de grupos de imigrantes. Pois, tanto os dados da pesquisa quanto outros estudos indicaram condições precárias de moradia como: residência em cortiços, oficinas de costura, centros de acolhidas e, inclusive, em situação de rua. Consequentemente, se intensificou vulnerabilidades, discriminação racial e social sobre imigrantes de baixa renda na cidade de São Paulo. Ademais, o país apresentou frágeis políticas públicas no enfrentamento da Covid-19, como a aprovação do benefício emergencial para famílias vulneráveis que, nos primeiros cadastros, a plataforma digital exigia documentos brasileiros, excluindo imigrantes, indocumentados ou quem havia recém chegado ao país. Esse episódio contribuiu para um cenário caótico, afetando a população como um todo. E mais severamente os grupos de imigrantes, pois parte das pessoas entrevistadas relataram que o não acesso ao benefício social incidiu em insegurança alimentar.
Conclusões/Considerações finais Os marcadores sociais da diferença impactaram a realidade de imigrantes e delimitaram os direitos humanos no acesso à saúde e na integração. Pois, ao interseccionar gênero, nacionalidade, raça e classe social, os dados destacam que as mulheres experienciaram sobrecarga de trabalho com o fechamento das escolas, barreiras linguísticas e culturais nos processos educacionais online das crianças e no cuidado em saúde no ciclo gravídico puerperal, resultando em violência obstétrica ligada à xenofobia. Já a intersecção entre os marcadores xenofobia e raça, atravessados por elementos sócio-históricos da colonização brasileira, influenciou novas formas de exclusão e segregação de diferentes grupos de imigrantes, reforçando estereótipos limitantes a integração, subjetividade e de potência de vida de imigrantes. Afinal, foram recorrentes os discursos de ódio nos meios digitais nacionais, com brasileiros contrários à inclusão de imigrantes no benefício emergencial, além de acusações de sobrecarregarem o sistema de saúde. Em algumas entrevistas, imigrantes relataram o sentimento de insegurança em razão da xenofobia na pandemia. Portanto, a crise sanitária acirrou a deslegitimação de vida e exclusão social de imigrantes, alterando as concepções sobre adoecimento, os diversos modos de lidar com a saúde e a doença no processo migratório.
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