Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO23.1 - Práticas emancipatórias: agências e políticas I

46832 - SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DE ADOLESCENTES MIGRANTES VENEZUELANAS QUE MORAM NO BRASIL: ANÁLISE QUALITATIVA DE BARREIRAS E FACILITADORES
LEIDY JANETH ERAZO CHAVEZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, LARISSA DA COSTA VELOSO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, LAURA FROES NUNES DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, ANA MARIA RAMOS GOULART - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, RUTH HELENA BRITTO FERREIRA DE CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, NATALIA CINTRA - UNIVERSITY OF SOUTHAMPTON, PIA RIGGIROZZI - UNIVERSITY OF SOUTHAMPTON, ZENI CARVALHO LAMY - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Apresentação/Introdução
Venezuela atravessa uma crise econômica, política e social que traz como consequência grandes iniquidades sociais, fazendo que sua população seja obrigada a migrar a países vizinhos como o Brasil. As mulheres, especialmente as adolescentes, em situação de migração forçada enfrentam situações de vulnerabilidade por riscos e precariedades que afetam seriamente sua saúde, sobretudo sua saúde sexual e reprodutiva (SSR). Marcadores sociais como gênero, idade, classe social, sexualidade e no caso de migrantes, status migratório, acentuam fragilidades em termos de saúde, integração e acesso a serviços em países de acolhida.

Objetivos
Este estudo teve como objetivo compreender as barreiras e facilitadores para a SSR de mulheres adolescentes venezuelanas que moram no Brasil.


Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo realizado, entre 2020 e 2022, com 19 mulheres adolescentes venezuelanas que residiam nas cidades de Manaus e Boa Vista no Brasil. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas e histórias de vida, abordando questões sobre migração, adaptação ao novo contexto e SSR. A coleta de dados começou durante a Pandemia de Covid-19, portanto, as entrevistas iniciais foram realizadas através do Google Meet e após a flexibilização do isolamento social foram realizadas entrevistas presenciais. Os dados foram codificados e processados com apoio do software NVivo e analisados por meio da modalidade de análise de conteúdo temático, norteada pelo Modelo Bioecológico proposto por Bronfenbrenner (1979).

Resultados e discussão
Participaram do estudo 19 adolescentes, destas 17 se declararam mulher cisgênero e 2 mulher transgênero. A idade das participantes variou entre 14 aos 19 anos, tendo como cidade de moradia Manaus (15) e Boa Vista (4). No momento da entrevista, 11 não tinham gestado, 4 adolescentes estavam grávidas, e 2 já tiveram filhos. Foram explorados cinco temas principais relacionados à SSR nas falas das participantes do estudo, entre eles, Menstruação, Planificação Familiar (PF) e Métodos contraceptivos, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), nas adolescentes gestantes ou com filhos foi abordada a assistência ao pré-natal, parto e puerpério e nas adolescentes transgênero o tema da transexualidade e da hormonioterapia. Com o suporte do Modelo Bioecológico foram identificados barreiras e facilitadores para cada sistema do desenvolvimento dentre esses cinco temas. As principais barreiras identificadas foram a falta de conhecimento sobre SSR, crenças pessoais, dificuldades financeiras, falta de suporte social, exposição a situações de violência, idioma, falta de acesso a serviços de saúde, estigmatização e discriminação. Por outro lado, foram identificados como facilitadores interesse em temas relativos a SSR, suporte familiar, educação sobre SSR na família na escola, ações de promoção e prevenção promovidas por serviços de saúde, ONGs e organismos internacionais, a procura e acesso a serviços, bom relacionamento com os profissionais e trato igualitário nos serviços de saúde. A SSR é um direito humano, no âmbito da migração forçada, a garantia desse direito é essencial. Este estudo apontou a necessidade de políticas, programas e estratégias, voltadas para adolescentes migrantes, que fomentem o conhecimento em matéria de métodos contraceptivos, PF, IST e menstruação. Ademais, para as adolescentes grávidas a promoção do acesso à assistência à gestação e ao parto e a hormonioterapia para adolescentes transgênero. As famílias e escola foram identificados como os principais vetores para transmissão de conhecimento. Assim, sensibilizar pais de família, docentes e diretivos das escolas sobre a necessidade de afiançar esses temas nas adolescentes é fundamental para minimizar barreiras. Adicionalmente fornecer orientação para que essas informações sejam pautadas em evidências científicas, com mensagens claras e sem vieses religiosos e morais. No estudo identificou-se que os serviços de saúde, ONGs e organismos internacionais realizaram ações de promoção e prevenção que facilitam o acesso à informação sobre SSR e métodos contraceptivos, no entanto, foram ações isoladas e que podem se tornar repetitivas e pouco efetivas. A necessidade de ações intersetoriais, coordenadas e integrais podem facilitar o acesso efetivo das adolescentes. O idioma e trato discriminatório foi uma das barreiras no acesso a serviços de saúde, os trabalhadores de saúde devem ser sensibilizados e orientados para o trabalho com populações migrantes tendo em consideração os marcadores sociais de gênero, idade, classe social e nacionalidade.

Conclusões/Considerações finais
Estados receptores devem promover políticas, programas e serviços focados na população de adolescentes migrantes, que além de garantir o acesso a métodos anticoncepcionais, absorvente e informação sobre a prevenção de ITS possa fornecer espaços de diálogo e orientação sobre SSR desde una perspectiva ampliada, baseada nos direitos sexuais e reprodutivos.