Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.1 - Saúde mental, determinantes sociais e práticas emancipatórias

47999 - HISTÓRIA DE VIDA DE OUVIDORES DE VOZES: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA TEORIA DA DETERMINAÇÃO SOCIAL
VICTÓRIA DE BIASSIO KLEPA - UFPR, RENATA BELLENZANI - UFPR


Apresentação/Introdução
O presente estudo consiste em um projeto de pesquisa do mestrado acadêmico vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná, o qual pretende analisar por meio de uma investigação teórico-bibliográfica a determinação/etiologia da audição de vozes. Para tanto, será utilizado do campo da Saúde Coletiva articulado ao paradigma de Atenção Psicossocial, a Teoria da Determinação Social do Processo saúde-doença como fundamentos teórico-metodológicos para análise e fundamentação teórica dos dados obtidos.
A experiência de ouvir vozes não é algo recente. Há muito tempo, na história, são relatados casos de pessoas que passam por essa experiência. Como aponta Couto e Kantorski (2018), existem exemplos que datam de vários milênios e muitas vezes foram associados à espiritualidade, criatividade e insight filosófico, graças ao fato de ter acontecido com pessoas altamente reconhecidas pela sociedade (WOODS, 2013 apud COUTO; KANTORSKI, 2018). Em vista do ganho de maior relevância do tema e de um crescimento do número de pesquisas realizadas, sabe-se que apesar das pessoas que possuem diagnóstico de esquizofrenia ouvirem vozes, boa parte dos ouvidores não possui o transtorno, sendo considerados muitas vezes indivíduos saudáveis que não utilizam serviços de saúde mental (RITSHER ET AL., 2004 apud COUTO, KANTORSKI, 2018). A partir dessas investigações tornou-se necessário desenvolver alternativas para lidar com este fenômeno. De modo que fosse possível dar conta de todos os sentimentos negativos relacionados a essa experiência, como a angústia, o estresse, a desvalia e a incapacidade. É com esse intuito que tanto ouvidores de vozes como os profissionais de diferentes áreas da saúde vêm trabalhando no Movimento de Ouvidores de Vozes, na intenção de construir referenciais para apresentar que a audição de vozes não seja necessariamente vista como sintoma biomédico, mas passe a ser compreendida como uma experiência humana (COUTO, KANTORSKI, 2018).

Objetivos
Assim, a pesquisa tem como objetivo geral elucidar os processos pelos quais se configura a determinação social da saúde mental de ouvidores de vozes através da identificação de aspectos no campo da particularidade e da história de vida, que acabam levando a uma maior produção de adoecimento psíquico. Este estudo consiste em uma revisão de literatura, com base nos descritores alucinações, etiologia, ouvidores de vozes. Nota-se a necessidade de pesquisas que elucidem quais são, e como manejar as determinações mais gerais da realidade social da classe trabalhadora brasileira (com recortes de gênero, faixa etária/geração, cor/etnia, inserção profissional) que atuam na produção dos processos de saúde-doença.

Metodologia
A etapa na qual o estudo se encontra consiste na realização de um levantamento e identificação de fontes para composição de acervo de publicações. Assim, foi realizada uma revisão de literatura utilizando os descritores “alucinações/etiologia” e “ouvidores de vozes” e seus correlatos em português, inglês, espanhol, aplicados em quatro bases de dados: Portal de pesquisa BVS, Embase, Scopus e Pubmed. Após a leitura de títulos, obteve-se o total de 400 artigos que abordaram o tema relacionado às determinações ou etiologia do fenômeno de audição de vozes. A leitura dos resumos está sendo realizada. O presente projeto de pesquisa foi aprovado pelo CEP/SD/UFPR, no entanto ainda está em tramitação no Comitê de Ética em Pesquisa da SMS de Curitiba.


Resultados e discussão
Os resultados poderão contribuir com a produção de conhecimento para o aprimoramento das políticas de saúde mental, com vias à proteção e promoção da saúde mental e do desenvolvimento humano integral. Mediante maior compreensão da determinação social da saúde-doença mental entende-se que o estudo pode contribuir também para mudanças nas atuações multiprofissionais, por exemplo no fortalecimento das práticas de cuidado na rede de atenção psicossocial e intersetorial.

Conclusões/Considerações finais
Na sociedade capitalista há um conjunto de condições postas que incitam situações de insegurança e desamparo, além dos significados sociais estigmatizantes sobre a loucura, o que possibilita formular a hipótese da relação disto com a vivência das vozes como ameaçadoras, controladoras, intrusivas, punitivas. Nota-se que experiências de grupos de ajuda mútua possibilitam a construção de espaços mais coletivos, com ampliação da rede de apoio, construção de espaços de pertencimento e escuta das vozes. Este trabalho visa contribuir com o campo de pesquisa em saúde coletiva, em defesa de um projeto antimanicomial nas políticas e práticas em saúde mental e coletiva.