01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO27.1 - Epidemiologia intercultural em Debate |
45966 - FEITIÇO DA ONÇA E TUBERCULOSE: RELATO DE EXPERIÊNCIA MARIZA QUÉRCIO MACHADO - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE / FIOCRUZ AMAZÔNIA, JÚLIO CESAR SCHWEICKARDT - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE / FIOCRUZ AMAZÔNIA
Contextualização Saúde e doença têm percepções diversas em meio diversidade cultural e étnica do Brasil. Essas percepções foram mudando ao longo do tempo de acordo com o conhecimento do corpo e a incorporação de novos conhecimentos da biomedicina . O modelo hegêmico na saúde está baseado numa percepção biomédica, de caráter mecanicista. . No entanto, há outros tipos de medicina praticada nos territórios indígenas, com uma compreensão de cuidado , a saúde e doença que foram aprendidos de modo oral e pela ancestralidade, com uma forte conotação coletiva e relacional com o ambiente. Nesse sentido, trazemos a compreensão do povo Ticuna, da região do Alto Rio Solimões, estado do Amazonas, sobre a tuberculose. A interpretação dada para a doença é que a sua origem se dá pelo feitiço da onça, quando uma pessoa lança espiritualmente contra outa pessoa. O indivíduo atacado acredita que quando dorme uma onça o encontra e a mesma arranha sua garganta fazendo que haja tosse, emagrecimento, apatia e perda de peso (sinais e sintomas da tuberculose).
Descrição O relato de experiência trata-se da vivência com a população Ticuna no período de gestão do programa de controle da tuberculose no Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Solimões (DSEI ARS) entre 2011 a 2019. Os casos positivos de tuberculose detectados nas comunidades indígenas pela equipe multidisciplinar de saúde indígena (EMSI) seguiam o protocolo de tratamento e acompanhamento preconizados pelo ministério da saúde. Na sua maioria realizavam o tratamento diretamente observado (TDO) pelos agentes indígenas de saúde (AIS), e mensalmente realizavam consultas de enfermagem e médica de acompanhamento, assim como exames de controle no Pólo base de atenção à saúde indígena do DSEI ARS .Contudo, os indígenas também poderiam buscar o tratamento da medicina indígena realizado pelo Pajé . O tratamento é individualizado e restrito ao indígena e ao Pajé. Nesse período realizamos o trabalho no Programa de controle da tuberculose no DSEI ARS.
Período de Realização Período de 2011 á 2019
Objetivos Relatar a abordagem intercultural da medicina indígena e a medicina ocidental como uma estratégia de tratamento bem sucedida em área indígena .
Resultados O tratamento da tuberculose é longo dependendo da forma , se pulmonar ou extrapulmonar pode durar em média seis meses ou mais. A abordagem intercultural favorece uma maior adesão ao tratamento da tuberculose.
Aprendizados Este tipo de abordagem aproxima as práticas culturais e possibilita o diálogo e a sensibilização sobre a necessidade da tomada da medicação não indígena e concomitante, o tratamento com pajé pode ser feito sem nenhuma interrupção.
Análise Crítica Ter uma equipe multidisciplinar que respeite e trabalhe de modo intercultural é essencial em área indígena, pois a cultura ticuna é muito viva, é a língua mais falada no Brasil, segundo o censo do IBGE (2010). Isso nos mostra a força dos seus costumes, sabedorias, seu modo de expressar os seus saberes e práticas de saúde . Assim, se faz necessário descolonizar o pensamento dos profissionais que atuam em área indígena, pois todo exercício da medicina indígena faz parte da vida e do mundo indígena.
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