Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO28.1 - Igualdade de gênero e direito humano à alimentação adequada: veto ou impulso à gênese do

47747 - VIOLÊNCIA ANTI-GÊNERO EM MEIOS DIGITAIS, 2018-2020
HORACIO FEDERICO SIVORI - CLAM/IMS/UERJ, LORENA MOCHEL - PPGAS/MN/UFRJ E CLAM/IMS/UERJ


Apresentação/Introdução
Para a ultra-direita, a moralidade sexual, o gênero e a racialização operam uma gramática política fundamental. A mobilização anti-gênero, além de obstaculizar o acesso a direitos, conduziu a um auge das violências contra feministas, pessoas LGBT+, negras e negros, indígenas e habitantes de periferias e as redes sociais digitais viraram o palco fundamental para uma hostilidade generalizada contra essas categorias. A nossa pesquisa investiga as respostas coletivas a essa hostilidade no âmbito em plataformas de mídia social como Facebook, Twitter e Instagram.

Objetivos
Na pesquisa analisamos controvérsias motivadas por discursos anti-gênero em redes de Twitter e de Instagram entre 2018 e 2020, ou seja, quando Bolsonaro se elegeu e no primeiro ano da sua presidência e do auge do seu negacionismo da covid 19. Nosso foco foram as respostas coletivas produzidas tanto por entidades da sociedade civil, quanto as geradas nas próprias redes digitais pelos contrapúblicos que são alvo dessas violências.

Metodologia
Fizemos uma imersão etnográfica em várias plataformas onde acompanhamos redes anti-direitos e também as pró-direitos. Utilizamos métodos digitais de pesquisa para construir casos através de coletas no Twitter. Reconstruímos a denominada ‘rede de escuta’ formada a partir de dizeres do Presidente Bolsonaro, como “deixem de ser um país de maricas” e “máscara é coisa de viado”. Aplicamos um questionário online autoadministrado e fizemos entrevistas em profundidade onde indagamos acerca do uso da internet, engajamento feminista e LGBT e experiências de violência online. Fizemos também um levantamento de guias, cartilhas e relatórios de pesquisa sobre discursos de ódio e violência de gênero online, elaborados por organizações da sociedade civil. Emerge dessa produção, como categoria chave, a “violência política de gênero”.

Resultados e discussão
Nos achados da pesquisa de campo destaca-se a gestão de um clima de hostilidade generalizada, que passou a fazer parte do cotidiano da troca com parentes, colegas e amizades com quem se mantém contato através do Facebook, o grupo WhatsApp da família extensa, do escritório, da escola e da igreja. Nesses âmbitos, a polarização política exacerbada pela economia algorítmica e pela própria mediação digital habilitou a retirada do véu da cordialidade. Assim, a reverberação de disputas públicas revelou rotineiramente o racismo, a misoginia e a homo-lesbo-transfobia no cotidiano mais íntimo.
Entretanto, a recepção das agressões não é passiva. Os roteiros online passaram a incorporar formas variadas de lidar com a violência, adaptadas às diferentes plataformas. Por um lado, o cenário observado é contemporâneo da atual ‘maré feminista’, cuja massividade foi em grande medida possibilitada pelo uso de tecnologias digitais e das redes sociais. E a resposta coletiva à violência de gênero tem sido um dos motores principais destas movimentações. Por outro lado, assim como as redes sociais têm sido fundamentais para a desinformação e em particular para o negacionismo da covid 19, as tecnologias digitais também foram apropriadas para a resistência a esses discursos. As respostas feministas à violência online se dão em diferentes planos, mencionados a seguir:
Os atores organizados da sociedade civil denunciam a ineficácia dos marcos legais vigentes e a falta de responsabilização das grandes plataformas pela proteção contra violências cada vez mais intensas. Além de denunciar, as e os internautas engajam os discursos de ódio ativamente, expressam sua revolta e se apropriam criativamente dos recursos tecnológicos que as plataformas oferecem, frequentemente por meio da ironia. Nesta resistência são cultivadas também redes de cuidado coletivo, algumas mais institucionalizadas, onde prima o clima de solidariedade na luta que permeia a maré feminista. Existe também um importante investimento na produção e circulação de conhecimento, através de pesquisas, ativismo e jornalismo digital.

Conclusões/Considerações finais
Estas respostas dão conta de uma aguda consciência das formas como a violência online é atravessada por eixos de desigualdade. Não apenas por se tratar de violências baseadas no ódio e no preconceito e pelas formas de dominação que elas representam, mas também por conta da desigualdade no acesso à tecnologia. Evidenciam-se deste modo transformações nas formas como os feminismos brasileiros entendem e produzem conhecimento sobre a violência online. Os feminismos contemporâneos desenvolveram uma compreensão interseccional de como a violência de gênero e a violência política são marcadas pela homo-lesbo-transfobia, a misoginia e o racismo. O marco interpretativo da interseccionalidade tem sido uma poderosa ferramenta para visibilizar sujeitos e criar solidariedades e formas coletivas de resistência.