01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO29.1 - Discursos científicos pandêmicos e os paradoxos que nos rondam |
46835 - A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE: CARTOGRAFIAS DE UM AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL EM NITERÓI PRISCILA DA SILVA MONTEIRO - ISC-UFF, MÁRCIA GUIMARAES DE MELLO ALVES - ISC-UFF
Apresentação/Introdução Os designados transtornos de ansiedade têm elevada prevalência na população no Brasil e no mundo. Observa-se, frequentemente, que as abordagens terapêuticas utilizadas nos serviços de saúde para lidar com os sintomas de tais transtornos, por vezes, reproduzem a medicalização da vida, pois, tanto profissionais quanto usuários enfatizam a abordagem médica com uso de medicamentos como prioritária nestes casos, deixando de lado os fatores desencadeadores de uma possível ansiedade. Este foi o pressuposto da pesquisa realizada em um ambulatório de saúde mental, em Niterói, Rio de Janeiro, em 2022.
Objetivos Analisar as práticas de cuidado produzidas em um ambulatório de saúde mental para avaliar se elas reproduzem e, de que forma, a medicalização como direção terapêutica para os usuários atendidos neste serviço.
Metodologia Na produção do caminho metodológico, utilizou-se como recursos: entrevista livre, acompanhamento longitudinal de duas usuárias em tratamento para transtorno de ansiedade e grupo focal com trabalhadores que realizam atendimentos, para discussão sobre as práticas de cuidado realizadas. A cartografia foi a ferramenta metodológica para descrever e analisar os saberes, práticas e afetos envolvidos no modo de produção do cuidado neste ambulatório, tendo o diário de campo também como instrumento para analisar as vivências como pesquisadora e trabalhadora de saúde mental.
Resultados e discussão Os dados empíricos analisados indicaram que as usuárias entrevistadas e acompanhadas no ambulatório tiveram como primeira intervenção terapêutica o uso de medicamentos para o transtorno de ansiedade. No serviço, antes da prescrição da medicação, não foram contextualizadas a origem das crises de ansiedade e seus desdobramentos na vida das usuárias. Os recursos terapêuticos envolviam, em um segundo momento, o acompanhamento psicológico, porém, não incluindo as usuárias, sua comunidade e a rede de serviços disponíveis no município. Na análise dos discursos e afetos presentes na pesquisa, observou-se que as dificuldades e mal-estares das usuárias faziam parte dos desafios, ainda mais complexos pós-pandemia, inerentes à vida na sociedade capitalista. Tais usuárias possuíam papéis sociais de trabalhadoras e cuidadoras de familiares, sofrendo pressões para a execução de suas tarefas com perfeição. No grupo focal dos trabalhadores, destacou-se as dificuldades de propor novas práticas de saúde, para além dos atendimentos médicos, pela precariedade da rede de serviços de saúde e o desafio de pensar formas de cuidado inovadoras que incluam o usuário e os recursos presentes no território.
Conclusões/Considerações finais As impressões analisadas, de acordo com a cartografia, apresentam discursos, afetos e práticas, indicando que casos de ansiedade são tratados, prioritariamente, com medicamentos, sem considerar contexto social e histórico dos usuários. Os resultados apontam que profissionais são limitados em suas práticas de cuidado por falta de apoio institucional e pressão social pelo saber médico e prescrição de medicamentos para diversos males da vida.
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