Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO31.1 - Pesquisas da saúde e direitos humanos das e com as comunidades atingidas

47564 - VULNERABILIZAÇÕES NO DERRAMAMENTO DE PETRÓLEO E PANDEMIA DA COVID-19, NAS POPULAÇÕES DAS ÁGUAS EM MUNICÍPIOS DO LITORAL DE PERNAMBUCO.
ANA MARILIA CORREIA CAVALCANTI - FIOCRUZ / PE, GLACIENE MARY DA SILVA GONÇALVES - FIOCRUZ / PE, MARIANA OLÍVIA SANTANA DOS SANTOS - FIOCRUZ / PE, JOSÉ ERIVALDO GONÇALVES - FIOCRUZ / PE, MARIA JOSÉ CREMILDA FERREIRA ALVES - FIOCRUZ / PE, JEFFERSON PHELLIPPE WANDERLEY FLORENCIO - FIOCRUZ / PE, AUGUSTO FERNANDO SANTOS DE LIMA - FIOCRUZ / PE, THAYNÃ KAREN DOS SANTOS LIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, EGEVAL PEREIRA DA PAZ NETO - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, IDÊ GOMES DANTAS GURGEL - FIOCRUZ/PE


Apresentação/Introdução
Os desastres tecnológicos podem provocar diversos processos de vulnerabilização produzindo contextos de riscos e perigos à saúde humana e ao ambiente. Esse contexto é subdimensionado pelo modelo desenvolvimentista que está relacionado ao modelo de produção capitalista da utilização da matriz energética de fontes não renováveis como o petróleo. Em agosto de 2019, manchas de petróleo de origem desconhecida atingiu Cerca de 1.000 km da costa brasileira, afetando mais intensamente as regiões do Nordeste, alcançando seus nove Estados. Dentre os grupos mais afetados pelo desastre estão os pescadores (as) artesanais, que se expuseram tanto na atividade voluntária para a remoção do petróleo das praias, quanto via exposições ocupacionais, ambientais e dietéticas. Em todo Nordeste o derramamento de petróleo transformou as relações sociais e ambientais em territórios de comunidades tradicionais. Enquanto essa população ainda sente os efeitos do desastre do petróleo, o Brasil e o mundo sofrem com a pandemia do novo coronavírus, esse cenário aponta para o aprofundamento do sofrimento, exigindo ações imediatas para reforçar a proteção social desses grupos.

Objetivos
Esta pesquisa possui como objetivo analisar as vulnerabilizações socioambientais relacionadas ao derramamento de petróleo e a Covid-19 das populações das águas no litoral pernambucano.

Metodologia
O estudo utilizou a abordagem teórico-metodológica da reprodução social e a saúde formulada por Samaja e tem como objetivo analisar as vulnerabilizações socioambientais no desastre de petróleo e na pandemia da Covid-19, em municípios pernambucanos. Trata-se de estudo analítico, qualitativo, com coleta de dados secundários (literatura científica e documentos) e primários (entrevistas semiestruturadas, grupos focais, mapeamentos participativos, inquérito epidemiológico) coletados pela equipe de pesquisa do projeto Desastre do petróleo e saúde dos povos das águas. Considerou como sujeitos da pesquisa os pescadores (as) dos municípios do litoral de Pernambuco. A partir da sistematização dos dados, foram organizados segundo as dimensões da reprodução social: Biocomunal; Consciência e conduta; Técno-econômico; Ecológica; e, Política. O estudo aconteceu entre outubro de 2021 a janeiro de 2023.

Resultados e discussão
Na reprodução política foi evidenciada a omissão do Estado e o descumprimento de algumas leis e regulamentação, que interconectam a longa exposição dos voluntários ao petróleo durante a limpeza das praias e produção de vulnerabilizações. Ficou nítido o contexto de negação dos direitos à saúde dos trabalhadores expostos, a natureza das ações foram exclusivamente mitigatórias. Na reprodução ecológica foi percebido o contexto de deterioração do ecossistema costeiro tropical marinho, a mudança na paisagem no território foi evidenciada em decorrência do processo de degradação ambiental, levando ao enfraquecimento do lugar, com grandes consequências para a compreensão da cultura, do conhecimento, da natureza e da economia. Na área da autoconsciência e conduta, ficou comprovado os prejuízos culturais relacionados à transmissão familiar do conhecimento acerca da pesca artesanal, que ocorre de mãe e pai para os filhos e filhas. No âmbito da reprodução tecno-econômica foi analisado que o uso do petróleo como matriz energética, não atende aos princípios da promoção da saúde e sustentabilidade dos ecossistemas. Entre outros meios de poluição, destacam-se a contaminação das águas, do ar e do solo. Já na reprodução biocumunal, agravos à saúde e adoecimentos como as queixas de tonturas e dores pelo corpo foram observadas e notificadas. Pescadores (as) foram expostos e expostas por longo tempo às substâncias capazes de produzir intoxicações agudas, e transtorno de estresse pós-traumático pós-derramamento. A participação na limpeza de áreas afetadas por derramamentos de petróleo é uma das variáveis mais analisadas nos estudos referentes aos impactos na saúde mental de populações atingidas devido ao grau de exposição direta ao petróleo nessas atividades. Todas essas questões foram agravadas durante a pandemia de Covid 19, com destaque para a pauperização comunitária, visto que, os pescadores/as não conseguiam comercializar o que pescavam, pois devido ao isolamento social a sociedade ficou impedida de sair de suas casas.

Conclusões/Considerações finais
Por fim, a utilização do petróleo como matriz energética encontra-se interrelacionado aos interesses da economia globalizada. Mesmo sendo regulamentado, a utilização do petróleo ameaça o lugar de vida de todos, acarreta processos extremos de poluição, vulnerabiliza populações e produz injustiças ambientais nos territórios. O cenário socioambiental determinado pelo desastre tornou-se mais desafiador diante da pandemia de covid 19, influenciando fortemente na determinação social do sofrimento mental entre os pescadores artesanais do litoral de Pernambuco.