47736 - AGROECOLOGIA VERSUS AGRONEGÓCIO: UMA EXPERIÊNCIA DE VIGILÂNCIA POPULAR DA SAÚDE FRENTE AOS IMPACTOS DO AGRONEGÓCIO EM UMA REGIÃO DO SEMIÁRIDO CEARENSE, NORDESTE DO BRASIL ANA CLÁUDIA DE ARAÚJO TEIXEIRA - FIOCRUZ CEARÁ, FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ CEARÁ, SAULO DA SILVA DIÓGENES - UFC, FLORA VIANA ELISEU DA SILVA - FIOCRUZ CEARÁ, ALINE DE SOUSA MAIA - FAFIDAM/UECE, REGINALDO FERREIRA DE ARAÚJO - MOVIMENTO 21, LUIZ RONS CAÚLA DA SILVA - SMAC
Apresentação/Introdução O modelo de produção do agronegócio é responsável por inúmeros impactos socioambientais e à saúde humana, especialmente pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, sendo o Brasil considerado um dos maiores consumidores desses produtos no mundo. Por outro lado, sistemas de produção agrícola que se baseiam em princípios ecológicos e sustentáveis, a exemplo da agroecologia, têm sido desenvolvidos em algumas regiões trazendo grandes benefícios para as comunidades locais e para os ecossistemas.
Objetivos Este trabalho objetiva descrever os indicadores de Vigilância Popular da Saúde (VPS) referentes aos impactos causados pelo agronegócio à experiência de base agroecológica “Comunidade que Sustenta Agricultura – Meu Quintal em sua Cesta”.
Metodologia Esta experiência situada na Chapada do Apodi, Tabuleiro do Norte-CE foi cadastrada pela Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte-CE e pelo Movimento 21 (M21), por meio de formulário eletrônico, na pesquisa-ação “Vigilância Popular da Saúde, Ambiente e Trabalho: comunidades, Sistema Único de Saúde e pesquisadores na defesa da vida de populações vulnerabilizadas por meio de um participatório”. Foi realizada uma pesquisa de campo na Chapada do Apodi, em junho de 2022, para refletir sobre aspectos relevantes da experiência; proporcionar diálogos e discutir os conceitos e práticas de VPS na visão dos sujeitos da experiência e elaborar plano de ação de VPS voltado para os problemas do território. A pesquisa de campo consistiu em uma vivência territorial, com dois momentos: um percurso pelo território para conhecer as famílias agricultoras, seus quintais agroecológicos, as tecnologias sociais de convivência com o semiárido, e roda de conversa com as comunidades, além de uma oficina territorial de pesquisa-ação para reflexão sobre a experiência de VPS. Participaram do percurso e da oficina territorial de pesquisa-ação 51 pessoas do(a): Fiocruz Ceará, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos/UECE, Movimento 21, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte-CE, associações de moradores da Chapada do Apodi, Escola Família Agrícola Jaguaribana, profissionais da Estratégia Saúde da Família, Centro de Referência em Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental - CERESTA Zé Maria do Tomé, Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Ceará.
Resultados e discussão Os participantes da oficina identificaram como indicadores de vigilância popular relacionados aos impactos do agronegócio: a morte de abelhas por veneno, velocidade de instalação dos empreendimentos, cercamento das áreas utilizadas para apicultura e criação dos animais soltos, diminuição do emprego, migração de mão de obra externa ao território, poluição sonora, uso de drones pelo agronegócio, forte odor de veneno e outros insumos usados pelo agronegócio, famílias desterritorializadas, desmatamento em larga escala com grandes correntes e tratores, canais de água da adutora passando por dentro do perímetro de irrigação, acentuação da falta de água. Em contraponto, ressalta-se os indicadores do bem-viver identificados no percurso pelo território e nas rodas de conversa com as famílias: Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) – Meu Quintal em sua Cesta, quintais produtivos agroecológicos, tecnologias sociais de convivência com o semiárido, apicultura, Criação de animais e conquista da terra (Acampamento Zé Maria do Tomé do MST). O plano de ação teve como foco os problemas do território, as dificuldades e como superá-las, as conquistas e potencialidades do território a fim de expandi-las, além de ações para fortalecer e dar continuidade a experiência de VPS. As discussões acerca do plano de ação foram apresentadas em plenária e os participantes elegeram sete ações prioritárias: acompanhar dados de saúde das famílias perto dos plantios da empresa; análise de agrotóxico na água da adutora; análise do solo, ar e insetos; criação de instrumentos de comunicação popular e fortalecimento das redes e iniciativas existentes; campanha para as famílias não venderem as terras para os empreendedores do agronegócio; cobrar do poder público por fiscalização ambiental; luta: acesso à água e à terra; como cobrar do órgão público fiscalização, garantia de permanência no território, fortalecer a campanha agrotóxico mata; ocupar espaços de controle social.
Conclusões/Considerações finais Observa-se o protagonismo das famílias agricultoras na construção da experiência de vigilância popular da saúde no que se refere à geração dos dados sobre os impactos do agronegócio, por meio de monitoramento participativo com o uso de tecnologias acessíveis e com a produção compartilhada de conhecimento. A experiência de VPS na Capada do Apodi realizada numa articulação entre a academia, o SUS, comunidades, movimentos sociais e entidades da sociedade civil, torna-a uma experiência exemplar que pode inspirar outras experiências no enfrentamento aos impactos de processos produtivos diversos, configurando-se em importante estratégia de promoção da justiça ambiental e de territórios mais saudáveis.
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