46468 - SOMOS 17 MILHÕES RENATHA DE CARVALHO MAIA - KINESIS, FERNANDA JORGE MACIEL - ESP-MG, GILBERTO DE LIMA GOULART - AUTÔNOMO
Processo de escolha do tema e de produção da obra A obra surge do encontro entre uma bailarina com deficiência, sua professora de dança e um cinegrafista e do incômodo sobre a invisibilidade das pessoas com deficiência. No Brasil, há aproximadamente 17 milhões de pessoas com deficiência e, a despeito das políticas públicas que ampliam o acesso aos diversos dispositivos educacionais, culturais, de saúde, de lazer etc., essas pessoas ainda experimentam situações de exclusão e de preconceito. Nesse contexto, este videodança é uma denúncia a essa invisibilidade, de distintas naturezas. O tema da deficiência parece ainda se encontrar, de forma restrita, na pauta de discussão entre aqueles que possuem deficiência. Além disso e, apesar dos avanços, é possível observar traços de exclusão na dita “inclusão” das pessoas com deficiência; o quanto os espaços institucionais de cuidado são influenciados pela necessidade de tornar “normais” os corpos desviantes; o quanto somos influenciados por um processo estruturante, chamado por McRuer (2021) de corponormatividade compulsória. Apesar de haver milhões pessoas com deficiência, não as vemos com frequência. Onde estão? Por que não circulam nos espaços cotidianos das cidades, nos espaços de conhecimento, de poder? Em que lugares são "incluídas"? Diante dessa invisibilidade, o videodança coloca o corpo em protagonismo, por meio da performance de uma bailarina com deficiência, que utiliza da improvisação em dança e da expressão artística, para movimentar o pensamento e os afetos em torno dos sentidos da deficiência e das práticas de cuidado. O vídeo possui duração aproximada de 10 minutos com texto e trilha sonora autorais.
Objetivos Provocar afetações e deslocar o pensamento sobre a invisibilidade da pessoa com deficiência, sobre as compreensões de deficiência e de inclusão e sobre as práticas reabilitadoras em saúde.
Ano e local da produção 2023, Belo Horizonte, Minas Gerais
Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso A obra realiza uma crítica à concepção da deficiência como doença, colocando em questão a imposição de normalização desses corpos "desviantes". O videodança aponta, dentre outros aspectos, como profissionais do campo da Saúde Coletiva, ao reproduzirem a necessidade de correção desses corpos, estão contribuindo para a invisibilização concreta e simbólica da maneira singular de existência das pessoas com deficiência. Essa situação também vem sendo apontada na literatura, na análise da relação entre o profissional da reabilitação e a pessoa com deficiência, em que cabe ao especialista minimizar os desvios e, ao paciente, investir no tratamento e na superação pessoal. Estudos vem problematizando como e se as práticas reabilitadoras consideram a subjetividade do paciente, a sua experiência da deficiência, e como a inserem no processo terapêutico. A narrativa biomédica de deficiência ainda é hegemônica, numa perspectiva de naturalização da lesão e de valorização de um referente de normalidade pouco alcançável pela maioria dos indivíduos. Essa percepção da deficiência atrelada à ideia de defeito, especialmente quando a deficiência é aparente, acentua barreiras para participação em atividades em diversos âmbitos da vida e provoca um estranhamento e um distanciamento em relação ao corpo com deficiência. Nessa direção, o videodança traz problematizações sobre o cuidado ofertado às pessoas com deficiência pelas instituições de reabilitação: o quanto esses espaços abrigam a narrativa biomédica, que naturaliza a deficiência? De que modo a reabilitação pode ser pensada numa perspectiva de criação de vida e não de correção do corpo? Como uma dança dissidente (não ancorada em padrões estéticos de dança) pode tensionar sentidos e compreensões sobre corpo e deficiência entre profissionais de saúde e pessoas com/sem deficiência? Por meio da metáfora do quantitativo imenso de pessoas com deficiência no Brasil, aborda-se a invisibilidade desse grupo e seu silenciamento frente às práticas de saúde desenvolvidas, hegemonicamente, no campo da Saúde Coletiva. Utilizando das palavras, da arte da dança e do cinema, a bailarina, e pessoa com deficiência, apresenta possibilidades para que o expectador reflita sobre tal invisibilidade e questiona sobre a construção de outros caminhos possíveis na saúde, por meio da arte e da aceitação da diferença na diferença.
Formatos e suportes necessários referentes à apresentação Equipamentos de áudio e vídeo que suportem a reprodução de vídeo em alta resolução
Breve biografia do autor Renatha Maia é pedagoga, mestranda em Educação, bailarina e professora de dança, diretora/fundadora da Kinesis Cia de Dança. Atuou na direção artística do videodança.
Fernanda Jorge Maciel é mestre em Saúde Pública, doutoranda em Educação, professora da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais e bailarina da Kinesis Cia de Dança. Foi autora do texto usado na obra e atuou como intérpre-criadora.
Gilberto Goulart é graduado em Letras, cinegrafista e editor de vídeos, especializado em registros e criações relacionados à dança. Atuou nos registros e edição das imagens e na composição da música usada no video.
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