Outras Linguagens

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
OL2 - Potencialidades e desafios das linguagens das fotografias e da escrita de memórias para pensar o cuidado como práxis decolonizadora

48178 - A ÉTICA-ESTÉTICA-POLÍTICA DE UMA SAÚDE DO CAMPO DECOLONIAL
ÉDER DOS SANTOS BRAZ - UFSC, THAIARA DORNELLES LAGO - UFSC


Processo de escolha do tema e de produção da obra
Este trabalho acontece a partir do Projeto Campo Comunica, do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na População do Campo (REMSFC), Universidade de Pernambuco (UPE). Nasce do encontro inquieto de uma farmacêutica residente e de um comunicador social. A documentação fotográfica aconteceu nos municípios pernambucanos de Caruaru, na Comunidade Rural Quilombola de Serra Verde; Garanhuns, no Ilè Asè Opò Òmí Kárè e nas Comunidades Rurais Quilombolas do Castainho, Estrela e Timbó. Também na experiência de estágio na comunidade do Vale do Capão, no município de Palmeiras, BA.
Nos sentimos movidos a partilhar das sutilezas do trabalho em saúde da família para além de números e procedimentos, produzidas através dos encontros e afetações cotidianas que se concretizam em gestos de cuidado (VIEIRA JUNIOR, 2019).
No encontro territorial e cotidiano com essas imagens do nosso povo camponês, nas derivas potentes que nos tatuam o peito, nos questionamos: estamos comunicando o que produzimos de saúde junto aos nossos territórios? Partilhamos a potência dessas imagens cor de terra? Essas que, dia após dia, encontramos nesse fazer-sus regado a estrada e lonjuras históricas, que tentamos encurtar com nossos passos pequenos e firmes? Essa nossa estética-ética-política de um cuidado feito a muitas mãos, que brota da terra e da sabedoria do nosso povo camponês? A partir dessas inquietações, nasce essa narrativa visual.

Objetivos
Documentar e visibilizar a experiência da REMSFC, através de um retrato sensível e afetivo do cotidiano de fazer saúde do campo.

Ano e local da produção
2020 a 2022, munícipios do agreste pernambucano (Caruaru e Garanhuns) e de Palmeiras - Bahia.


Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso
Já na sua concepção enquanto projeto voltado para realidade do campo, a REMSFC reconhece que é preciso ir além das fronteiras do próprio programa (UPE, 2015).
Conforme situa Ceccim (2021), a experiência ensina, o trabalho ensina e a residência é esse lugar de passagem, lugar movente, a terceira margem do rio que pode nos proporcionar um enfrentamento sensível e criativo. Assim nos convocou a criar memórias a partir do que a residência produziu durante a pandemia, para trazer o que vaza de nós do modo ou por onde precisarmos, seja um poema, uma foto, um vídeo ou uma escrita. Essa provocação vem no sentido das múltiplas linguagens (o digital, a arte, a brincadeira) que podem possibilitar esse encontro, esse comunicar o que nos atravessa, o que vaza de nós de maneira que a gente sobreviva, que a residência sobreviva. E uma vez que as residências sobrevivam, elas vão produzir potências de vida.
Chimamanda Adichie (2019) alerta que narrativas repetidas como histórias únicas, criam estereótipos que trazem uma visão limitada sobre determinada questão, reforçando uma invisibilidade que a história debruçada sobre uma narrativa hegemônica e colonial traz para as nossas comunidades. Há tantas outras histórias que desconhecemos e que na maioria das vezes, não encontram espaço para serem contadas. Por isso falar sobre histórias únicas é falar sobre poder, assim como no mundo econômico e político, a hierarquia capitalista tenta controlar quem pode contar, como pode contar e quantas histórias interessam a manutenção das estruturas sociais de poder.
Sendo a homogeneização um dos artífices da construção da história única, nossa inquietação pela construção de uma outra história sobre nós tem como ponto de partida o reconhecimento da heterogeneidade, diversidade e complexificação do que somos. Com essas provocações, refletimos sobre a falta de registros dessas histórias múltiplas que construímos a partir da REMSFC e se, de fato, nós estamos contando nossa própria história. Como trabalhadores comprometidos com a transformação social, nos colocamos ao lado dos que produzem e valorizam essas histórias contra hegemônicas, que falam de nosso passado-presente e que, na maioria das vezes, não encontram espaço para serem ditas.
Portanto, se fez urgente mergulhar no lugar movente em que se dá o encontro do cuidado em saúde no cotidiano dos serviços. Movidos pelo desejo de construir um produto concreto e imagético sobre a experiência da REMSFC enxergamos a narrativa visual como um caminho. Desta forma, pudemos experienciar como a construção do visual, na área da saúde do campo, pode ocorrer articulando experiências, saberes e projeto político de sociedade para abordar temas pouco discutidos, porém de muita relevância social (LIMA, 2017).



Formatos e suportes necessários referentes à apresentação
Impresso em papel fotográfico 20x30 ou Online/Virtual

Breve biografia do autor
Mestrando em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Atualmente realiza estudos em torno da imagem e suas representações. Raça, identidade, memória, população campesina negra e modo de vida quilombola são temas que atravessam a sua vida e seu corpo-território movendo os principais questionamentos levantados em suas pesquisas.