46527 - “HEPATITES VIRAIS: CONHECER PARA NÃO TER” - UM RELATO DE EXPERIÊNCIA BRUNO DE OLIVEIRA SOUZA - UFRN, DÉBORA NOBRE DE QUEIROZ TEIXEIRA - UFRN, SARAH VASQUES CABUS - ESF PARNAMIRIM, JOSÉ ADAILTON DA SILVA - DSC/UFRN, BÁRBARA SUELLEN FONSECA BRAGA - DSC/UFRN
Contextualização As hepatites virais são a maior causa de transplantes hepáticos no mundo e, devido ao quadro majoritariamente silencioso, o diagnóstico pode ocorrer de forma tardia, o que favorece complicações como cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular, especialmente nos casos de hepatites B e C. Diante da existência de vacinas disponíveis no SUS para as hepatites A e B, não deveria acontecer de pessoas ainda adoecerem por causas evitáveis, ou não possuam o esquema vacinal completo. Embora ocorram campanhas contra as hepatites nos serviços de saúde, o maior público-alvo, os adultos jovens, não costumam acompanhar a sua saúde na Atenção Primária à Saúde (APS) devido a extenuante jornada de trabalho no Brasil, não sendo atingidos pelas ações de rastreio e vacinação.
Por isso, foi planejada uma intervenção voltada aos funcionários do comércio local no território da Unidade de Saúde da Família (USF) Boa Esperança, em Parnamirim/RN, que foram contemplados com uma ação de promoção da saúde e prevenção de doenças no ambiente de trabalho.
Descrição Foi realizada uma ação conjunta entre os estudantes de Medicina da UFRN e a equipe da USF em uma loja de ferragem armada e serralheria com 38 funcionários, em maioria homens jovens, foram a população-alvo da intervenção.
A ação consistiu na elaboração e exposição de um vídeo informativo sobre hepatites virais (disponível em https://youtu.be/caUyB87F9bA), compartilhamento do vídeo em redes sociais, sessão de perguntas e respostas, revisão dos cartões de vacina do público-alvo, oferta das vacinas pendentes (para hepatite B, tétano e influenza), realização de testes rápidos para hepatites, HIV e sífilis, e distribuição de kits com contraceptivos.
Período de Realização A intervenção ocorreu no dia 18/07/2022, no turno da manhã.
Objetivos Relatar ações de promoção e prevenção que estimularam o conhecimento de usuários em ambiente laboral e equipe do território da USF Boa Esperança acerca das hepatites virais.
Resultados Foram aplicadas 46 vacinas, sendo 19 para influenza, 20 para difteria e tétano e 7 para hepatite B. Além disso, foram realizados 80 testes rápidos, sendo 20 de hepatite B, 20 de hepatite C, 20 de sífilis e 20 de HIV, tendo todos resultado não reagente. Foram ofertados 55 kits de preservativos, dos quais 25 retornaram à USF para serem distribuídos em ações futuras. Dentre o público-alvo preconizado de 38 funcionários, 25 foram contemplados pela ação, sendo 14 do sexo masculino e 11 do sexo feminino. Foram excluídos aqueles que não se encontravam no local de trabalho no momento, bem como os que desejaram não participar da ação.
Apesar do objetivo da intervenção ser voltado às hepatites em alusão ao “Julho Amarelo”, a equipe de saúde precisou agir de forma estratégica para fazer a atualização vacinal de acordo com o perfil epidemiológico daquele momento.
Aprendizados Foi constatado que, dos 14 homens, 13 precisavam de uma dose de reforço da vacina anti-tetânica. Esse dado é preocupante devido ao ambiente de trabalho ser de alto risco para o tétano, com a grande quantidade de ferragens. Os principais motivos de ausência da vacina alegados pelos funcionários foram não saber sobre a necessidade da vacina e também falta de tempo, pois não conseguem sair durante o expediente de trabalho e o cansaço os impede de ir à UBS no horário de almoço.
Essa constatação nos mostrou a importância de a equipe de saúde da família acompanhar a saúde dos trabalhadores das empresas localizadas no território e evidenciou o quão descoberta está a população de risco para certos agravos devido aos horários de atendimento e falta de informação. Outro ponto a se destacar é a carência da execução de uma política bem estruturada de saúde do trabalhador, voltada a assegurar que as empresas tenham como prioridade a saúde dos seus funcionários e a mitigação dos riscos envolvidos na execução de determinadas profissões.
Análise Crítica A intervenção mostrou à equipe a importância de programas como o “Saúde na Hora”, que amplia o horário de funcionamento das USF e oferta atendimento noturno, principalmente voltado aos trabalhadores do sexo masculino. Além disso, é possível refletir sobre outros negócios locais com ambiente de risco para doenças evitáveis com a vacinação e como é importante para a equipe de saúde sair da USF e levar a APS até esse público, afinal, uma vantagem da APS é a possibilidade de realizar intervenções com baixo custo e uso tecnologias leves, o que facilita a busca ativa e resolução dos problemas de uma população antes do surgimento de casos graves, evitando a sobrecarga dos setores secundário e terciário de saúde.
Quanto à formação médica, a intervenção permitiu aos alunos ter um contato mais próximo com a saúde do trabalhador e ofereceu a oportunidade de agir ativamente na promoção da saúde e prevenção de doenças local. Isso mostrou como a saúde do trabalho é pouco abordada no currículo atual do curso.
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