47555 - DESINFORMAÇÃO E VACINAÇÃO: UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA SOBRE A RELAÇÃO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E COBERTURA VACINAL HULLY GUEDES FALCÃO - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Este trabalho é parte de uma pesquisa de pós-doutorado que tem o intuito de compreender como se realiza a divulgação científica, como esse trabalho é representado, que ciência se defende e se divulga, e quais os impactos dessa atividade para a saúde e combate à desinformação. Os atores envolvidos na publicização da ciência, muitas vezes, são afetados por um modo de reconhecimento negativo, o que cria uma demanda de engajamento frente às controvérsias de deslegitimação científica. Assim, o presente estudo lança luz sobre as reações a esse movimento e as modulações de ciência que estão sendo colocadas e defendidas nas arenas públicas no processo de democratização científica ao dar atenção em como esses “ativistas da ciência” constroem o seu objeto de reivindicação política e sob quais gramáticas morais.
Objetivos Esta comunicação tem o objetivo de analisar como o tema da desinformação em saúde aparece e é acionado por divulgadores científicos de diferentes áreas do conhecimento, e do mesmo modo compreender como foi a atuação desses atores em relação às campanhas de vacinação no contexto (pós) pandêmico. Nesse sentido, a ideia de maneira mais ampla é tentar entender de que forma esses divulgadores contribuem para as campanhas de vacinação. Como observado em campo, muitas pessoas recorreram às informações compartilhadas por eles para decidir que vacina tomar, quando tomar, se usava máscara, como se cuidaria e etc.
Metodologia O estudo está sendo desenvolvido desde o ponto de vista etnográfico e comparativo dos perfis de instituições, tais como: Jornal USP, Agência FAPESP, Instituto Questão de Ciência, entre outros, bem como de atores em redes sociais, principalmente Twitter, Youtube e Instagram. Realizo também entrevistas com os interlocutores da pesquisa, que chamo de “ativistas científicos”, para compreender a conformação de estratégias empreendidas nas diferentes redes sociais, e as particularidades de cada área do conhecimento quando na divulgação científica. A partir do olhar etnográfico analiso e descrevo os atores em ação e em situações nas quais interagem com diferentes públicos e colocam à prova suas justificações e críticas frente aos outros. Esse método evidencia os regimes que estão em jogo nas diferentes controvérsias relacionadas aos movimentos paracientíficos na arena pública brasileira, notadamente em situações de defesa das vacinas contra Sars-Cov-2, dos protocolos de cuidado e isolamento, onde sobressaem defesa da autoridade científica.
Resultados e discussão Um dos principais resultados da pesquisa de maneira mais ampla demonstra que não há um ataque à ciência, mas sim da pessoa que pratica ou é representada como cientista, isso significa dizer que existe na verdade é crítica à pessoa. Esse movimento pode ter duas explicações: a primeira está atrelada ao próprio sentido etimológico da palavra “divulgar”, pois aquele que se publiciza, colocando-se em destaque na controvérsia política e científica, se torna conhecido pelo que pensa e projeta publicamente. Outra explicação pode ser encontrada na lógica inquisitorial (KANT DE LIMA, 1991) ou regime cismático (MOTA, 2018), em que aquele (re)conhecido é alvo de suspeição. Outra é a representação da prática de divulgar, que permeia as motivações que levam esses atores a se lançarem na vida pública, entendida como parte fundamental da educação e democratização da ciência. Os resultados mais recentes, principalmente aqueles advindos das entrevistas, mostra que por conta da observação de que havia um desencontro informacional relacionado às vacinas, esses indivíduos se projetaram publicamente e pautaram a escolha de seus temas com base nessa observação. No entanto, a maneira como seu público reage e como eles trabalham tem suas particularidades que é o que será tratado na comunicação.
Conclusões/Considerações finais A forma como a desinformação e a saúde se imbricam e aparece nos temas abordados resulta num alargamento da forma em que esses temas se apresentam para esses ativistas científicos. Há também nas falas desses interlocutores uma crítica a falta de profissionalização e reconhecimento na estrutura organizacional da ciência e acadêmica. Além disso, em um mundo atravessado por lógicas neoliberais, o indivíduo assume um papel central na administração da vida caótica, expressa, sobretudo, no “caos informacional”, perceptível no gerenciamento dos riscos de se vacinar, não se vacinar, qual imunizante tomar, usar máscara ou não usar tendo como base informações desencontradas, e é nesse contexto que os divulgadores acabam tendo um papel importante para as pessoas de maneira individual e para a defesa do conhecimento científico. Nessa operação o público é suplantado pelo individual, o que concede outro significado à saúde pública, na medida em que ele é gerente de si, perspectiva fruto de uma moral neoliberal que desfaz o coletivo, e que requer do indivíduo o cálculo dos riscos, e a partir disso, operar o cuidado.
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