Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC10.1 - Análise Institucional na (de)formação e na (de)colonização

46692 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE: CONSTRUÇÃO COLETIVA DE RESPOSTAS ÀS NECESSIDADES DE JOVENS ESCOLARES
LIVIA CERF QUINTERO - UFMG, GABRIEL SOARES DAMACENO - UFMG, LADYANY SOARES SILVA - UFMG, SHEILA APARECIDA FERREIRA LACHTIM - UFMG


Contextualização
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Adolescente e o Programa Saúde na Escola situam a escola como um lugar que favorece o cuidado em saúde por integrar os saberes interdisciplinares e pela aproximação com a realidade juvenil. No entanto, a educação predominantemente hegemônica não proporciona reflexões sobre a determinação social do processo saúde e doença, por desconsiderar determinantes psicossociais e culturais. Deste modo, é importante refletir sobre o papel da Atenção Primária à Saúde (APS) e do profissional de enfermagem na prática educativa como produtora de cuidado em saúde, uma vez que se faz necessária a compreensão da educação como prática social que concebe a possibilidade de uma formação crítica e emancipatória.

Descrição
Assim, no projeto de extensão denominado “Educação em saúde: construção coletiva de respostas às necessidades de jovens escolares” são realizadas três oficinas por grupo, com até 15 estudantes entre 13-16 anos, em escolas públicas localizadas na área de abrangência do centro de saúde Vila Maria, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os temas para as atividades são propostos pelos jovens e contemplam conteúdos como sexualidade integral, saúde sexual e reprodutiva, violências, saúde mental, projeto de vida e consumo de drogas. No primeiro encontro a proposta é conhecer os estudantes e suas demandas em saúde, por meio de perguntas e nuvens de palavras geradas pela plataforma Mentimeter. O segundo e o terceiro encontros são estruturados a partir do primeiro e se desenvolvem discussões sobre dois temas propostos por eles, por meio de uma prática dialógica baseada na problematização e com o uso de ferramentas didáticas participativas que variam dependendo das necessidades de cada grupo. Ao final dos três encontros, os jovens são mais capazes de reconhecer suas necessidades de saúde e a capacidade coletiva de resposta.

Período de Realização
O projeto acontece desde 2019 até os dias atuais.

Objetivos
Realizar oficinas de caráter emancipatório para a promoção de mudanças na percepção dos jovens sobre sua saúde.

Resultados
No primeiro encontro com cada grupo percebe-se uma grande confusão sobre os temas relacionados à sexualidade, como dificuldade com os conceitos de identidade de gênero e orientação sexual. Também percebe-se grande dificuldade em relação aos métodos contraceptivos e de proteção e a maneira correta de utilização de cada um deles. Outro tema relevante apontado por eles é o da saúde mental, em que relataram as pressões sentidas em relação às dificuldades encontradas na família, na escola e com relacionamentos íntimos, um aumento da ansiedade, de sentimentos de frustração e de depressão. Os estudantes não dispõe de uma rede de apoio e nem uma organização dos serviços de saúde e da escola para acolher as inquietações que, por vezes, chegam à automutilação. Esses processos de sofrimento mental têm sido cada vez mais evidentes entre os jovens, uma vez que as cobranças para um suposto futuro promissor, não são acompanhadas de políticas públicas capazes de viabilizar seus projetos. Além disso, percebe-se um vínculo muito fragilizado entre o serviço de saúde e os jovens escolares, que mencionaram só procurar o centro de saúde quando existem necessidades agudas e demandas específicas.

Aprendizados
Os resultados demonstram uma fragilidade da educação sexual básica nas escolas, uma vez que as questões apresentadas são consideradas primordiais para uma sexualidade segura e para garantia de direitos básicos dos jovens. Os estudantes em sua maioria se mostram receptivos às atividades, mas, apesar do uso de práticas participativas, um dos desafios encontrados é o envolvimento de todos os alunos nas atividades realizadas. Esse é um âmbito importante pois entende-se que para que uma prática educativa se aproxime do dialogismo, a participação do jovem é centralidade no processo. No entanto, as oficinas podem ser intensas e desafiadoras, provocando reflexões acerca dos processos vividos e alternativas de construção coletiva, o que pode, para alguns, ser um alívio ao se deparar com uma questão que não é apenas sua.

Análise Crítica
A dificuldade da criação de vínculo entre a APS e os jovens é determinada por diversos fatores e um deles é a dificuldade de uma compreensão mais ampliada sobre a juventude por parte dos profissionais, saindo da hegemonia do discurso biomédico. É importante uma ruptura do conceito de que a juventude está predominantemente relacionada com mudanças biológicas para proporcionar transformações nas ações em saúde, caracterizadas pela criação de vínculo e longitudinalidade do cuidado à população juvenil. Sendo assim, por meio das experiências vividas durante esse projeto de extensão é possível compreender a importância do profissional em saúde, com enfoque no profissional de enfermagem pelo papel na educação em saúde continuada, no processo educativo emancipatório dos jovens escolares. Enfatiza-se a relevância da criação de uma cultura de saúde nos espaços educativos, por favorecerem a construção do cuidado integral ao jovem.