47134 - CUIDAR DO OUTRO É CUIDAR DE MIM: UM DISPOSITIVO PARA ANÁLISE DAS PRÁTICAS EM SAÚDE
MAGDA DE SOUZA CHAGAS - UFF, ANA LÚCIA ABRAHÃO - UFF, ANA MARIA NOGUEIRA GOMES - UFF, BILLY MCBENEDICT - UFF, ROGÉRIO THALES SANTANA DE ALMEIDA - UFF, STEPHANY FERREIRA FURTADO - UFF
Contextualização
Análise de prática profissional é um recurso que permite ao profissional de saúde explorar a sua prática nas vivências do cotidiano, nas situações que emergem e como lidam com elas, durante as rotinas estabelecidas. A abordagem socioclínica (Monceau, 2018) tem permitido interferir de forma singular ao dar um lugar central ao exercício de refletir sobre os próprios percursos dos envolvidos. Neste contexto, propomos trabalhar com Agentes Comunitários de Saúde (ACS), explorando as suas dificuldades, satisfações e aspirações pessoais sobre a profissão. O trabalho do ACS, recentemente regulamentado como profissão da área de saúde (Lei 14.536, de 2023), consiste na mobilização da comunidade e o estímulo à participação nas políticas públicas voltadas para as áreas de saúde e socioeducacional, na realização de visitas domiciliares regulares e periódicas para acolhimento e acompanhamento da população, são atividades que mobilizam uma prática atravessada pelo cuidado. Cuidado que se estabelece durante o encontro entre o usuário e o profissional de saúde.
Descrição
Propomos analisar as práticas dos ACS, com a aproximação do processo de trabalho com os demais profissionais de saúde, a partir de um convite destinado à uma equipe de ACS, vinculado à uma unidade de Saúde da Família. Com o convite aceito, partimos para expor e debater as práticas e processos de cuidado de si e cuidado do outro, construídas a partir da vivência humanizada de saberes populares, fortalecendo a lógica da singularidade. Propusemos e ofertamos o “corredor do cuidado”, como um exercício prático do cuidado que havia sido explorado durante os exemplos analisados. Corredor do Cuidado é uma prática vinda de movimentos populares do Ceará que consiste em formar um túnel de pessoas. No início e no fim do corredor há uma pessoa para introduzir o participante no túnel e outro para recebê-lo ao final do percurso. A pessoa entra no corredor de olhos vendados permitia-se ser cuidada pelos componentes do túnel com produção de estímulo sensorial que podia ser uma palavra, uma poesia, um toque de forma a oportunizar bem-estar e relaxamento a pessoa que estava passando pelo túnel. O ambiente era uma sala reservada, com luz baixa e músicas com sons da natureza e relaxantes. Um corredor formado por humanos dispostos a cuidar da outra pessoa, com a diferença de que a pessoa a ser cuidada não era um paciente/usuário e sim um colega de trabalho ou que realizava a mesma atividade que “eu”. Explicamos a proposta, o motivo de realizá-la, a necessidade de foco e atenção, o pedido para brincadeiras ou constrangimentos seres evitados, a liberdade de escolher ou não participar e o papel de cada pessoa na atividade. Preparamos cada pessoa para entrar no corredor e desfrutar vagarosamente, no seu tempo, do cuidado coletivo. Assim, de olhos fechados cada pessoa passou pelo corredor e durante a travessia ouviu palavras amorosas, estimuladoras e inspiradoras, recebeu massagem breve, toques na pele e no final do corredor um longo abraço.
Período de Realização
A experiência foi realizada nos dias 21 e 23 de março de 2023.
Público-alvo: Agentes Comunitários de Saúde (ACS), estudantes de graduação de Enfermagem, Medicina, Filosofia e Residentes em Enfermagem de Saúde Coletiva (R1).
Objetivos
Iniciar com Agentes Comunitários uma atividade de análise da prática e, de forma mais ampla, do trabalho em saúde da família, no que diz respeito às suas práticas profissionais e às suas dimensões institucionais.
Resultados
Observou- se que o exercício do corredor do cuidado favoreceu aproximação do processo de trabalho. Ao cuidar e ser cuidado, acolher e ser acolhido, resultou na criação de um ambiente solidário, ao mesmo tempo que viver a confiança no grupo foi algo palpável e amoroso. A aproximação entre os profissionais foi algo identificado ao final da experiência com impacto positivo sobre a produção da análise da prática do ACS no trabalho da saúde da família.
Aprendizados
A experiência, dialoga fortemente com a política de Educação Permanente em Saúde. Contudo, a dificuldade de reunir os profissionais dado ao ritmo e a exigência do serviço, constitui-se como um obstáculo para tais práticas. Explorar novas práticas sociais para o enfrentamento de iniquidades no território em saúde. Ao final da atividade de reflexão e discussão em uma oficina sobre o trabalho dos ACS.
Análise Crítica
Por outro lado, a articulação dos ACS com os estudantes, propicia o reconhecimento de diversos saberes compondo a prática em saúde. Reconhecemos que a experiência tem potência de ser replicada com possibilidades de construção de processos de cuidado dialogados, participativos, humanizados e acolhedores nas unidades de saúde.
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