47771 - COMPONDO “UM JEITO ESP DE FAZER”: POR UMA FORMAÇÃO EM SAÚDE AFETIVA, CRIATIVA E REFLEXIVA NO SUS RODRIGO MARTINS DA COSTA MACHADO - ESP-MG, AMANDA NATHALE SOARES - ESP-MG, THAIS LACERDA E SILVA - ESP-MG, FERNANDA JORGE MACIEL - ESP-MG, LENIRA DE ARAÚJO MAIA - ESP-MG
Contextualização A Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) é referência no estado para a formação de profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) e, desde 2014, nós, trabalhadores da instituição, temos nos orientado, mais institucionalmente, pela Educação Permanente em Saúde (EPS) como um referencial ético-político-pedagógico. Embora a EPS seja potente para apoiar práticas educativas no e para o trabalho, questões complexas do mundo do trabalho e da vida aí suscitadas têm nos convocado a buscar outros conceitos, referenciais e estratégias para lidar com o que somos confrontados nos encontros com os alunos-profissionais do SUS-MG. Nós, um coletivo de trabalhadores, temos chamado esse movimento de “jeito ESP de fazer”.
Descrição Trata-se de relato de como temos ampliado as interfaces entre a EPS e outros conceitos e referenciais na ESP-MG, em um processo de produção inventiva no âmbito da formação no SUS e para o SUS, operada por encontros entre um coletivo de trabalhadores dessa instituição e outros profissionais do SUS-MG. Chamamos de encontro os espaços de formação que nós produzimos com os profissionais e que nos mobilizam a pensar com eles o trabalho deles e o nosso. Nos diferentes encontros, sobretudo em um cenário de intensificação da precarização do trabalho em saúde, nos vimos diante do desafio de transformar o espaço de formação não apenas em local de ensinar, aprender e problematizar o trabalho e os seus contextos, mas também de cuidar, afetar e ser afetado. Com isso, nos implicamos com outros conceitos e referenciais que nos possibilitam potencializar a circulação dos afetos e a produção de sentidos no e para o trabalho no SUS.
Período de Realização 2018-2023
Objetivos Relatar características do trabalho desenvolvido na ESP-MG produzidas na interface entre EPS e outros conceitos e referenciais.
Resultados Nos últimos anos, atrelada à consolidação da EPS como um referencial ético-político-pedagógico que orienta o trabalho na ESP-MG, temos incorporado em nossas ações de formação outros conceitos e referenciais implicados com um processo de ensino-aprendizagem afetivo, sensível, criativo e reflexivo, a exemplo do conceito de experiência, proposto por Jorge Larrosa Bondía, da teoria dos afetos, de Baruch Spinoza, e do conceito de sentipensar, desenvolvido por autores como Fals Borda e Arturo Escobar. O “jeito ESP de fazer”, implicado com esses diferentes conceitos/referenciais, tem se operado a partir de algumas características singulares, tais como: aposta na aprendizagem com o outro e sobre o outro, com a conformação de turmas de profissionais de distintas categorias e inserções institucionais; utilização da escuta e do diálogo junto aos alunos como estratégia que orienta a (re)construção do próprio processo formativo; concepção e discussão coletiva das ações educativas e atuação docente em duplas ou trios; utilização de estratégias variadas para colocar em análise o modo como os alunos produzem as práticas de cuidado e de gestão em saúde; inclusão do saber da experiência no processo de produção de conhecimento; organização de livros com autoria dos alunos como estratégia para dar visibilidade à potência criativa e às experiências no SUS; utilização do diálogo com a arte para produzir outros modos de sentir-pensar sobre o trabalho e sobre a vida.
Aprendizados Como um coletivo de trabalhadores da ESP-MG, fomos percebendo que a EPS orienta organicamente o nosso modo de conceber e operar as formações, durante as quais compomos espaços de escuta e buscamos incorporar o que trazem os profissionais do SUS, em um processo contínuo de reinvenção do nosso fazer. Isso é potencializado por características próprias que fomos experimentando durante os últimos anos e que têm nos permitido constituir um cotidiano de análise permanente das nossas práticas, expondo-as à imprevisibilidade e aos acontecimentos, bem como tornar os espaços formativos em momentos de cuidado e acolhimento aos profissionais de saúde, especialmente necessários com a precarização crescente das condições do trabalho em saúde.
Análise Crítica Buscando superar a ideia de que a cognição é um processo mental que acontece de forma independente das emoções que atravessam o corpo, passamos a experimentar caminhos que favorecem a ampliação da nossa abertura e da abertura dos profissionais para um encontro genuíno com o outro, com seus saberes, suas histórias, suas vivências e seus sofrimentos nas trajetórias de trabalho e de vida. Ao convocarmos o que é da singularidade de cada um, abrimos brechas para que reconhecermos e partilharmos – nós e alunos – criações, angústias, desejos, alegrias, tristezas. Isso foi se tornando cada vez mais relevante, na medida em que fomos percebendo que os profissionais do SUS chegam à ESP-MG, muitas vezes, desacreditados na possibilidade de um trabalho coletivo e colaborativo, além de estarem expostos a ambientes de trabalho precários, com relações, por vezes, abusivas, e subordinados a um fazer excessivamente prescritivo e normativo, que sufoca suas capacidades inventivas e criativas.
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