Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC12.1 - Epistemologias da Saúde desde o Sul: Virada decolonial e construção compartilhada de conhecimento

47640 - SAÚDE E CUIDADO COMO PRODUÇÃO DE VIDA: PARA DESCOLONIZAR E CORAZONAR A SAÚDE COLETIVA.
ADA CRISTINA PONTES AGUIAR - UFCA, MARCELO FIRPO DE SOUZA PORTO - ENSP/FIOCRUZ RJ, MARINA TARNOWSKI FASANELLO - ENSP/FIOCRUZ RJ


Apresentação/Introdução
O trabalho consiste em um ensaio crítico, conceitual e epistemológico, em diálogo inspirado pela arte e poesia, para desenvolver uma reflexão em torno da transição paradigmática do campo da saúde coletiva. Inicialmente, apresenta uma breve trajetória da saúde coletiva, inserida nos desafios atuais civilizatórios e planetários, em diálogo com áreas internas a ela, como a ‘saúde da trabalhadora e do trabalhador’, a ‘saúde e ambiente’ e as ‘práticas integrativas e complementares em saúde’ (PICs); e com uma abordagem crítica externa a ela, a ecologia política. Elege como principais marcos teóricos para subsidiarem as mediações conceituais do trabalho o pensamento decolonial da América Latina, as epistemologias do Sul, os feminismos descoloniais e o ecofeminismo. São convidados para serem interlocutores orgânicos do trabalho o pensador quilombola Nego Bispo e o pensador indígena Ailton Krenak, que integram os diálogos de saberes com as epistemologias do Sul, com o intuito de serem propostos caminhos para descolonizar e corazonar a saúde coletiva; e com o pensamento ecofeminista, para subsidiar a saúde coletiva no processo de ampliação dos cuidados em saúde, de forma a incorporar a perspectiva dos cuidados integrais com as vidas às construções conceituais desse campo.

Objetivos
Objetivo geral

• Contribuir com o processo de transição paradigmática para descolonizar e corazonar a Saúde Coletiva.

Objetivos específicos

• Incorporar marcos teóricos mais recentes, ainda em processo de consolidação, como a ecologia política, o pensamento decolonial e as epistemologias do Sul, para descolonizar e corazonar a Saúde Coletiva;
• Construir diálogos entre os conhecimentos dos interlocutores orgânicos Nego Bispo e Ailton Krenak, e as epistemologias do Sul, que contribuam para o enfrentamento dos epistemicídios e a construção da justiça cognitiva na transição paradigmática da saúde coletiva;
• Construir diálogos interdisciplinares e interculturais entre os conhecimentos dos interlocutores orgânicos Nego Bispo e Ailton Krenak, e o Ecofeminismo, aportes renovadores para a saúde coletiva, que inspirem esse campo a incorporar as reflexões sobre os cuidados integrais para a produção de vida, com o intuito de ampliar os referenciais teórico-metodológicos sobre os cuidados em saúde e fortalecer as concepções integradoras de vida e saúde no processo de transição paradigmática da saúde coletiva.

Metodologia
Realizamos um ensaio crítico, conceitual e epistemológico, inspirado por perspectivas literárias, artísticas, musicais e poéticas ( FASANELLO; NUNES; PORTO, 2018; MENEGUETTI, 2011; ADORNO, 2003; LARROSA, 2003), partindo prioritariamente das contribuições aportadas pelos interlocutores Nego Bispo e Ailton Krenak, por meio da consulta à produção intelectual dos pensadores (livros e demais publicações) e aos materiais relacionados à vida deles disponíveis na Internet (entrevistas; seminários; lives; participações em filmes e documentários; manifestações públicas etc.).

A proposta integrada e integradora que emerge é inspirada pelo pensamento artesanal feminista, o qual procura visibilizar os conhecimentos historicamente desconsiderados e valorizar as experiências comumente desperdiçadas, conectando radicalmente ser, sentir, pensar e fazer nos projetos vinculados à produção de vida.


Resultados e discussão
Sintetizamos as principais contribuições que os diálogos de saberes e interculturais realizados no percurso do trabalho podem oferecer à transição paradigmática da saúde coletiva, sendo elas: o reconhecimento dos seres humanos como integrantes da natureza, superando a visão moderna que fragmenta e desconecta o ser humano dos demais componentes da natureza, das outras espécies e do feminino; a necessária descolonização da saúde coletiva, inclusive dos setores críticos que fazem parte desse campo, por meio da crítica ao colonialismo e à incorporação das epistemologias do Sul; a importância de corazonar os sujeitos e a práxis da saúde coletiva, rompendo com a rigidez logocêntrica que embota os afetos perpetuada pela racionalidade científica moderna; e fortalecer as aproximações virtuosas entre os cuidados em saúde e os cuidados integrais com as vidas, para ampliar as perspectivas de saúde, vida e cuidado desse campo.

Conclusões/Considerações finais
A realização deste ensaio permitiu conectar a reflexividade crítica da autora a um exercício potente de liberdade perpassado pela busca de conhecimentos e autoconhecimentos, para sintonizá-la com a proposta de transição paradigmática da saúde coletiva.