Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC12.1 - Epistemologias da Saúde desde o Sul: Virada decolonial e construção compartilhada de conhecimento

48060 - FAZER PESQUISA COM: ASPECTOS DO USO DO GRUPO FOCAL NARRATIVO ENQUANTO TÉCNICA PARA TRABALHO EM CAMPO
MARIANA MENDES DE OLIVEIRA WULPI - UFES, ISABELLA SILVA DE ALMEIDA - FMUSP, CAROLINA DUTRA DEGLI ESPOSTI - UFES


Apresentação/Introdução
A produção de pesquisas participativas e a análise de narrativas vêm sendo utilizadas em estudos qualitativos em Saúde Coletiva como estratégia metodológico-conceitual para investigar e interpretar um campo vasto, mas que pode ser tomado como o campo da mediação entre as experiências dos sujeitos e seus diferentes contextos, os discursos que produzem e que os produzem (ONOCKO-CAMPOS; FURTADO, 2008). A abordagem participativa tem fundamental importância na pesquisa em saúde, especialmente quando vinculada aos serviços, às políticas públicas e à gestão. O uso de narrativas pode ser pensado para além de um instrumental metodológico, tendo valor também de tática política. No âmbito das investigações em saúde, nos estudos no campo da saúde mental, especificamente no cuidado às pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, a participação dos usuários, familiares, e trabalhadores é considerada como fator constitutivo das políticas sociais. Sendo assim, as narrativas e os narradores são vitais como forma de resistência a diferentes formas de estratificação das práticas de cuidado, e na produção de conhecimento ou avaliação dos serviços (CASTELLANOS, 2014; CHAGAS, 2014).

Objetivos
- Apresentar uma análise preliminar dos efeitos do grupo focal narrativo enquanto método de pesquisa qualitativa;
- Refletir sobre a construção coletiva de saberes por meio da grupalidade no campo da saúde mental - álcool e outras drogas.

Metodologia
O estudo foi realizado com trabalhadores dos CAPS AD da região metropolitana de um Estado do sudeste brasileiro. Participaram sete profissionais dos três serviços da região - sendo três psicólogos, um assistente social, um arteterapeuta, um enfermeiro e um terapeuta ocupacional. Foram realizados dois grupos focais, nas dependências de uma universidade, com duração de aproximadamente duas horas e meia cada, sendo gravados e transcritos. Os grupos foram conduzidos por um moderador (pesquisador externo) e tiveram a presença de um observador (pesquisador) e um relator (integrante do grupo de pesquisa). Grupo focal 1: apresentação da pesquisa; discussão de questões relacionadas ao objetivo, a partir de um roteiro disparador com os temas necessidades de saúde, processo de identificação das necessidades de saúde, fatores relacionados à identificação e resposta às necessidades de saúde e ações desenvolvidas nos CAPS AD. Grupo focal 2: apresentação da narrativa - construída a partir do encontro anterior (gravado e transcrito) - para contestação, correção e validação coletiva pelos participantes.

Resultados e discussão
O primeiro ponto a ser posto em análise é a contribuição do grupo focal narrativo no fazer-pesquisa em saúde mental. O aspecto propositivo do encontro entre pares e da tessitura de ecos coletivos - narrativa trouxe elementos tanto da constituição dos serviços, quanto das relações interprofissionais, das relações intersetoriais e da dimensão da produção do cuidado em saúde mental/álcool e outras drogas. Os profissionais em grupalidade, tiveram a oportunidade de se ouvirem, compondo as diferenças e nos posicionamentos, afirmando e defendendo opiniões. Os participantes puderam se reconhecer, se reler e coproduzir a narrativa com tons mais suaves, aprimorando conceitos, complementando ideias e recontextualizando falas e reflexões.
A oportunidade de estar em grupo, falando e refletindo sobre aspectos do trabalho, da produção do cuidado no campo de álcool e drogas, despertou nos participantes o desejo de retomar os espaços de supervisão nos serviços, e também de compartilharem a experiência acumulada, o cotidiano das práticas de um CAPS AD, em formato de artigos e pesquisas, com o intuito de dar visibilidade aos percursos percorridos, aos projetos, aos arranjos tecidos diante das dificuldades que enfrentam, como a falta de espaços de reflexão, de formação, de recursos materiais e infraestrutura.
Também foi pauta relevante o quanto o problema do uso de drogas foi se tornando mais complexo e mais desafiador com o passar do tempo, e que o fazer não acompanhou o pensar e o refletir.

Conclusões/Considerações finais
A abordagem qualitativa e participativa mostrou-se potente para aprimorar a compreensão dos processos subjetivos dos trabalhadores dos CAPS AD, e as discussões produzidas em grupo salientaram a importância de estudos que dão voz aos próprios trabalhadores de saúde. Cabe ressaltar a relevância desse modo de fazer pesquisa com, de estar junto, visibilizar o fazer cotidiano e a importância do fomento de espaços dialógicos na produção de saberes e tecnologias para o cuidado em saúde mental - álcool e outras drogas.