Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC13.2 - Extensão na perspectiva decolonial

46498 - FAVELAS, PERIFERIAS E PROMOÇÃO DA SAÚDE: O CASO DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DA JORNADA CIENTÍFICA FAVELADOS UNIVERSITÁRIOS
ANDRÉ LUIZ DA SILVA LIMA - FIOCRUZ


Contextualização
O Fórum Favela Universidade (FFU) nasceu no encontro de organizações populares atuantes em favelas e periferias no âmbito das atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 2018, com o tema “Ciência para a Redução das Desigualdades”. Desde a primeira reunião, emergiram diversas narrativas denunciando o adoecedor processo de apagamento que inflige a população das favelas e periferias do Rio de Janeiro, como se não se produzisse conhecimento nestes territórios. Furta-se dos estudantes periféricos o desejo de acessar a Universidade Pública, seja por tramas simbólicas e materiais. Aqueles conseguem acessar o Ensino Superior, por vezes desistem, e aos que concluem, o acesso a pós graduação e a um emprego na área de formação nem sempre se viabiliza. O diagnóstico, dentro de uma perspectiva interseccional, aponta a existência de um círculo vicioso, racista, misógino, colonialista e patriarcal de restrição e apagamento das produções cientificas destes estudantes. Neste ambiente, do FFU, tendo apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Rio Janeiro(UFRJ), que se organizaram as Jornadas Científicas Favelados Universitários.


Descrição
As Jornadas, nas programações presenciais ou híbridas, se estruturaram em atividades nos seguintes formatos: Conferências, Mesas Redonda, Rodas de Conversas, Simpósios Temáticos, Oficinas, Minicursos e Atividades Culturais.
Importante destacar o caráter cooperativo e participativo das deliberações e de coordenação. O colegiado de Coordenação do Evento, alinhado ao GT do FFU com a finalidade de apoiar a Jornada, foi liderado por um representante da Fiocruz, vinculado à Coordenação de Cooperação Social. Tal colegiado contou com a participação ativa de representações da UFRJ vinculadas à Pró Reitoria de Extensão (PR5), bem como representantes do Museu da Vida (COC/Fiocruz), do Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz, do Museu da Maré, do Centro de Ações Solidárias da Maré , a Casa Viva/Rede CCAP de Manguinhos, do Conselho Comunitário de Manguinhos.

Período de Realização
Novembro de 2021 - 1ª edição, exclusivamente virtual, acolhendo o tema “Quais os caminhos levam os favelados à Universidade e a Universidade à Favela?”; Setembro de 2022 - 2ª Edição com o tema “Independências, Descolonização e Territórios”, em formato híbrido.

Objetivos
Assumindo uma perspectiva ampliada do que seja um viver saudável, a realização das jornadas científicas se insere num amplo espectro das disputas simbólicas e materiais travadas pela população favelada/periférica, sendo evocada a assertiva de que a Universidade Pública, Gratuita, Inclusiva e de Qualidade é um Direito e amplia o contato destes com novas oportunidades antes não contempladas. Neste sentido, tais eventos objetivam promover a divulgação sócio-técnico-científica de projetos e iniciativas produtoras de conhecimento, conduzidos por estudantes universitários e lideranças sociais moradores das favelas e periferias da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

Resultados
Inscritos na 1ª edição – 852 Participantes / Audiência na 1ª Edição - 2700
Inscritos na 2ª edição – 440 Participantes / Audiência na 1ª Edição - 1237



Aprendizados
Como avaliação, tem-se um consenso de seu sucesso, com planejamento para a realização da 3ª edição no ano de 2024. Objetiva-se manter as articulações ativas, a partir da Fiocruz, no qual planeja-se conduzir atividades preparatórias, presenciais ou remotas, nos diversos formatos possíveis.




Análise Crítica
Num quadro mais amplo, de produção de um viver saudável, verifica-se que a necessidade de investimento público para a superação das desigualdades socioeconômicas e territoriais, e neste sentido, a defesa da Universidade Pública, Gratuita, de Qualidade e acessível a todos os grupos populacionais, se apresenta como estratégico na promoção da saúde brasileira.
Ao se mencionar moradores das favelas e periferias, torna-se imperativo situar um processo histórico de produção de estigmas e estereótipos, num contexto de reprodução social de racismo e sexismo, agudizado pelo olhar do outro para estes espaços. Trata-se, neste caso, de possibilitar a disputa de sentidos sobre aqueles que moram e residem nas favelas e periferias, com protagonismos dos sujeitos imbricados nesta teia de poder.
A Jornada incorpora ainda uma estratégia pedagógica para com os atores acadêmicos e produtores de conhecimento na Universidade, em reconhecer a potência advinda dos sujeitos das favelas e periferias. Oportuniza-se, ainda, neste caso a produção de capital simbólico junto aos pesquisadores envolvidos nas atividades da Jornada.
Considerando a incorporação de uma perspectiva ampliada sobre o processo Saúde Doença, seus determinantes e um agir inter e multisetorial como estratégico para promover saúde, entende-se o acesso e permanência ao Ensino Superior por parte da população periférica como de grande relevância para a institucionalização de territórios saudáveis e sustentáveis nos centros urbanos.