02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC13.2 - Extensão na perspectiva decolonial |
46559 - PROCESSOS OUTROS DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL FRENTE AO PROCESSO DE MEDICALIZAÇÃO DA VIDA RENATA DOMINGUES GONÇALVES CAVEARI DE SOUSA - UNIREDENTOR/AFYA
Contextualização Este resumo contempla as atividades desenvolvidas na disciplina de Extensão Integrada em Saúde VIII, com estudantes do curso de Psicologia do Centro Universitário Uniredentor/Afya. O objetivo central do projeto foi trabalhar o uso racional de medicamentos a partir do desenvolvimento de ferramentas que pudessem ser utilizadas como estratégias de cuidado em saúde mental frente ao processo de medicalização da vida e uso excessivo de medicamentos. Os estudantes foram divididos em grupos de trabalho para que pudessem desenvolver tais ferramentas pensando em um público específico que pudesse se beneficiar da ferramenta criada. Além do desenvolvimento de tais produtos, foram realizadas discussões sobre a temática da medicalização em sala de aula.
Descrição O contexto atual vem apresentando consideráveis discussões a respeito da medicalização e dos seus impactos na vida dos sujeitos, pois o medicamento deixou de ser uma via de intervenção de máxima necessidade, e se tornou algo natural ao cotidiano das pessoas. Conforme Illich (1975), o termo medicalização é dirigido a uma progressiva apropriação, pela medicina, das formas de vida das pessoas. Segundo esse autor, existem saberes produzidos no campo biomédico que têm estabelecido normas morais de conduta que prescrevem comportamentos. Assim, entende-se que os comportamentos considerados fora da norma prescrita, que fazem com que as pessoas de modo geral apresentem alguma disfunção ou diferença no comportamento, o medicamento traz a promessa de integrá-la novamente à normalidade.
Período de Realização A partir de rodas de conversa em sala de aula foi iniciado em agosto do ano de dois mil e vinte e dois e finalizado em dezembro do mesmo ano com uma mostra de Extensão.
Objetivos O objetivo geral da proposta foi trabalhar o uso racional de medicamentos a partir do desenvolvimento de ferramentas que contribuam no cuidado em saúde mental frente ao processo de medicalização da vida. Os objetivos específicos contemplaram descrever os conceitos de medicalização da vida; explicitar o que vem a ser o uso racional de medicamentos e desenvolver ferramentas que contribuam no cuidado em saúde mental.
Resultados A partir dos desdobramentos gerados pelas discussões em torno do tema os estudantes desenvolveram ferramentas que de alguma maneira pudessem contribuir enquanto viés terapêutico minimizando o impacto do uso de medicamentos. Tais ferramentas foram produzidas direcionando-se a públicos diferenciados tais como: crianças e adolescentes, adultos e idosos. Alguns exemplos foram: um jogo da memória com imagens de exercícios físicos para incentivar a prática de atividade física; essências para aromaterapia; um dado que em cada um dos lados contém um exercício de controle da ansiedade; um QR code que será acionado para que músicas sejam tocadas durante a prática de alguma atividade física associando as melodias de modo a contemplar também a memória; arterapia com fabricação de sabonetes, etc. Os estudantes puderam perceber o quanto os usos de estratégias simples podem auxiliar no processo de cuidado com a saúde mental, minimizando ou mesmo evitando em alguns casos o uso de medicamentos. Cada uma das ferramentas foi pensada a partir das demandas percebidas pelos estudantes ao longo do curso e a partir das experiências práticas vivenciadas ao longo dos estágios. As mesmas foram apresentadas em uma mostra de Extensão e posteriormente destinadas à Clínica Escola, conveniada com o SUS, onde são prestados atendimentos à comunidade da cidade de Itaperuna em geral.
Aprendizados A perspectiva de um pensamento que se expande no rompimento com uma forma de verdade instituída sobre o outro é aqui o desafio. Perceber este outro como diferente a partir de um olhar que não naturaliza, mas acolhe é a trajetória pensada enquanto possibilidade de existência emancipadora. A sociedade se modifica e opera mudanças significativas na vida dos sujeitos que dela fazem parte. Estabelecer uma prática a partir da atenção biopsicossocial, percebendo o sofrimento humano enquanto complexidade da vida e não apenas como um desvio a norma que precise ser corrigido de modo imediato é o que nos move diante do trabalho no campo da psicologia. Compreender que não há campo do saber que possa considerar-se privilegiado em dar conta desta complexidade. Somos todos convocados a estar presentes, dialogando e tecendo formas de cuidado para com o sujeito que sofre nos diversos aspectos de sua existência. É um movimento permanente, que não tem prazo para iniciar nem para terminar, mas é importante estar aberto para o acontecimento.
Análise Crítica Este trabalho nos aponta caminhos na perspectiva de pensar o cuidado como uma estratégia singular, que não se limita apenas ao viés medicamentoso. Desconstruir saberes que naturalizam a diferença como algo a ser combatido e exterminado do contexto social, foi e ainda é desafiador no campo da saúde mental. Levando-se em consideração o viés da Reforma Psiquiátrica, não adianta a liberdade extra muro se nossa sociedade se condena ao aprisionamento químico.
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