Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC13.2 - Extensão na perspectiva decolonial

47465 - A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA NA EDUCAÇÃO POPULAR: PERCURSOS E EXPERIÊNCIAS DE UM PROJETO DE EXTENSÃO
ALBERTO TORRES CHEMP JUNIOR - UERJ, RAFAEL GARCIA VASCONCELOS - UERJ, LUCIANA FERREIRA BARCELLOS - UERJ


Contextualização
Este trabalho relata a experiência de uma equipe de psicologia social em um curso comunitário preparatório no Rio de Janeiro, como parte das ações desenvolvidas no projeto de extensão intitulado "PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL E EDUCAÇÃO POPULAR: ENTRE REDES E TRAVESSIAS" (IP-UERJ). O projeto busca apoiar os cursos pré-vestibulares comunitários (PVC) por meio de duas abordagens: (1) pesquisa-intervenção com professores da rede pública para compreender desafios da docência; e (2) desenvolvimento de ações que subsidiem ações de transformação nos PVC, sendo estes travessias da escola para a universidade. Diante das profundas desigualdades estruturais brasileiras, estas iniciativas têm desempenhado importante papel na transformação social como rede de apoio na entrada e permanência na universidade. Conhecer os desafios vivenciados nas escolas públicas a partir dos relatos dos professores tem sido importante para a construção das ações junto aos PVC. É necessário refletir e promover ações que enfrentem as causas do sofrimento ético-político (Bader Sawaia) na formação educacional. Quais as possíveis contribuições do campo da psicologia social? A pesquisa e a extensão são entendidas como processos formativos de reflexão-ação a partir das problemáticas da realidade social. Tendo como referencial a perspectiva da psicologia sócio-histórica, incorporamos os conceitos de dialogismo e alteridade de M. Bakhtin e de produção de subjetividade a partir da perspectiva histórico-cultural de Vygotsky. Descreveremos o percurso de atividades desenvolvidas pela equipe do projeto de extensão em um PVC.

Descrição
O campo de atuação da equipe de psicologia consiste em um PVC, parte de um movimento social com vistas à emancipação e transformação por meio da educação popular com população periférica. O PVC é composto por educadores voluntários de diversas áreas, estudantes, coordenação político-pedagógica, Grupos de Trabalho (GTs) e Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE). A equipe de psicologia foi incluída nesse núcleo, em processo de construção, com pedagogia e serviço social, cujas ações descreveremos posteriormente.

Período de Realização
O projeto de extensão realiza uma etapa preparatória para o campo através de estudos e pesquisas sobre o tema e mapeamento dos possíveis campos de atuação em fevereiro de 2023. Após a aproximação e primeiros contatos, iniciaram-se as ações junto ao núcleo do PVC, ainda em andamento.

Objetivos
Descrever as ações e reflexões desenvolvidas no projeto de extensão, especificamente no segundo eixo de atuação anteriormente mencionado, com vistas a subsidiar os PVC, apresentando desafios, reflexões e desdobramentos do processo de um trabalho coletivo e interdisciplinar de psicologia social na interface com saúde e educação.

Resultados
A psicologia realizou acolhimentos de crise dos estudantes frente a pressão psicológica e sobrecarga do processo preparatório. Contudo, as solicitações exclusivamente voltadas para atendimento individualizado levantou questionamentos sobre conceitos de “assistência” e “apoio” e o papel a ser desempenhado pela equipe de psicologia. As primeiras demandas foram endereçadas aos diferentes campos disciplinares, levando em consideração o papel atribuído a cada área dentro do núcleo. À pedagogia designou-se o suporte às necessidades educacionais de cada estudante. À psicologia demandou-se acompanhamento psicológico individual aos estudantes e a participação nos círculos de cultura freireanos. Neste sentido, o trabalho da psicologia junto a outras áreas disciplinares revelou fricções, negociações, tensões e novos questionamentos.

Aprendizados
A necessidade de repensar integralmente o processo foi um ponto de partida para refletir sobre os desafios da fragmentação da equipe em microgrupos e ampliar a concepção de saúde, entendendo processos de saúde/adoecimento como constitutivos nas/das relações sociais e políticas. Essas questões exigiram reflexões e análises coletivas cotidianas e nos indicaram a necessidade de ampliar as ações do núcleo, considerando os atores sociais - estudantes, educadores e coordenadores - em relação e atravessados pela dinâmica institucional.

Análise Crítica
As reflexões coletivas, no interior da equipe do NAE, culminaram em uma proposta de mudar a nomenclatura do núcleo para Núcleo de Emancipação e Formação Humana (NEFH).
A disputa de sentidos a respeito da sigla traz algumas questões: o que se entende como prática emancipatória no contexto de um projeto de educação popular? De que forma construir uma prática verdadeiramente emancipatória, que inclua a “assistência”, mas que rompa com relações de tutela e assistencialismo? Qual seria o papel de um núcleo que tem como cerne o apoio e promoção de saúde na interseccionalidade com diversos marcadores sociais? Estas questões são fundamentais para que as ações sejam construídas a partir de um processo de reflexão de forma que a teoria subsidie a prática, mas não se torne algo a ser aplicado sem reflexão e desconectado da realidade sócio-política brasileira.