02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC13.2 - Extensão na perspectiva decolonial |
47789 - A CURRICULARIZAÇÃO DA EXTENSÃO NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE DE POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS
MANUELLE MARIA MARQUES MATIAS - UFF
Contextualização
A Universidade Federal Fluminense (UFF) avançou na construção de uma proposta curricular inovadora no curso de graduação em Medicina, assim como na sua implementação, já na década de 1990. Essa proposta buscava superar a fragmentação e superespecialização na formação médica, ao mesmo tempo que entendia que temas de cunho social deveriam estar presentes no cotidiano da reflexão dos estudantes. No primeiro ano do curso de graduação em Medicina é oferecida a disciplina Trabalho de Campo Supervisionado I (TCS I). Desenvolvida em dois eixos: Saúde e Cultura na perspectiva da diversidade e direito à saúde” e “Produção do cuidado em saúde na perspectiva da integralidade e equidade”, a disciplina de TCS I busca, por meio da diversificação de cenários de ensino-aprendizagem, promover reflexão sobre alguns temas articulados à política de saúde, dentre os quais podemos citar: HIV e Aids; cotidianos do trabalho médico, bioética, população LGBTQIA+; saúde mental; infâncias; envelhecimento; saúde e ambiente; álcool e outras drogas; território; populações vulnerabilizadas. Quase três décadas depois, novos desafios se colocam para a educação médica, com a emergência de novos dilemas sociais. Ao lado disso, na ordem do dia, temos o desafio da curricularização da extensão nas Universidades.
Descrição
Na perspectiva de superar o perfil mais assistencialista da extensão, as preceptoras e preceptores de TCS I realizaram, ao longo do ano de 2022, reuniões periódicas para debater a extensão e seus desafios. A aproximação com a perspectiva da “extensão popular” se deu por meio de um encontro de trocas e compartilhamento realizado entre docentes da UFF e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A partir daí, estava posto o desafio de pensar nossas próprias ações de curricularização da extensão. Quatro ações de extensão foram realizadas ou estão em desenvolvimento: uma Oficina Interprofissional; uma aula de campo na Escola Popular de Boxe da Comunidade do Baú/Cavalão de Niterói; uma aula de campo no quilombo do Grotão na cidade de Niterói e uma aula de campo junto à Creche “Mães Trabalhadoras” no município de São Gonçalo.
Período de Realização
As ações relatadas aqui foram realizadas entre maio de 2022 e julho de 2023.
Objetivos
Este trabalho objetiva relatar a experiência do grupo de “Populações Vulnerabilizadas” da disciplina de TCS I na operacionalização da curricularização da extensão.
Resultados
A primeira ação de extensão realizada se refere a uma experiência de interprofissionalidade. Desde 2019 um grupo de docentes dos cursos da saúde tem realizado uma experiência de Oficina Interprofissional. Em 2023, a Oficina Interprofissional conseguiu articular cinco cursos: Medicina, Enfermagem, Odontologia, Nutrição e Psicologia na proposição e estudo de um caso resolvido no contexto de uma equipe de saúde da família.A segunda ação de extensão foi realizada em articulação com lideranças comunitárias da comunidade do Baú/Cavalão na cidade de Niterói que realizam um projeto social para crianças e jovens junto à Escola Popular de Boxe. A Escola Popular de Boxe é um Projeto Social fundado em 2020, na pandemia, e atua com jovens e crianças a partir dos 4 anos de idade, utilizando o esporte enquanto ferramenta de educação antirracista, antilgbtfóbica, antipatriarcal e anti-reacionária.O projeto abarca ainda a luta por moradia e tem em sua composição um Comitê de erradicação da pobreza que é encabeçado pelo boxe, onde se discute a fome com as famílias da comunidade. Outras duas ações serão realizadas no primeiro semestre de 2023: uma aula de campo no quilombo do Grotão e uma aula de campo junto à Creche “Mães Trabalhadoras”.
Aprendizados
As ações realizadas são uma primeira experiência de articulação entre extensão e ensino, necessitam ser aperfeiçoadas a longo prazo e demandam avaliação contínua. No caso da experiência de interprofissionalidade desenvolvida, apesar de ser uma imagem-objetivo, a integração entre os cursos da saúde ainda não se efetivou na prática, mas foi dado um pequeno passo na direção de uma prática colaborativa entre as diversas profissões.A experiência na comunidade do Baú/Cavalão junto ao projeto social da Escola Popular de Boxe permitiu abrir horizontes na discussão sobre saúde como prática social e sobre a determinação social da saúde. Ambas mostraram-se importantes dispositivos de reflexão para uma prática médica engajada.
Análise Crítica
Apesar do princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão na Universidade, a extensão permanece como um desafio no cotidiano da formação, sobretudo na área da saúde. Especialmente porque ainda é hegemônica uma compreensão mais assistencialista em detrimento da perspectiva freireana que considera a extensão como comunicação de saberes. No contexto da produção do cuidado em saúde de populações vulnerabilizadas, perspectiva apontada pela disciplina, a extensão aparece como ferramenta potente na formação de estudantes, pois aponta novas saídas para uma inserção maior da Universidade na realidade social e política brasileira.
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