Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC14.1 - Mulheres e emergências sanitárias

46039 - REPERCUSSÕES PÓS-COVID-19 DO SOFRIMENTO PSÍQUICO VIVENCIADO POR MULHERES PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE ATUARAM NO CONTEXTO DA PANDEMIA
VIVIANE ANDRADE PINHEIRO - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A pandemia de COVID- 19, que teve seu início em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, onde foram notificados casos de infecção por um novo corona vírus, o SARS-CoV-2. Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decreta a pandemia global da COVID-19, a qual provoca comprometimentos físicos e psicológicos, além de deixar marcas na cultura, na economia, na sociedade e nos corpos das diversas pessoas que a vivenciam. As questões relacionadas às modalidades de vulnerabilidade são relevantes diante da atual pandemia: contextos de trabalho precários, condições socioeconômicas instáveis, variadas formas de violência, opressões e violações. Estas modalidades expõem, portanto, grupos determinados – definidos por gênero, raça, orientação sexual, situação socioeconômica e idade – e os colocam à mercê do adoecimento e da morte. As desigualdades de gênero na COVID-19 aparecem nas esferas do trabalho, renda, saúde mental e violência doméstica. As mulheres também são maioria entre as profissionais de saúde que atuam na linha de frente, e são 70% da força de trabalho em saúde no mundo, sendo expostas a diversos fatores: risco de contaminação, trabalho excessivo, escassez de equipamentos de proteção individual, falta de capacitação técnica, desgaste físico e psicológico, mortes de colegas de trabalho, além da demanda de controle emocional e medo constante. Dessa forma, a suscetibilidade à COVID-19 necessita ser compreendida à luz dos contextos histórico-sociais, tendo em vista que todas as pessoas são sensíveis à infecção pelo SARS-CoV-2, porém a possibilidade de proteção contra o vírus, bem como as consequências sociais negativas, não é igualitária, e sim conforme as condições de vida e de acesso a bens, serviços e direitos sociais. As desigualdades econômica e social são imperativas nestes tempos, assim como os recortes de gênero e de raça as intensificam.

Objetivos
Trata-se de pesquisa de doutorado e a pretensão é compreender quais as repercussões Pós-COVID 19 do sofrimento psíquico vivenciado por mulheres profissionais de saúde que atuaram no contexto da pandemia e promover um amplo entendimento acerca das experiências das mulheres profissionais de saúde em um contexto de pandemia; dos efeitos da interseccionalidade nas relações de trabalho; e das repercussões na saúde mental das profissionais de saúde no contexto pós-COVID-19.

Metodologia
Esta pesquisa está dividida em duas fases. A Fase 1: Pesquisa qualitativa, com entrevistas semiestruturadas, realizadas com 17 profissionais de saúde da equipe expandida da COVID-19, expostas à pandemia em Belo Horizonte/MG. Foi realizada leitura flutuante e posterior análise de conteúdo temática das entrevistas na perspectiva de Bardin (1995). A Fase 2: Pesquisa qualitativa, com entrevistas semiestruturadas realizadas com 11 profissionais de saúde da equipe expandida da COVID 19, expostas à pandemia em Belo Horizonte/MG, e que apresentaram sofrimento ou adoecimento psíquico no contexto pandêmico. Perguntar-se-á às profissionais de saúde quais as repercussões Pós-COVID 19 do sofrimento psíquico vivenciado no contexto da pandemia.

Resultados e discussão
Após análise leitura flutuante das entrevistas da Fase 1 percebeu-se que um grande número de profissionais de saúde adoeceram do ponto de vista psíquico durante a pandemia, e que adversidades de cunho laboral, psicossocial, sanitário e político contribuíram para o desenvolvimento e/ou intensificação do sofrimento psíquico destas mulheres vivenciaram medos, estresses e ansiedades. Pretende-se analisar se tais sintomas e sentimentos permaneceram no contexto Pós-COVID 19. A pesquisa encontra-se em processo de execução. A Fase 1 teve como objetivo investigar as experiências destas mulheres em relação a diversas situações de suas vidas no contexto da pandemia de COVID-19. Foram abordadas nas entrevistas semiestruturadas questões relacionadas às alterações nas rotinas e nos contratos de trabalho, capacitações em serviço, Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adequados para o momento, excesso de horas trabalhadas, assédio moral no trabalho, estratégias de tratamento e reabilitação referentes às sequelas da COVID-19, alterações na rotina familiar e nas relações sociais, saúde mental e adoecimento/sofrimento psíquico ligados às vivencias pandêmicas, apoio institucional, vacinação e atuação do governo federal na pandemia, e ainda cuidados ofertados pelas mulheres para além do ambiente de trabalho, como por exemplo, no ambiente doméstico (cuidados com a casa, filhos, maridos, pais idosos, pessoas doentes e vizinhos). As análises de conteúdo da Fase 1 estão em andamento. A Fase 2 terá início nos próximos meses.

Conclusões/Considerações finais
Espera-se com este estudo ampliar a representatividade de gênero na construção de políticas públicas nas áreas de saúde, sociais e econômicas, referentes à resposta à COVID-19 e à preparação para futuras crises sanitárias.