Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC14.1 - Mulheres e emergências sanitárias

46383 - EXPERIÊNCIAS DE MULHERES FRENTE A PANDEMIA DE COVID-19
TATIANA WARGAS DE FARIA BAPTISTA - IFF/FIOCRUZ, FLÁVIA DE ASSIS SOUZA LOPES - IFF/FIOCRUZ, CELITA ALMEIDA DO ROSÁRIO - IFF/FIOCRUZ, FERNANDA RIBEIRO DOS SANTOS DE SÁ BRITO - IN/UFRJ, GEORGIA ROLEMBERG LAU - IFF/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O estudo traz para centralidade experiências de mulheres no cotidiano da pandemia e pós-pandemia de Covid-19. Na pandemia, vulnerabilidades como a fome, as situações de violência doméstica e sexual, o desemprego, a sobrecarga de trabalho e os eventos de saúde mental se acentuaram, sendo importante trazer para centralidade as histórias invisibilizadas destas mulheres, como subsídios para se pensar que políticas são necessárias para o enfrentamento desta realidade. As perguntas que mobilizam o estudo são: 1) Como diferentes mulheres viveram o momento pandêmico? 2) Que situações impactaram seu cotidiano e geraram novas demandas na organização de suas vidas? 3) Que estratégias foram utilizadas pelas mulheres? 4) Como o Estado brasileiro se organizou para enfrentar os desafios desse novo cenário, em específico as situações vividas pelas mulheres?

Objetivos
Reconhecer experiências de mulheres a partir do seu relacionamento com o Sistema Único de Saúde (SUS) e compreender suas vivências no enfrentamento à pandemia de Covid-19 e no período pós-pandêmico, considerando as interseccionalidades que as atravessam (raça, gênero, classe, deficiências, geração e outras).

Metodologia
A pesquisa sustenta-se na investigação narrativa (Castellanos, 2014), onde cada história contada e vivida é situada e compreendida dentro de narrativas culturais, sociais e institucionais mais amplas. Para reunir as experiências, buscamos o contato com mulheres a partir do ‘’universo familiar’’(Velho, 1978). Ou seja, ‘uma mulher puxou a outra’ indicando alguém que considerou importante de ser ouvida. A pesquisa também acompanhou as políticas/ações governamentais voltadas para a garantia de direitos das mulheres no momento pandêmico. Também foram realizadas revisões sobre a temática ‘mulheres e pandemia’, leituras e debates sobre a perspectiva interseccional. A pesquisa foi aprovada no Comitê de ética em Pesquisa (CEP) sob número CAAE 63346122.9.0000.5269.

Resultados e discussão
A partir dos relatos reunidos reconhecemos que as dificuldades vividas durante a pandemia mobilizam cada uma das mulheres em lugares diferentes e que essas diferenças estão relacionadas a suas identidades e inserções diversas. Cada história possibilita trazer à tona uma situação diferente de vulnerabilização, tornando visível uma pauta de reivindicações que merece atenção do poder público, no compromisso com uma vida mais digna para todas/todos/todes.
Elencamos algumas questões que se apresentam de forma marcante na vida dessas mulheres. Destacamos cinco aspectos: as políticas de proteção social; o acesso aos serviços de saúde; as dificuldades territoriais e estruturais em espaços conflagrados pela violência; a desproteção dos profissionais da saúde/precarização do SUS e as mulheres; e o lugar exclusivo do cuidado.
Os efeitos das imbricações de gênero, raça, classe, território, capacitismo, se materializam na realidade das mulheres quando elas precisam ter acesso aos aparelhos/políticas de Estado e não têm respostas para as suas demandas.
Ouvimos relatos sobre ausência de apoio estatal às condições de vulnerabilidade expressadas por nossas interlocutoras. Observamos que o tema cuidado e maternidade é um ponto que une mulheres de diferentes realidades e que por mais que estejam distanciadas em termos de classe social, algumas estando localizadas em classes mais privilegiadas e outras em situação de maior vulnerabilização, a sobrecarga de trabalho físico e mental é mencionada por todas.


Conclusões/Considerações finais
Os achados trazem contribuições importantes para se pensar saúde, o modo de produção de conhecimento sobre saúde e como construir proposições para novas políticas e práticas em saúde. O desenvolvimento de uma pesquisa baseado na interação e troca de saberes entre mulheres, sejam elas participantes da equipe de pesquisa ou convidadas a participar, revela uma potência e dinâmica de questões que obrigam ao redirecionamento do olhar para a compreensão das situações concretas e cotidianas que afetam a vida das mulheres. Mulheres seguem sendo invisibilizadas em diferentes nuances de suas vidas e, embora estejam à frente dos cuidados diversos, ainda continuam sendo negligenciadas no recebimento de cuidados. Para além da defesa de direitos é preciso avançar na mudança de práticas e defender valores que respeitem todas as vidas por igual, sem hierarquizações e diferenciações.