Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC14.1 - Mulheres e emergências sanitárias

46686 - MULHERES PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS TRÊS NÍVEIS DE ATENÇÃO DA REDE SUS-BH
LUCIANA COSTA NORMANDIA - PUC MINAS, ALESSANDRA SAMPAIO CHACHAM - PUC MINAS


Apresentação/Introdução
Os efeitos da pandemia do novo coronavírus foram sentidos por indivíduos e coletividades, independentemente de escolhas ou ações pessoais, com consequências não só no campo da saúde, mas também em processos psicossociais. No entanto, para certos grupos específicos, a pandemia exacerbou ainda mais as fragilidades. Em meio a esse cenário, destaca-se o papel dos profissionais de saúde, vistos ora como verdadeiros heróis e aplaudidos, ora como indivíduos evitados devido à sua proximidade com a doença e à possibilidade de serem agentes de disseminação do vírus, uma situação ainda mais complexa quando verificamos a questão de gênero. O grupo analisado neste trabalho, o das profissionais de saúde do sexo feminino, está enquadrado no grupo mais vulnerável aos efeitos nocivos advindo da pandemia do novo Corona vírus pelo marcador social de gênero e também devido ao seu exercício profissional enquanto trabalhadora da área da saúde. Dessa forma, partimos do entendimento de que as fragilidades apresentadas nesta situação não seriam somente clínicas, mas sociais também, podendo ocasionar um adoecimento tanto físico, como psíquico.


Objetivos
Analisar o impacto da pandemia e do estigma associado ao novo coronavírus nas condições de trabalho das profissionais de saúde que lidam com a covid-19 em diferentes níveis de atenção da Rede do Sistema Único de Saúde (SUS), em Belo Horizonte.



Metodologia
Optamos pela metodologia qualitativa visando apreender os aspectos subjetivos implicados na situação. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas em profundidade com dez mulheres entre 30 a 58 anos, trabalhadoras da área da saúde da rede SUS de Belo Horizonte, entre julho e outubro de 2021. A critério de saturação foi utilizado para determinar o número de entrevistas. As entrevistas foram realizadas com profissionais operadoras das ações de saúde nos equipamentos da Rede SUS-BH dos níveis primário, secundário e terciário; contudo, o objetivo não foi fixar em determinada função. Nesse sentido, optamos por não trabalhar com uma categoria específica, mas com profissionais de diferentes setores desses equipamentos de saúde.

Resultados e discussão
Nós identificamos nas narrativas das profissionais entrevistadas que a alteração abrupta dos processos de trabalho advinda da pandemia ocasionou um desconforto e uma sobrecarga física e emocional a estas pessoas pela expectativa do inesperado. Sobre as interações das profissionais com o outro, foram observadas respostas relacionadas a duas situações distintas da ocorrência do fenômeno. A primeira, a presença do estigma e a discriminação em decorrência do adoecimento pela Covid-19 no local de trabalho, e a segunda, sobre o estigma direcionado à profissional em interação fora do ambiente de trabalho. Aqui houve um consenso generalizado, todas relataram que em algum momento sentiram-se estigmatizadas por sua atividade profissional, quer seja na família ou na comunidade de forma geral. Em relação às consequências da sobrecarga de trabalho, todas as entrevistadas informaram que as mudanças de rotina e práticas exigidas pela crise sanitária impactaram em sua saúde física e emocional, manifestando-se em questões físicas de sobrepeso, insônia e pressão arterial elevada. A grande maioria delas relataram questões de ordem psíquica, como medo, angústia, ansiedade, choro fácil, alteração de humor, apresentando ainda a necessidade de atendimento psicológico e uso de psicofármacos. No que se refere às questões relacionadas especificamente ao gênero, estas estiveram presentes em todas as narrativas, como uma situação que trouxe mais sobrecarga neste momento. Destaca-se aqui que a rede de apoio a essas profissionais, composta por 99% do gênero feminino, em que temos a presença das mães e empregadas domésticas como principais figuras de destaque.


Conclusões/Considerações finais
Concluímos que as trabalhadoras da saúde entrevistas, já expostas a diferentes fatores de vulnerabilidade, se sentiram ainda mais vulneráveis diante da pandemia de covid-19, sendo que o estigma que elas sofreram, em diferentes espaços, ligado ao medo da doença, aliado à sobrecarrega de trabalho no ambiente doméstico e no trabalho, falta de equipamento adequado, além do medo de serem contaminadas, foram talvez os fatores mais complexos em sua experiência. As falas das entrevistadas revelam que, independentemente do nível de atenção à saúde em que estão alocadas como trabalhadoras, os impactos resultantes da junção pandemia e questões socioculturais foram sentidos da igual forma, tornando-se uma mistura explosiva com grande potencial de manutenção e surgimento de vulnerabilidades e adoecimento. Os achados da pesquisa vieram confirmar a grande desigualdade existente na sociedade, que pende mais sobre o gênero feminino e o fragiliza ainda mais, uma vez que o total das entrevistadas afirmou que, além de trabalhadoras da linha de frente no combate à Covid-19, foram as principais responsáveis pelo cuidado do lar.