Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC14.1 - Mulheres e emergências sanitárias

47645 - MUDANÇAS NOS ITINERÁRIOS COTIDIANOS DE CUIDADOS DE MÃES COM FILHOS COM A SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA
RUSSELL PARRY SCOTT - UFPE


Apresentação/Introdução
De Itinerários Terapêuticos extenuantes e variadas durante a epidemia do Zika as mães com filhos com a síndrome congénita do Zika (SCZ) têm passado para viver itinerários cotidianos que são muito diferentes que os que viviam durante a emergência sanitária. Com base num acompanhamento longitudinal, entrevistas e produção de vídeos este trabalho discute as mudanças na vida cotidiana e nas relações sociais e ideias criadas sobre maternidade em contextos relacionados com atividades para elas e para os filhos.

Objetivos
As experiências de seis mães e duas diretoras de associações são discutidas a luz de como está sendo o cuidado hoje em dia em contraste com o período de emergência e o período da pandemia, realçando mudanças na idade e organização da casa, a relação com outras famílias que estão cuidando de alguém com SCZ, atendimentos nos serviços de saúde e em outros serviços, na relação com pesquisadores e na definição de prioridades nas suas vivências e demandas atuais.

Metodologia
Usa dados da pesquisa Etnografando Cuidados realizada de 2016 a 2020, da discussão no Fórum de Zika na Pandemia em 2021, e entrevistas em 2023. Mostra as mudanças no exercício de relações de gênero e do exercício da maternidade e de empoderamento das mulheres. Os dados de etnografando cuidados são provenientes de um amplo acervo no qual se incluem relatos de pesquisa de campo, entrevistas gravadas e produção colaborativa de vídeos das mães focalizadas neste trabalho, respaldados em informações de muitas outras mães e cuidadoras e cuidadores, atendentes de saúde e de gestão política e pesquisadores. Esse trabalho foi realizado com o apoio de CNPQ/CAPES/DECIT e de FACEPE/Newton Fund. O Fórum de Zika na Pandemia é um coletivo de mães, diretoras de associações, profissionais e gestores e pesquisadores que continuaram discussão depois da pesquisa e produziram uma moção (com entrevistas e elaboração colaborativa) na IV Reunião de Antropologia de Saúde sobre as demandas e atividades dessas pessoas em relação aos cuidados para as pessoas com SCZ de diversos pontos de vista existentes no final da pandemia de COVID19. As entrevistas em 2023 são com as mesmas mães e diretoras de associações.

Resultados e discussão
Voltando aos itinerários vividos na emergência, contrasta e discute o processo de modificação e de permanência de elementos diferentes de cada experiência descrita. Uma apresentação e discussão do apelo sintético em vídeo de cada mulher sobre o que mais se precisa hoje acentua as modificações e permanências de demandas atuais. Os dados mostram a construção mutante das relações de gênero, de maternidade, do modo de viver e da cidadania em relação ao desenvolvimento dos ciclos de desenvolvimento doméstico de filhos especiais associados ao evento emergencial e às condições pós-emergenciais. Mostra que o desenvolvimento das crianças em si modificou o perfil e organização das demandas e mostra uma crescente dificuldade de encontrar serviços especializados e apoios depois do fim da emergência.

Conclusões/Considerações finais
A criatividade das mães e das associações em lidar com a ambígua crescente visibilidade política de questões associadas a deficiência e a ocultação de visibilidade da Zika. A maternidade combativa e empoderadora associada à deficiência e à busca de inclusão e cidadania, tanto reforçada quanto fragilizada por ter sido formada numa condição de emergência, se apresenta num realce em expressões de emoções de afeto eivado de sacrifício e dedicação que exigem uma flexibilidade de ações e um tensão nas relações de gênero vividas.