47954 - SIGNIFICAÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE MULHERES INFECTADAS POR COVID-19 NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL THALITA NASCIMENTO GAZAR - SESAB, GLEICE DE OLIVEIRA CORDEIRO - UEFS, SÂMELLA DOS SANTOS VIEIRA DE MENEZES - UNIVASF, DALILA DE MATOS CARNEIRO - UEFS
Apresentação/Introdução A Covid-19 impactou as taxas de morbimortalidade, diferencialmente para gestantes e puérperas, requerendo novos protocolos clínicos. Além de produzir estratégias de cuidado para as afetações biológicas, é relevante considerar as demais dimensões da vida de mulheres que se infectaram no ciclo gravídico-puerperal, um olhar das Ciências Sociais da Saúde.
Objetivos Descrever como mulheres significaram suas experiências de estarem infectadas pela Covid-19 no ciclo gravídico-puerperal.
Metodologia Trata-se de um estudo multicêntrico, de levantamento de dados por bola de neve entre 5 de outubro de 2021 e 10 de fevereiro de 2022. Contribuíram 721 mulheres brasileiras que gestaram e pariram durante a pandemia. Neste recorte, considerou-se 70 participantes infectadas que responderam à pergunta “Se você foi infectada com a Covid-19 no seu ciclo gravídico-puerperal, fale sobre sua experiência sobre os cuidados em saúde e os impactos em sua vida pessoal”, além de dados sociodemográficos e biopsicossociais. Os dados foram analisados com SPSS versão 22 e Iramuteq 0.7 alpha 2, com auxílio da Classificação Hierárquica Descendente. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (parecer n.º 4.169.212).
Resultados e discussão Quanto ao perfil, 48,6% (n = 34) das participantes eram negras, 94,3% (n = 66) vivendo um relacionamento amoroso, 95,7% (n = 67) heterossexuais, 51,4% (n = 36) primigestas e primíparas, com idade média de 31,81 anos (σ = 5,4). A maioria tinha pós-graduação concluída/andamento (51,4%, n = 36), vivia com renda mensal de um a três salários-mínimos (32,9%, n = 23) e morava na região Nordeste (67,1%; n = 47). Referente à infecção por Covid-19, 82,9% (n = 58) foram infectadas na gestação, 5,7% (n = 4) no parto e 11,4% (n = 8) no puerpério. Tais variáveis são relevantes à medida que o cuidado à saúde é atravessado pelas desigualdades sociais, a exemplo de gestantes negras que evoluíram para piores condições clínicas, em função de precariedades na assistência à saúde.
Quanto à prevenção de Covid-19, 82,9% (n = 58) realizaram parcialmente o isolamento social e 97,1% (n = 68) se vacinaram. Durante a pandemia, 58,6% (n = 41) sentiram dor de cabeça, 50% (n = 35) insônia, 27,1% (n = 19) choro constante e 15,7% (n = 11) pesadelos. Referentes aos receios, 47,1% (n = 33) relataram medo da própria morte, 64,3% (n = 45) da morte de familiares e 28,6% (n = 20) de não conseguir assistência devido à sobrecarga no sistema de saúde. Em relação às sensações, 50% (n = 35) relataram ansiedade intensa e desânimo, 41,4% (n = 29) medo exagerado e 38,6% (n = 27) desamparo. Dessas, 14,3% (n = 10) foram diagnosticadas com transtorno mental no período. Referente ao suporte social, 87,1% (n = 61) contaram com companheiro(a), 85,7% (n = 60) com familiares e 44,3% com amigo(a)s (n = 31). 11,4% (n = 8) perderam alguém da rede de apoio por Covid-19.
Quantos aos relatos, foram separados em 114 segmentos de texto, com aproveitamento de 77,19%, e 3.121 palavras. Na Classificação Hierárquica Descendente, a ramificação principal contém a classe 6, referente aos anseios, cujas palavras estatisticamente significativas (p < 0,0001) foram: ansiedade, perder e experiência, e a sub-ramificação dos aspectos de saúde, que contém a classe 5 concernente à prevenção da Covid-19, cujas principais palavras foram: cuidado, contato, sempre e continuar e a sub-ramificação “experiência da infecção”. A última, inclui a classe 3, relativa ao processo do adoecimento, com ênfase nas palavras: passar, mal, difícil, assistência e acontecer, e a sub-ramificação dificuldades e apoios, contendo a classe 2, relacionada aos suportes, sejam da rede de apoio ou do sistema de saúde, contendo em destaque os termos: minha mãe, precisar, hospital e devido, e uma nova sub-ramificação, que intersecciona o ciclo gravídico-puerperal e a infecção da covid-19, que contempla a classe 1, referente à descoberta da infecção, com as palavras saber, não e exame, e a classe 4, pertinente ao período do ciclo gravídico-puerperal, com destaque para: parto, usar e antes.
Os resultados demonstram significações da experiência marcadas por desafios físicos e psicológicos, como os sentimentos de medo e ansiedade intensos, perda do suporte social, exemplificados em dados estatísticos e palavras escolhidas nos relatos. Os achados na literatura evidenciam sensações similares no ciclo gravídico-puerperal, incluindo o medo da morte, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, desafios na amamentação, sofrimento psíquico relativo às alterações da rede de apoio.
Conclusões/Considerações finais Concluiu-se que identificar as significações sobre estar infectada neste período é relevante, porque suas sequelas são tão danosas e passíveis de cronificação quanto as relatadas para os sintomas biológicos para os quais há prevenção com vacinas e terapêuticas medicamentosas. Os impactos da pandemia se perpetuaram também no âmbito psicossocial, negligenciados pelo poder público.
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