Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC15.3 - Promoção, educação e comunicação em/na saúde

46793 - EVENTO DE CUIDADO À SAÚDE DA POPULAÇÃO TRANS E TRAVESTI PARA PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
GABRIELLE KARLA DE OLIVEIRA DANTAS - UFRN, ISABELA CORONELLI AUGUSTO - UFRN, BRÍGIDA GABRIELE ALBUQUERQUE BARRA - UFRN, MARIA ÂNGELA FERNANDES FERREIRA - UFRN


Contextualização
Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil se identificam como trans e não binárias, o equivalente a praticamente 2% da população, de acordo com dados da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Apesar do número expressivo e das políticas públicas direcionadas a este público – como a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) e o Processo Transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS) – essa população ainda enfrenta dificuldades quanto ao acesso à saúde e atendimento de suas necessidades específicas no Brasil. Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo apontou que, da amostra estudada (6693 participantes, sendo 1332 parte da comunidade LGBT), as taxas de depressão foram maiores nesta população, enquanto a realização de exames de rastreio para câncer de mama, cólon e próstata foram menores. Ademais, a pesquisa associou ser LGBT com menor acesso à saúde, mostrando a vulnerabilidade dessa população. Outro dado preocupante é o da violência. No Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN), no período de 2015 a 2017 foram registrados 24.564 casos de violência contra a população LGBT, dos quais 46,6% eram transexuais ou travestis. Nesse contexto, torna-se crucial o desenvolvimento de medidas de qualificação dos profissionais da saúde, com o intuito de garantir direitos já estabelecidos, mitigar a discriminação e ampliar o acesso e a integralidade previstos no SUS.

Descrição
O evento “Transvivendo a clínica: cuidado integral à população trans e travesti” teve como público-alvo os médicos das equipes da estratégia saúde da família (ESF) do município de Natal e seus demais componentes, bem como estudantes de graduação dos cursos de medicina, saúde coletiva, farmácia, odontologia e enfermagem. A programação foi dividida em duas mesas temáticas: “Gênero, Sexualidade e Políticas de saúde LGBT” e “Cuidados clínicos, hormonização, Profilaxia Pré e Pós-exposição ao HIV (PReP e PEP) e Anticoncepção” compostas por pessoas LGBTI+. Na primeira mesa, discutiu-se a respeito da construção de conceitos de gênero e sexualidade e questões presentes nas políticas públicas de saúde LGBT no âmbito nacional e municipal, dando enfoque na garantia de direitos e conquistas da população trans e travesti contrastando com o cenário atual. Já no segundo momento, abordou-se informações quanto ao processo de hormonização, focando em indicar as drogas mais pertinentes, suas posologias e farmacodinâmicas, ressaltando também os benefícios e possíveis efeitos adversos da prática. Além disso, foram discutidos os melhores métodos contraceptivos para trans masculinos e femininos, sua interação com os medicamentos da hormonização, os conceitos e usos de PEP e PrEP, juntamente com comentários mais breves sobre exames preventivos, pré-natal e gestação em homens trans. Ao fim de cada mesa temática houve discussão aberta e reflexão entre os participantes e os palestrantes de cada mesa.

Período de Realização
O evento foi realizado em 06 de junho de 2023, no auditório da Escola de Governo (Natal/RN), das 8h às 17h00.

Objetivos
Compartilhar as experiências das discussões fomentadas pelo evento “Transvivendo à clínica: cuidado integral à população trans e travesti”.

Resultados
O público do evento foi de 250 pessoas, entre estes 73 médicos, 147 outros profissionais da saúde e 30 estudantes. Houve expressiva contribuição dos representantes dos movimentos políticos e sociais da população trans presentes e um importante diálogo entre usuários e profissionais da saúde, sendo construído, assim, um espaço de partilha e de visibilidade dos problemas de acesso, integralidade e equidade em saúde vividos por esse grupo.

Aprendizados
A fragilidade da garantia dos direitos de saúde da população trans e travesti está diretamente relacionada à falta de qualificação e, muitas vezes, ao preconceito dos profissionais da área. Assim, a discussão interprofissional, aberta às demandas dos usuários, legitima a luta da população trans e revela-se como estratégia de mudança social.

Análise Crítica
A prática clínica ainda está pautada na patologização da transexualidade, o que se configura como obstáculo para o acesso à saúde e o entendimento da pessoa trans para além dos seus corpos e de forma individualizada. Há pouca iniciativa por parte dos profissionais na busca ou cobrança por informações e qualificações, instigando a persistência das iniquidades e marginalização. Logo, fortalecer e difundir as políticas de saúde para os profissionais médicos e demais atores da ESF, bem como discutir as necessidades específicas da população trans e travesti torna-se essencial para a despatologização e a humanização do cuidado.