47032 - MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PERPETRADA POR PARCEIRO ÍNTIMO: UMA ANÁLISE DA ROTA CRÍTICA PERCORRIDA PELAS MULHERES EM CUIABÁ, MT. CASSIA MARIA CARRACO PALOS - UFMT, LAURA POLIANNE DOS SANTOS VISNKIESKI - UFMT
Apresentação/Introdução A Violência Contra Mulheres apresenta-se como um problema de saúde pública mundial e um atentado aos direitos humanos. Tem como principal agressor o parceiro íntimo, por meio de agressões físicas, sexuais, emocionais e comportamentos controladores, os quais se associam a critérios da desigualdade de gênero, em que os homens são culturalmente tidos como detentores do poder e as mulheres subordinadas ao homem, em caráter de dominação. Tal violência é considerada um crime, justificado em função de estigmas construídos por meio de uma cultura patriarcalista.
Uma das ações para ajudar na compreensão da problemática das mulheres em situação de violência doméstica por parceiro íntimo é definida pela Organização Pan-Americana da Saúde como Rota Crítica, que consiste no caminho percorrido durante a sequência de decisões tomadas pela mulher e as respostas encontradas nessa busca de ajuda.
Objetivos Analisar a rota crítica, isto, é o caminho percorrido pelas mulheres em situação de violência doméstica perpetrada
por parceiro íntimo, amparadas em um serviço especializado na atenção desse tipo de
violência.
Metodologia Trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório descritivo, cuja produção de
dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e observação sistemática.
Foram consideradas participantes do estudo, 08 mulheres em situação de violência doméstica perpetrada por parceiro íntimo residentes no município de Cuiabá-MT, que estavam acolhidas no momento do estudo, pela Casa de Amparo - Vilma Benedita Rodrigues de Moraes.
Os dados foram analisados por
meio da técnica de análise temática indutiva proposta por CLARKE e BRAUN (2013)
sistematizadas em etapas.
Resultados e discussão A violência psicológica foi considerada como a pior forma, além de mais
recorrente entre as participantes.
As instituições e serviços procurados pelas participantes deste estudo foram: CRAS, CREAS, Postos de Saúde, Delegacia, PM, DEDM, Casa de Amparo e Igreja. Dessa forma, apesar das participantes realizarem a denúncia como uma estratégia de busca de ajuda, a Rota Crítica em Cuiabá-MT se inicia com a procura da mãe, amiga ou algum familiar próximo, porém nem todas encontram o apoio e ajuda que precisam. A atitude de denunciar parte de eventos que são considerados extremos, acompanhado do aumento da violência que coloca em risco de morte as mulheres e seus filhos, os quais presenciam rotineiramente as agressões.
A organização dos dados permitiu compreender a configuração do cenário que permeia as relações da rede socioinstitucional que a mulher se insere. Em dezembro de 1985, foi criada pela Lei 4.965 a primeira Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá, e após a criação da Lei Maria da Penha, em 2008 iniciou-se atendimentos às mulheres vítimas de violência doméstica..
O caminho crítico das mulheres em situação de violência inicia com a decisão de romper o silêncio e denunciar, porém, é necessário que elas percebam que estão sofrendo violência. Essa atitude nem sempre acontece, visto que muitas foram educadas e cresceram para aceitar como natural a violência por parte do marido, na resolução dos conflitos dentro das relações conjugais (MENEGHEL et al., 2011).
Conclusões/Considerações finais Todas as amparadas relatam como importante o apoio oferecido pela Casa de Amparo, pois percebem que podem retornar a vida com mais dignidade e respeito aos direitos humanos. No entanto, ressaltamos que este fato se caracteriza como uma limitação deste estudo, visto que as participantes foram mulheres acolhidas pelo serviço.
Via de regra as mulheres que ingressaram nesse itinerário de busca de ajuda são provenientes de classe social baixa, isso não significa que tal violência não esteja presente na classe média e alta, porém a vítima que tem um pouco mais de condições financeiras, já apresenta-se na Rota Crítica com outras possibilidades de apoio, amigos, ou outra residência para moradia e até mesmo apoio jurídico como a presença de advogados.
Vale destacar que o aumento da divulgação das informações referentes às possibilidades de ajuda para estas mulheres influencia diretamente na tomada de decisão para início da trajetória do processo de busca de ajuda.
Estruturalmente a violência doméstica contra a mulher segue atrelada ao patriarcalismo presente nas relações familiares que responsabiliza a mulher pela manutenção do casamento, incluindo o fato de que essas mulheres estão submetidas a uma situação de violência tão extrema, que elas sentem dificuldades de procurar ajudar, são dependentes financeira e emocionalmente, preferem acreditar na mudança do marido, com esperanças de resgatar o relacionamento que um dia tiveram com seus parceiros. A violência perpetrada por parceiro íntimo apresenta-se dentro de relacionamentos que perpetua a cultura de que as mulheres são inferiores aos homens e devem ser submissas, apontando aspectos referentes às desigualdades de gênero da sociedade, com ênfase nos comportamentos sexuais e nas relações de poder.
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