Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.1 - Violência e gênero: perspectivas interseccionais

47424 - REFLEXÕES SOBRE PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SALVADOR
ROSANA ANDRADE DE SANTANA - UFBA, JOILDA SILVA NERY - UFBA, CLARICE SANTOS MOTA - UFBA, THIAGO SANTOS DE SOUZA - EBMSP, KARINE DE SOUZA OLIVEIRA SANTANA - EBMSP


Contextualização
Trabalho de imersão em uma comunidade quilombola, em Salvador, realizado no marco do projeto, “Condições de vida e situação de Saúde de comunidades quilombolas do recôncavo da Bahia e Sergipe” em parceria com o programa de extensão da Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde pública (Bahiana em defesa da vida).



Descrição
Se realizaram observações em uma comunidade quilombola de Salvador em fevereiro e março de 2023. As visitas à comunidade durante esse período tiveram como objetivo refinar o olhar da equipe de pesquisa sobre as condições de saúde da população residente na comunidade quilombola, a fim de calibrar ou qualificar um roteiro de entrevistas para a produção de dados qualitativos, bem como possibilitar o encontro entre os pesquisadores e a comunidade quilombola.

Período de Realização
Visitas semanais, durante os meses de fevereiro e março de 2023.

Objetivos
Evidenciar, refletir e discutir sobre os processos de violência sexual e de gênero que afetam às mulheres de uma comunidade quilombola de Salvador.

Resultados
No decorrer das reuniões semanais na comunidade quilombola, com base nas observações feitas e nas conversas espontâneas com as lideranças, foram surgindo reflexões que levam em consideração a dinâmica patriarcal, sexista e misógina dentro da comunidade. Uma das lideranças comunitárias disse que havia sido ameaçada por denunciar e intervir contra essas práticas violentas dentro da comunidade. Também houve relatos de mulheres que escondem as marcas da violência praticada por seus maridos. Muitas dessas mulheres são as geradoras da renda familiar, mas têm seus cartões de benefícios retidos por seus maridos violentos. Pode-se considerar que a exposição contínua a processos de violência colocou essas mulheres em uma condição em que suas residências se tornaram cárceres privados.

Aprendizados
A partir dessas observações e vivências se ressalta a necessidade de intervenções efetivas e integrais, que tenham por objetivo garantir às mulheres quilombolas melhores condições de vida e saúde. É necessário considerar também que dentro desse processo de violências nas comunidades é importante reconhecer que os homens também são vítimas de uma estrutura social fincada em bases machistas e misóginas. Nesse sentido, é relevante pensar na formação de grupos de fortalecimento para essas mulheres e de educação em saúde para os homens procurando a desconstrução de atitudes patriarcais e misóginas.

Análise Crítica
A violência doméstica e familiar é um problema de saúde pública, presente historicamente na estrutura social que uma vez não combatido pode se tornar um ciclo perpetuando várias gerações de uma mesma família. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que as mulheres pretas, pardas e que possuem um menor rendimento familiar estão mais expostas a sofrer violência. É possível observar que a intersecção dos marcadores de gênero, raça e classe, uma vez sobrepostos, colocam essas mulheres mais expostas às opressões e violências. No caso das comunidades quilombolas, esses processos de violência se refletem no racismo institucional que dificulta e inviabiliza o acesso dessas mulheres a políticas públicas de saúde e de acesso à rede de proteção e prevenção especializada.