Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.2 - Desafios na atenção à gestação, ao parto e ao puerpério

47319 - PARTEIRAS TRADICIONAIS E O ENCONTRO DOS SABERES DA CAATINGA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
PAMELLA ROBERTHA ROSSELINNE PAIXÃO CELERINO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, RUTH CAROLINA LEÃO COSTA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, ISLÂNDIA MARIA CARVALHO DE SOUSA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, CAMILA PIMENTEL LOPES DE MELO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, JUNO PEDRO ALBUQUERQUE ALMEIDA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, SARAH SANTOS RIBEIRO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, CLAUDIA DE LIMA RODRIGUES SOUZA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, RUTE ABIGAIL SANTOS DA PAZ - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ/PERNAMBUCO, IAGO SERGIO DE CASTRO FARIAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA


Contextualização
O parto e o nascimento domiciliar assistido por parteiras tradicionais é uma realidade no país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, sobretudo nas áreas de campo, floresta, água, locais periféricos dos centros urbanos, com pouca concentração populacional e entre as populações tradicionais indígenas e quilombolas. Ao falarmos da atuação das parteiras tradicionais nos deparamos com contextos de invisibilidade do ofício, consequência das questões de gênero, raça e influência do capitalismo que levam a hegemonia da obstetrícia moderna sobre o corpo da mulher, e também cenários de atuação em campos permeados por iniquidades sociais, com mulheres vulnerabilizadas que recebem pouco ou nenhum apoio dos serviços de saúde. O escopo de atuação das parteiras muda de acordo com os marcadores sociodemográficos da população para a qual prestam assistência e as condutas adotadas por elas são diversas, perpassando pelas informações gerais sobre a gravidez, recomendações do uso de óleos, chás, massagens, benzimentos, pela atuação no parto, cuidados ao recém- nascido, auxílio no aleitamento materno, podendo até mesmo se estender aos cuidados da casa no puerpério imediato. Perceber e compreender de que forma se dá o cuidado das parteiras tradicionais é fundamental para concebermos novas formas de melhoria do cuidado a saúde dos diferentes povos, comunidades e populações com especificidades sociodemográficas, avançando nas inúmeras fragilidades, disputas e conflitos que surgem no campo da saúde reprodutiva.

Descrição
Uma das estratégias para se compreender a realidade material das parteiras tradicionais, fortalecer seus conhecimentos, possibilitar a troca de experiências e seu protagonismo vem ocorrendo durante a realização do evento “Encontro dos Saberes da Caatinga”, realizado em Exu, município localizado no sertão de Pernambuco, que reúne raizeiras, raizeiros, benzedeiras, rezadores e parteiras, considerados protagonistas do evento, na Chapada do Araripe (dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí), além de pesquisadores e estudantes. Durante o encontro são realizadas rodas de conversas com os protagonistas, nesses espaços ocorrem ricas trocas de experiências, bem como discussões de estratégias de resistências e fortalecimento dos saberes tradicionais. O encontro dos saberes da caatinga acontece anualmente desde 2017, no entanto com a pandemia de Covid-19 ocorreu a paralisação do evento em 2019 e a retomada presencial do encontro ocorreu apenas em 2022.

Período de Realização
Ocorreu de 11 a 17 de julho de 2022.

Objetivos
Descrever a experiência e reflexões de uma residente de Saúde Coletiva sobre as parteiras tradicionais durante participação no VI Encontro dos Saberes da Caatinga.

Resultados
A VI edição contou com a participação de uma parteira tradicional, que também era benzedeira. Ao ser questionada sobre a condução da roda de conversa, a protagonista em questão optou por participar do espaço de benzedeiras e benzedores. Dessa forma, no sexto encontro não ocorreu um espaço unicamente entre parteiras tradicionais, porém para que o evento não deixasse de abordar os saberes das parteiras foi realizado a exposição do documentário “Do nascente ao poente- como nasce uma parteira Pankararu” e o debate entre os presentes na exibição.

Aprendizados
Com a problemática apresentada sobre a participação de parteiras tradicionais na sexta edição do encontro algumas questões foram elencadas: a ausência reflete um enfraquecimento da atuação das parteiras tradicionais na Chapada do Araripe? Ou pode ser considerado um reflexo da sindemia da Covid-19? Essas questões apontam para o desafio crescente no âmbito da saúde pública de compreender o cotidiano e as práticas das parteiras, bem como contribuir para a preservação da memória e valorização das especificidades culturais e étnicas dessas mulheres.

Análise Crítica
Para além disso, não se pode negar a importância do Encontro dos Saberes da Caatinga enquanto espaço de fortalecimento dos conhecimentos tradicionais. A organização dos atores sociais locais, o protagonismo dos guardiões e guardiãs do saber popular, a oralidade do encontro, a troca de experiências, a oferta de cuidado por parte dos protagonistas, o respeito a ancestralidade e a coexistência de inúmeros sentidos de saúde marcam o evento como uma heterotopia, utilizando o termo Foucaultiano que bem descreve esse contraespaço real e preciso no qual há um desvio necessário para se viver as diversas formas de cuidado.