Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.2 - Desafios na atenção à gestação, ao parto e ao puerpério

47402 - AMAMENTAÇÃO E PATERNIDADE: O PAI NA SEMANA MUNDIAL DE AMAMENTAÇÃO
CAMYLLA SALES DA SILVA SANTANA - IFF/FIOCRUZ, MARCOS ANTONIO FERREIRA DO NASCIMENTO - IFF/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O leite materno é considerado o padrão ouro para alimentação de bebês. Deve ser oferecido exclusivamente até o sexto mês de vida e continuado até os dois anos de idade ou mais. Protege o bebê de diarreias, pneumonias, infecções de ouvido e alergias, possibilita um melhor desenvolvimento do sistema nervoso e diminui as chances de desenvolver diabetes, obesidade e alguns tipos de câncer na idade adulta, além de reduzir as mortes em menores de 5 anos. Considerado um híbrido de natureza e cultura, a amamentação é uma prática que, apesar de determinada biologicamente, é socioculturalmente condicionada e sofreu diversas modificações ao longo da história. Questões sociais, econômicas, políticas e culturais possibilitaram que se tornasse um ato regulável pela sociedade, um bem social compartilhado. Apesar das vantagens da amamentação, o desmame precoce tem altas taxas no Brasil, revelando o paradoxo entre o avanço do conhecimento científico e a amamentação como prática socialmente construída. Estudos apontam a importância e influência do pai no processo de amamentação, considerado figura de apoio e incentivo para a nutriz, a função do pai vai além da realização das tarefas cotidianas de manutenção da casa e cuidado com outros filhos. Por vezes o pai tem interesse e sente satisfação ao participar do processo de aleitamento, mas se sente excluído por considerar um ato íntimo entre a mãe e o filho. No contexto atual, temos observado mudanças na parentalidade e suas funções tem se reorganizado, sendo frequente o interesse para que haja maior participação dos homens nas funções de cuidado com os filhos. Ainda assim, em virtude das diferenças marcadas pelo gênero, por vezes, o papel do pai quanto ao ciclo gravídico-puerperal é o de expectador. A Semana Mundial da Amamentação (SMAM) é a primeira do Agosto Dourado, mês dedicado à promoção do aleitamento materno no Brasil e cuja cor remete ao padrão ouro atribuído ao leite materno. Tais fins estão alinhados aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Objetivos
Considerando a importância paterna no processo de amamentação, o objetivo foi identificar como o pai aparece nos cartazes da SMAM, que conta com uma série de materiais educativos e informativos produzidos por agências de publicidade para o Ministério da Saúde (MS). Aqui nos deteremos a analisar aqueles destinados ao público em geral, comumente a peça mais divulgada da campanha.

Metodologia
Foram coletados no portal do MS ou na internet os cartazes de 2008 a 2022, totalizando 15 anos de campanha. Eles foram analisados por meio da descrição das imagens e do texto escrito, buscando compreender se o pai está presente, como ele aparece e como as informações são direcionadas a ele.

Resultados e discussão
A maior parte dos cartazes conta com "madrinhas", figuras públicas cuja carreira estava em alta que amamentavam os filhos na época. Apenas em 2013 o pai aparece, na ocasião é o "padrinho" da campanha e acompanha a companheira que amamenta. Outros dois pais estrelam as campanhas de 2015 e 2017 e desde então a figura do pai passa a ser mais frequente. A partir de 2018 o pai está em todas as campanhas, em algumas aparecem outros filhos do casal, profissionais de saúde ou outros membros da família. A amamentação é apontada como direito da criança, utiliza-se um tom impositivo e poucas vezes se dirige a mãe, o pai não é interlocutor direto do texto. São campanhas que, apesar de trazerem o pai, não superam o modelo de atenção à saúde da mulher, limitando-se ao binômio mãe-filho. Em 2018, tem uma atriz negra acompanhada do parceiro é a "madrinha" e as campanhas passam a ter negros e anônimos como protagonistas. Em todas as imagens as pessoas estão sorridentes e felizes, com expressão serena e amamentando em ambientes de paz e tranquilidade.

Conclusões/Considerações finais
Sendo a amamentação uma prática associada ao universo feminino, pode ser que a ausência do pai tenha a ver com o grande número de famílias sem sua a presença. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem tem um eixo temático de Paternidade e Cuidado que objetiva sensibilizar quanto aos benefícios do envolvimento ativo dos homens em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com os filhos, destacando como esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis na família. A existência dessa política, a inserção do pai no pré-natal e as discussões a respeito das interseccionalidades entre gênero, raça, classe social e etc. podem ter contribuído para que o pai e outros marcadores sociais apareçam nas campanhas dos últimos anos, indicando um padrão de mudanças sociais. Entretanto, questiona-se se os discursos e apresentados nas campanhas são capazes de alcançar os sujeitos a quem se destinam e se conseguem promover mudanças nas práticas de incentivo e apoio à amamentação, uma vez que representam uma amamentação idealizada, com pessoas felizes e voltadas totalmente para o bebê e uma parentalidade nos mesmos moldes, ambas distantes da realidade.