Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.3 - Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva: desigualdades e estigma

46122 - SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: DEMANDAS E EXPERIÊNCIAS DE JOVENS DE COMUNIDADES DE BAIXA RENDA DE CINCO CIDADES BRASILEIRAS
SIMONE MONTEIRO - IOC/FIOCRUZ, ANDRÉA FACHEL LEAL - UFRGS, REGINA MARIA BARBOSA - NEPO/UNICAMP, LAIO MAGNO - UNEB, ANDRÉ MACHADO - UEA, ISABELLE HONORATO - UEA, DANIELA RIVA KNAUTH - UFRGS


Apresentação/Introdução
Segundo estudos nacionais, nos serviços públicos de saúde no Brasil são escassas as atividades participativas para jovens de promoção da saúde, associadas à sexualidade, reprodução e direitos. Igualmente são limitadas as ações de acolhimento e escuta das demandas juvenis relativas ao exercício da sexualidade por parte dos profissionais de saúde. Em geral, os serviços apenas disponibilizam preservativos e outros métodos contraceptivos e o acompanhamento do pré-natal. Ademais, faltam investimentos na formação e capacitação dos profissionais e na estrutura dos serviços. Este cenário foi ainda mais comprometido pelo desmonte das políticas na área da saúde sexual e reprodutiva (SSR) e dos direitos humanos, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), somado aos impactos negativos da pandemia de Covid-19 (2020-2022).

Objetivos
Este trabalho analisa as experiências e demandas juvenis relativas à prevenção e ao cuidado na área da SSR, com base nos depoimentos de 137 homens e mulheres jovens, majoritariamente heterocisgênero, moradores de cinco comunidades de baixa renda, localizadas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Salvador. O trabalho faz parte da pesquisa “Espaços Jovens”.

Metodologia
Orientado pela perspectiva socioantropológica, o estudo envolveu observação etnográfica de áreas de sociabilidade juvenil nas cinco comunidades, entrevistas individuais semiestruturadas com cerca de 30 homens e mulheres, na faixa de 15 aos 24 anos, de cada comunidade e alguns grupos focais. A investigação abarcou o período pré Covid-19 (2019) e as fases pandêmica pré vacinação (2020) e de imunização da maioria da população (2021); o que resultou em ajustes metodológicos, como conversas virtuais e mobilização de entrevistadores locais. O convite para os/as jovens participarem do estudo foi feito por meio de contatos com informantes locais, profissionais de saúde e lideranças sociais e pela aproximação durante a circulação na comunidade.

Resultados e discussão
As cinco localidades contavam com Unidades Básicas de Saúde, Clínicas da Família e Hospitais, próximos ou nas imediações, mas que apresentavam problemas estruturais e carência de recursos humanos. As poucas ações de SSR nas comunidades investigadas são pontuais e faltam avaliações sobre os seus efeitos e alcance. Quando indagados sobre a motivação para ir às unidades de saúde, grande parte dos(as) jovens relatou pouco vínculo em função da demora no acesso à consulta e dificuldade em resolver os problemas. Em geral, eles/elas procuram os serviços locais apenas em caso de adoecimento grave ou condições agudas. Segundo os relatos, diante de situações menos graves, predomina a prática da automedicação, a partir de consultas à internet, acesso à farmácia e/ou da indicação de familiares e lideranças comunitárias. Com relação às demandas no cuidado da SSR, os/as jovens referem a falta de ginecologistas e urologistas, demora no atendimento e ausência de preparo dos profissionais; uma minoria relatou experiências positivas nos serviços públicos, associadas à orientação e acolhimento dos(as) profissionais. Aqueles(as) com condições de pagar, recorrem aos serviços de saúde privados. A ida dos(as) jovens entrevistados aos serviços de saúde também ocorre em função do pré-natal ou para acessar preservativos e anticoncepcionais, principalmente injetável. Alguns expressaram receio de encontrar pessoas conhecidas nesses locais e outros se queixaram da qualidade do preservativo distribuído (Tem um cheiro ruim? É um plástico duro). Quanto às informações e dúvidas sobre SSR, parte afirma receber orientações da mãe e/ou pai, mas, em geral, existe dificuldade de conversar sobre sexualidade e reprodução na família. A internet é usada como fonte complementar de conhecimento.

Conclusões/Considerações finais
Os resultados apontam que o acesso aos métodos contraceptivos é a principal motivação, de caráter preventivo, para os(as) jovens buscarem os serviços de saúde. As unidades de saúde têm potencial para oferecer um atendimento qualificado aos jovens, por meio da escuta de suas necessidades, do diálogo e da orientação. Todavia, faltam espaços regulares para aprendizagem e diálogo sobre sexualidade, prevenção e cuidado para o segmento juvenil, decorrente da ausência de investimentos na atenção pública em saúde e na formação profissional. As atividades existentes são pontuais e pouco sistematizadas e avaliadas. Tal cenário se agravou com a pandemia de Covid e pelo desmonte de programas na área dos direitos e da SSR no governo federal de 2019 à 2022. Com base nos achados do estudo pretende-se formular um conjunto de recomendações, orientadas pelas relações entre SSR e redução das desigualdades sociais, raciais e de gênero e pela necessidade de criar espaços de aprendizagem e diálogo nas unidades de ensino e saúde, a partir de políticas públicas e parcerias entre setores do governo e do movimento social, atualizando experiências bem-sucedidas no contexto nacional.