Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC17.1 - Ludicidade, participação de crianças e adolescentes e promoção de saúde mental

46691 - O BRINCAR ENTRE A MERCANTILIZAÇÃO E A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE VÍDEOS DE BRINCADEIRAS E O PAPEL DOS ADULTOS
BÁRBARA MORAIS SANTIAGO FREITAS - IFF/FIOCRUZ, PAULA GAUDENZI - IFF/FIOCRUZ, NATÁLIA FERNANDES - IE/UMINHO, BÁRBARA COSTA ANDRADA - NUPPSAM/IPUB/UFRJ


Apresentação/Introdução
O fenômeno de crianças protagonizando vídeos online é uma marca da cultura infantil contemporânea. Os chamados youtubers mirins produzem conteúdos diversos, entre eles os vídeos de brincadeiras. Tais conteúdos são apresentados por narrativas que os situam como algo espontâneo e parte do cotidiano da criança em questão. Contudo, nos inquieta a percepção de que este “brincar” tenha sido em parte capturado pelas lógicas mercadológicas e nos perguntamos em que medida estaríamos diante de uma prática de exploração do trabalho artístico infantil.

Objetivos
Compreender os modos de participação de crianças e adultos nos vídeos; confrontar o tipo de participação de adultos e crianças com os conteúdos apresentados e; identificar a existência ou não de lógicas de exploração de mão de obra infantil.

Metodologia
Foi realizada uma busca com o termo “brincando” na ferramenta de busca da plataforma YouTube utilizando o navegador anônimo e com uma conta Google criada para a pesquisa. Os resultados foram organizados de acordo com a quantidade de visualizações. Foram assistidos 157 vídeos até chegar a 100 que cumpriam os seguintes critérios: a brincadeira como tema principal do vídeo e a presença de pelo menos uma criança brasileira envolvida diretamente na brincadeira. Inserimos em uma planilha dados dos vídeos, descrição da brincadeira, caracterização dos sujeitos e das relações apresentadas entre adultos e crianças. Fizemos uma análise quantitativa desse acervo.

Resultados e discussão
Dos 100 vídeos analisados, em 79 observamos a participação de adultos. Em sua maioria, pais (71%) e brancos (96%). Os adultos estão envolvidos diretamente com a brincadeira principal (67%) -- seja participando dos jogos e desafios, encenando um papel na dramatização ou explorando um espaço com as crianças. Há vídeos em que os adultos filmam ao mesmo tempo que direcionam a criança a fazer uma certa ação, como mostrar melhor um brinquedo, interagir com a audiência, sem participar da brincadeira (32%) e/ou dão algum suporte a brincadeira "atrás das câmeras", pegando objetos, tecendo comentários sobre o lugar etc (22%). As crianças neste contexto relacional, respondem prontamente às sugestões e direcionamentos dos adultos sem qualquer resistência no comportamento das crianças em relação aos direcionamentos, se elas ocorreram foram deliberadamente editadas. Além disso, constantemente vemos as crianças introduzirem em suas performances falas roteirizadas, seja sobre as características de um produto (marcas, funções etc), na utilização de bordões e no constante apelo ao engajamento pela audiência. Nesta direção, podemos inferir que o brincar ali representado não é um brincar propriamente dito pois não apresenta elementos de espontaneidade está a serviço de outros interesses, podendo ser a publicização de si, o retorno financeiro etc.

Conclusões/Considerações finais
Percebemos que mesmo tais conteúdos de brincadeira, que são compartilhados como espontâneos e produções autênticas das crianças, não são planejados ou protagonizados por elas e sim respondem ao interesse dos adultos em questão.
As brincadeiras compartilhadas nos vídeos analisados, mesmo que tenham as crianças como protagonistas em um primeiro plano, em uma análise mais aprofundada chegamos ao entendimento de que não vemos suas vozes ou suas brincadeiras de fato. O que é exibido nos vídeos foi moldado e pré-concebido pelos adultos em vistas de responder aos interesses mercadológicos. Podemos refletir no dialogo com outras pesquisas tratar-se de uma exploração do trabalho infantil.