02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC17.1 - Ludicidade, participação de crianças e adolescentes e promoção de saúde mental |
47579 - CIRANDA DE PALAVRAS: DESENVOLVIMENTO DAS EMOÇÕES A PARTIR DA LINGUAGEM ARTÍSTICA COM CRIANÇAS
RAFAELA BILHAR ARAÚJO - UECE, MILENA BARBOSA LEITE - UECE, ISABEL REGIANE CARDOSO DO NASCIMENTO - UECE, LUCIANA MARTINS QUIXADÁ - UECE, MARIA SALETE BESSA JORGE - UECE
Contextualização
Ao compreender a participação ativa e legítima das crianças, reconhecemos que elas são também autoras e protagonistas da construção de conhecimento a partir das práticas sociais. Entretanto, quando estão inseridas em um território de risco e violência, esse contexto promove vivências que, segundo Vygotsky, afetam o desenvolvimento das crianças, mesmo que elas não estejam diretamente envolvidas. Frente à problemática exposta, a criação de um projeto de extensão universitária surge como alternativa para promoção de situações que oportunizem e acolham as falas das crianças, com o intuito de ressignificar experiências de violência e violação de direitos através dos debates e das produções artísticas realizadas nos encontros desse projeto.
Descrição
O “Ciranda de Palavras” é um projeto de extensão vinculado ao Laboratório de Estudos e Pesquisas Participativas sobre Infância, Cultura e Subjetividades (LINCS) do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O projeto busca construir um espaço de interação discursiva e legítima com as crianças, incentivando o desenvolvimento das emoções a partir de linguagens artísticas. Ao proporcionar um campo fértil para que as crianças sejam autoras de discursos, contribui para a quebra de um sistema opressor que silencia suas falas e favorece o protagonismo e a participação delas em sua própria realidade. O projeto se fundamenta teoricamente em conceitos importantes relacionados à Psicologia Histórico-Cultural e à Sociologia da Infância. Nessa conjuntura, podemos citar duas premissas básicas que guiam o projeto: 1) que as crianças são influentes nas decisões tomadas e no andamento das atividades e 2) a teoria das emoções em Vygotsky, que reconhece as emoções como funções psicológicas superiores e, portanto, necessitam da mediação simbólica - nesse projeto, a mediação se deu por diferentes práticas artísticas e contações de histórias - para serem desenvolvidas de modo saudável (FERNANDES & MARCHI, 2020).
Período de Realização
As atividades ocorrem desde 2017, sendo interrompidas bruscamente durante a pandemia de COVID-19, e foram retomadas, gradualmente, a partir de abril de 2022.
Objetivos
Relatar a experiência de extensionistas no projeto de extensão “Ciranda de Palavras” com crianças em contexto de vulnerabilidade e violência com ênfase na Psicologia Histórico-Cultural.
Resultados
As atividades do projeto foram desenvolvidas a partir de uma abordagem grupal, dentro de um contexto de situações sociais delimitadas territorial e temporalmente. Os encontros ocorreram às segundas-feiras no período da manhã e as intervenções eram direcionadas às turmas do 2º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública em Fortaleza-CE. Geralmente, alternavam-se as atividades entre contações de histórias e produções artísticas. A escolha do tema é determinada semanalmente pelas crianças, através do uso de literatura infanto-juvenil decolonial e as atividades de representações artísticas se utilizam do lúdico para prática de jogos e realização de pinturas e desenhos. Essas atividades visam o estímulo da análise e interpretação de histórias decoloniais, bem como o desenvolvimento das emoções a partir da arte.
Aprendizados
Enquanto extensionistas do projeto, podemos destacar o aprendizado no manejo de grupos e na utilização de recursos lúdicos com crianças. As atividades nos auxiliam a entender a arte como mediadora simbólica para a ressignificação e a elaboração de processos criativos para as crianças, compreendendo o impacto das violências vivenciadas por elas. O reconhecimento de suas vivências possibilitou que elas pudessem se utilizar dos desenhos e do espaço de fala para expor seus sentimentos, de forma que pudemos avaliar o atravessamento da violência no cotidiano delas a tal ponto de instituir medo. Percebemos que lidar com esse medo é complicado para as crianças, uma vez que suas declarações não são legitimadas pelos adultos, num contexto geral. O Ciranda tem contribuído ao dar às crianças um espaço de fala e de expressão de suas realidades, de maneira que buscamos apresentar recursos para elas ressignificarem e lidarem com tais vivências.
Análise Crítica
A experiência junto às crianças nos levou a compreender melhor a violência como parte da realidade delas. A exemplo disto, fica claro quando vimos o desenho de uma das crianças de um coração e uma bala, ao explicar, ela disse que tinha medo do seu pai ser baleado; uma outra criança desenhou uma pessoa atirando em outra e ela explicou que tinha medo de um homem atirar nela. Considerando o conceito de vivência na abordagem histórico-cultural de Vygotsky, assimilamos que a vivência das crianças desse projeto é atravessada significativamente pelo contexto territorial violento que estão inseridas. Logo, entendemos que este projeto possui um relevante significado para o desenvolvimento das crianças e de seus processos, auxiliando-as a ressignificarem suas vivências.
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