Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC19.1 - Desafios para o cuidado alimentar e nutricional no SUS

46990 - PROJETO SENTIDOS DO COMER: A EXPERIÊNCIA DA ESCREVIVÊNCIA E O ENCONTRO DAS ESTUDANTES COM SUAS PRÓPRIAS VIVÊNCIAS
CLARA CECÍLIA RIBEIRO DE SÁ - UFS, BEATRIZ GOUVEIA MOURA - UERJ, PEDRO JOSÉ SANTOS CARNEIRO CRUZ - UFPB, RENAN SOARES DE ARAÚJO - UFPB, THAYANE DE ARAUJO CORREA - UFF, ANDHRESSA FAGUNDES - UFS, INÊS RUGANI RIBEIRO DE CASTRO - UERJ, LUCIENE BURLANDY - UFF, LIGIA AMPARO DA SILVA SANTOS - UFBA, ELISABETTA GIOCONDA IOLE GIOVANNA RECINE - UNB


Contextualização
O presente trabalho relata a utilização da escrevivência como atividade formativa de estudantes do curso de Nutrição e ocorreu no contexto do projeto Sentidos do Comer, desenvolvido por integrantes do Grupo Temático Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva (GT-ANSC), da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), com estudantes de graduação em Nutrição de cinco universidades públicas brasileiras (Universidade de Brasília, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal de Sergipe). O Projeto objetivou provocar reflexões sobre a formação no campo da Nutrição e deslocamentos nos sentidos relativos ao comer, ao nutrir e ao saudável. Foi desenvolvido em um ciclo de oficinas baseado em abordagens e recursos metodológicos de cunho ativo e participativo, de modo que se tornassem um espaço de encontro mediado pelo diálogo.

Descrição
A escrevivência é entendida, conforme Conceição Evaristo, como uma escrita baseada na experiência e os relatos, de cunho autobiográfico e reflexivo, constituíram o ponto de partida para os encontros, permeando o início dos diálogos nas rodas de conversa para propiciar uma conexão das(os) discentes participantes com seus próprios sentidos e com os sentidos das(os) outras(os). As(os) participantes do projeto foram convidadas(os) a realizar essa atividade guiadas(os) pelas perguntas: “Como têm sido as minhas experiências na relação com a comida e o comer?” e “Que sentidos e significados a comida e o comer vêm tendo na minha construção pessoal?”. Estas perguntas consistiram em temas geradores e mobilizadores de reflexão para inspirar e orientar a escrita, de maneira que as(os) participantes pudessem se conectar com a proposta reflexiva que iria permear o projeto nos encontros e atividades seguintes.

Período de Realização
As oficinas foram realizadas entre agosto e novembro de 2022. A atividade da escrevivência, aqui relatada, ocorreu antes da primeira oficina e teve duração de uma semana.

Objetivos
Ambientar as(os) discentes na proposta reflexiva do projeto Sentidos do Comer, conectando-as(os) às suas próprias vivências, experiências, sentidos e significados ante a comida e o comer.

Resultados
A escrita por meio da escrevivência possibilitou a criação e o desenvolvimento dos encontros em um contexto no qual as pessoas já estavam mais “aquecidas” na perspectiva de pensarem sobre suas vivências com a comida e o comer e os sentidos produzidos. A escrevivência estimulou as pessoas a ficarem mais disponíveis e abertas a conhecer, interagir e se conectar com os sentidos produzidos por outras(os) colegas. Com isso, o espaço educativo foi encharcado pelas experiências e ficou nítido que a pauta não seria a transmissão, pelas(os) mediadoras(es) da formação, de conteúdos adequados a serem assimilados, mas pela imersão nas experiências e pela capacidade coletiva de se vislumbrar aprendizados e novos conhecimentos que aflorassem essas vivências e o diálogo entre os vários sentidos do comer, da comida, do nutrir e do saudável. Ao escrever, as(os) participantes puderam refletir sobre suas relações e experiências com a comida e com o comer a partir das vivências e memórias pessoais, familiares e sociais. Nesse espaço, fatores relacionados aos sentidos e significados dessa temática que tinham caráter emocional e pessoal ganharam espaço de consideração, de escuta autêntica e livre de julgamentos, uma vez que a escrita, em si, não seria partilhada para o grupo, sendo apenas expressos nas rodas de conversas os aspectos a(o) participante desejasse partilhar. Parte dos participantes desconhecia a atividade e expressaram a importância no processo de autoconhecimento.

Aprendizados
Assim, a escrevivência ampliou a perspectiva de expressão e imersão pessoal na comida e no comer para além do que a formação curricular em Nutrição hegemônica possibilita, favorecendo a compreensão de que o outro também dispõe de uma história pessoal e significativa com a comida e o comer, refletindo e contribuindo para um repensar do cuidado alimentar e nutricional voltado para as pessoas, em suas individualidade e vivências diversas, a partir da experiência do futuro Nutricionista.

Análise Crítica
Entende-se, portanto, que há potencialidade na utilização da escrevivência na formação estudantil em Nutrição, na medida em que configura uma metodologia que não é apenas ativa, mas promove a ampliação de sentidos. A escrita baseada na escrevivência envolve a(o) discente em processos de formação com uma participação profunda que pode refletir nas abordagens práticas da Nutrição, enquanto graduação, mas também enquanto prática profissional construída nesta etapa de formação.