02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC22.1 - Midias digitais: ativismos e empoderamento em saúde |
46230 - SAÚDE, DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS: A EMERGÊNCIA DE UM NOVO EXERCÍCIO PARTICIPATIVO NA SAÚDE RODRIGO MEIRELLES - FSP/USP, ÁUREA MARIA ZÖLLNER IANNI - FSP/USP
Apresentação/Introdução Este trabalho discorre sobre a emergência de um novo exercício participativo na saúde que se desenvolve nas redes sociais midiáticas e que se difere daquele realizado nos Conselhos de Saúde. Trata-se de uma forma e prática participativa que é virtualizada e que não está submetida aos princípios, normas e regras que organizam, orientam e regulam a participação social institucionalizada na saúde.
Objetivos Analisar as características do exercício participativo nas redes sociais com base nas experiências de gestores municipais de saúde da região do Grande ABC paulista.
Metodologia Este relato de pesquisa foi extraído de uma dissertação de mestrado, desenvolvida por meio de entrevistas semiestruturadas com gestores municipais de saúde da região do Grande ABC paulista, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020. Optou-se pela escolha de sujeitos que estão à frente da política local de saúde e que trazem, na sua prática, elementos que possibilitam compreender diferentes aspectos e impactos dessa nova forma e prática participativa na saúde. Foram entrevistados dois secretários de saúde, um secretário adjunto e dois assessores técnicos.
Resultados e discussão Desde as origens do pensamento social em saúde no Brasil, autores clássicos da Saúde Coletiva evidenciaram os efeitos da consolidação do direito à saúde por meio da ampliação do consumo dos bens, das tecnologias e serviços de saúde. A máxima “quanto maior o consumo dos serviços de saúde, maiores e melhores serão os impactos nas condições de vida e de saúde de uma população” produziu uma dimensão mercantil por dentro do SUS, em que o consumo dos serviços de saúde, em bases cada vez mais específicas, especializadas e individualizadas tornou-se imperante na organização e na condução da política de saúde.
Compreende-se que esse novo exercício participativo que se desenvolve nas redes sociais tem por base as experiências de consumo dos indivíduos no âmbito do SUS e, com isso, ela só existe a partir da realização e da consolidação do paradoxo exposto: o direito social à saúde e sua consolidação como consumo individualizado.
No que tange à sua caracterização, os gestores do Grande ABC paulista definem as redes sociais como novas “pontes” que facilitam a comunicação e interação entre gestores e usuários, uma vez que elas possibilitam que as pessoas compartilhem virtualmente e em tempo real os diferentes acontecimentos e experiências nos serviços de saúde. Elas também são caracterizadas como “termômetros da política de saúde”, pois tornam públicas as satisfações e as insatisfações dos munícipes com os atendimentos realizados - ou com a falta deles – e evidenciam as eficiências e as deficiências do sistema de saúde na perspectiva individual dos usuários.
Essa forma participativa coloca as experiências individuais de consumo em evidência, constituindo-as como referências centrais para que os gestores pensem, analisem, monitorem e reestruturem as práticas sanitárias, secundarizando grandes projetos coletivos frente à expansão do consumo individualizado dos serviços de saúde.
Destacam-se certos “efeitos colaterais” desse processo, como por exemplo, à insegurança que os gestores sentem no que se refere à veracidade do conteúdo das publicações nas redes sociais. Na ótica deles, há muitas fake news publicadas na internet, o que ocasiona uma desqualificação e uma perda da legitimidade da atividade política. Soma-se a isso o fato das publicações ocorrerem de forma imprevisível, sem o controle e regulação por parte da gestão pública.
Ainda que a gestão não consiga ter qualquer controle sobre a forma, o conteúdo e em que momento essas publicações ocorrerão, ela é a responsável por averiguar e responder as manifestações e, principalmente, por suplantar, amenizar e resistir aos diferentes “efeitos colaterais” que elas causam à tomada de decisão e ao desenvolvimento das atividades no sistema de saúde. Como exemplo, foi comum nos municípios em estudo a existência de profissionais específicos que monitoram aquilo que aparece nas redes sociais e elaboram respostas a cada situação singular publicada nas plataformas digitais.
Dessa forma, instaura-se um conflito em torno da disponibilidade, da distribuição e do controle das informações sobre as atividades políticas, tornando-se crucial para a gestão pública o conhecimento e o domínio sobre quem está publicando, como e onde está publicando, com base em quê, por meio de quê e para quê.
Conclusões/Considerações finais As manifestações dos usuários nas redes sociais sobre suas experiências de consumo na saúde – ou a falta delas - evidencia a possibilidade do cidadão exercer um potencial papel democrático está diretamente dependente das condições de consumo individual dos serviços, bens e tecnologias em saúde, o que representa um produto da forma como o direito à saúde foi implementado no país.
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46230 - SAÚDE, DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS: A EMERGÊNCIA DE UM NOVO EXERCÍCIO PARTICIPATIVO NA SAÚDE RODRIGO MEIRELLES - FSP/USP, ÁUREA MARIA ZÖLLNER IANNI - FSP/USP
Apresentação/Introdução Este trabalho discorre sobre a emergência de um novo exercício participativo na saúde que se desenvolve nas redes sociais midiáticas e que se difere daquele realizado nos Conselhos de Saúde. Trata-se de uma forma e prática participativa que é virtualizada e que não está submetida aos princípios, normas e regras que organizam, orientam e regulam a participação social institucionalizada na saúde.
Objetivos Analisar as características do exercício participativo nas redes sociais com base nas experiências de gestores municipais de saúde da região do Grande ABC paulista.
Metodologia Este relato de pesquisa foi extraído de uma dissertação de mestrado, desenvolvida por meio de entrevistas semiestruturadas com gestores municipais de saúde da região do Grande ABC paulista, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020. Optou-se pela escolha de sujeitos que estão à frente da política local de saúde e que trazem, na sua prática, elementos que possibilitam compreender diferentes aspectos e impactos dessa nova forma e prática participativa na saúde. Foram entrevistados dois secretários de saúde, um secretário adjunto e dois assessores técnicos.
Resultados e discussão Desde as origens do pensamento social em saúde no Brasil, autores clássicos da Saúde Coletiva evidenciaram os efeitos da consolidação do direito à saúde por meio da ampliação do consumo dos bens, das tecnologias e serviços de saúde. A máxima “quanto maior o consumo dos serviços de saúde, maiores e melhores serão os impactos nas condições de vida e de saúde de uma população” produziu uma dimensão mercantil por dentro do SUS, em que o consumo dos serviços de saúde, em bases cada vez mais específicas, especializadas e individualizadas tornou-se imperante na organização e na condução da política de saúde.
Compreende-se que esse novo exercício participativo que se desenvolve nas redes sociais tem por base as experiências de consumo dos indivíduos no âmbito do SUS e, com isso, ela só existe a partir da realização e da consolidação do paradoxo exposto: o direito social à saúde e sua consolidação como consumo individualizado.
No que tange à sua caracterização, os gestores do Grande ABC paulista definem as redes sociais como novas “pontes” que facilitam a comunicação e interação entre gestores e usuários, uma vez que elas possibilitam que as pessoas compartilhem virtualmente e em tempo real os diferentes acontecimentos e experiências nos serviços de saúde. Elas também são caracterizadas como “termômetros da política de saúde”, pois tornam públicas as satisfações e as insatisfações dos munícipes com os atendimentos realizados - ou com a falta deles – e evidenciam as eficiências e as deficiências do sistema de saúde na perspectiva individual dos usuários.
Essa forma participativa coloca as experiências individuais de consumo em evidência, constituindo-as como referências centrais para que os gestores pensem, analisem, monitorem e reestruturem as práticas sanitárias, secundarizando grandes projetos coletivos frente à expansão do consumo individualizado dos serviços de saúde.
Destacam-se certos “efeitos colaterais” desse processo, como por exemplo, à insegurança que os gestores sentem no que se refere à veracidade do conteúdo das publicações nas redes sociais. Na ótica deles, há muitas fake news publicadas na internet, o que ocasiona uma desqualificação e uma perda da legitimidade da atividade política. Soma-se a isso o fato das publicações ocorrerem de forma imprevisível, sem o controle e regulação por parte da gestão pública.
Ainda que a gestão não consiga ter qualquer controle sobre a forma, o conteúdo e em que momento essas publicações ocorrerão, ela é a responsável por averiguar e responder as manifestações e, principalmente, por suplantar, amenizar e resistir aos diferentes “efeitos colaterais” que elas causam à tomada de decisão e ao desenvolvimento das atividades no sistema de saúde. Como exemplo, foi comum nos municípios em estudo a existência de profissionais específicos que monitoram aquilo que aparece nas redes sociais e elaboram respostas a cada situação singular publicada nas plataformas digitais.
Dessa forma, instaura-se um conflito em torno da disponibilidade, da distribuição e do controle das informações sobre as atividades políticas, tornando-se crucial para a gestão pública o conhecimento e o domínio sobre quem está publicando, como e onde está publicando, com base em quê, por meio de quê e para quê.
Conclusões/Considerações finais As manifestações dos usuários nas redes sociais sobre suas experiências de consumo na saúde – ou a falta delas - evidencia a possibilidade do cidadão exercer um potencial papel democrático está diretamente dependente das condições de consumo individual dos serviços, bens e tecnologias em saúde, o que representa um produto da forma como o direito à saúde foi implementado no país.
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