46530 - A CONDIÇÃO DE VIDA E DE SAÚDE DAS MULHERES IMIGRANTES NA PANDEMIA REGINA Y. MATSUE - UNIFESP, CÁSSIO SILVEIRA - SANTA CASA - SÃO PAULO, ALEXANDRA GOMES ALMEIDA - UNIFESP, MARIÁ SAMPAIO - UNIFESP, NICOLAS NEVES DOS SANTOS - UNIFESP, DENISE MARTIN COVIELLO - UNIFESP
Apresentação/Introdução Os fenômenos imigratórios são inerentes à história humana, no entanto, atualmente, presenciamos uma crise humanitária sem precedentes em torno dos deslocamentos em massa, oriundos de vários países do Sul. Em 2020, foram registrados 281 milhões de imigrantes internacionais no mundo. Tais deslocamentos são motivados por conflitos internos, desastres ambientais, insegurança material e física, intolerância, exclusão econômica e política, repressão, transtornos diversos, dentre outros. Nos últimos anos, a pandemia de Covid19 exacerbou ainda mais as desigualdades socioestruturais, atingindo de forma desigual diferentes grupos na sociedade, particularmente os imigrantes internacionais. No Norte e no Sul global a população imigrante e/ou refugiada foi sem dúvida um dos grupos mais atingidos pela crise sanitária. Atualmente, sabe-se que mais da metade da população imigrante é feminina, sendo que a pobreza também tem rosto feminino. Assim, cada vez mais se constata a presença de mulheres que se inserem em fluxos migratórios para poder trabalhar, dar sustento à família e aos filhos, buscar acesso à educação, fugir de conflitos, guerras ou relações violentas etc.
Objetivos Identificar e analisar a condição de vida e de saúde das mulheres imigrantes na região metropolitana de São Paulo no contexto da pandemia por Covid-19.
Metodologia Foi realizada uma pesquisa qualitativa com coleta de dados na região metropolitana de São Paulo, objetivando levantar informações acerca dos processos migratórios e aspectos da saúde dos imigrantes internacionais, com ênfase na condição da mulher durante a pandemia de COVID-19. No total, foram realizadas 14 entrevistas em profundidade com imigrantes internacionais e refugiados (9 mulheres e 5 homens), originários da Bolívia, Haiti e Venezuela que residiam no município de São Paulo. Os critérios de inclusão foram: ser maior de 18 anos e residir no Brasil por pelo menos um ano durante a pandemia por Covid-19, A categorização do material obtido ocorreu com base nos pressupostos de Strauss e Corbin e a análise, a partir do referencial teórico da antropologia.
Resultados e discussão A análise de dados preliminares mostrou que a sobrevivência dos imigrantes e suas famílias foi afetada pela interrupção obrigatória de atividades “não essenciais” e, consequentemente, pela perda de renda. As vulnerabilidades se agravaram ainda mais entre as mulheres que são corpos duplamente marginalizados, como mulher e como imigrante. Além do risco de contágio, muitas delas enfrentaram diversas violências; seja no trabalho ou no ambiente doméstico. Geralmente, as mulheres imigrantes atuam em ocupações consideradas a “linha de frente” na pandemia, sendo mais afetadas pelos impactos da covid-19 em saúde, precariedade nas condições de trabalho, moradia e redução no ingresso ocupacional. Os dados indicam que além da ruptura na tendência crescente de admissões no período de 2010 a 2019, as mulheres imigrantes perderam mais postos de trabalho, seja formal ou informal, vivenciaram aumento da empregabilidade em ambientes fechados. Nestes ambientes, as mulheres experenciaram violências diversas, sobrecarga de trabalho com o fechamento das escolas, barreiras linguísticas e culturais que dificultaram o cuidado em saúde. Assim, os processos de vulneração que já eram acentuados pelas desigualdades estruturais, foi exacerbado, sobretudo, entre as mulheres imigrantes durante a Pandemia. Além disso, o isolamento e as desinformações sobre a doença (sintomatologia e prevenção), a inexistência e/ou impossibilidade de acesso a orientações, as intercorrências xenofóbicas das associações entre imigrantes e patologias, assim como os riscos vivenciados no trabalho e no ambiente doméstico dificultou o acesso aos serviços de saúde entre as mulheres.
Conclusões/Considerações finais Os dados preliminares apontam para a necessidade de se pensar a condição das mulheres imigrantes, número que cresceu nas últimas décadas; um fenômeno global denominado de feminização ou “genderização” das migrações. Como mencionamos, as mulheres imigrantes frequentemente representam corpos duplamente marginalizados e explorados, sendo necessário uma perspectiva interseccional para pensar a condição da mulher e de sua saúde. Ressaltamos a necessidade de estudos que analisem os efeitos da imigração, seja na saúde ou no trabalho, e suas interfaces com questões de gênero, direitos humanos e cuidados em saúde. Os resultados de pesquisas como esta poderão contribuir na identificação dos problemas vivenciados pelas mulheres e fornecer um mapa das principais necessidades sociais e em saúde observadas entre a elas. E desta forma, possibilitar a formulação de subsídios para políticas públicas que visem incluir, também, as demandas femininas com o intuito de eliminar as desigualdades de acesso a serviços.
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