02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC24.1 - Nada sobre mim, sem mim: História, saúde e resistência |
45985 - O MÉTODO NETNOGRÁFICO PARA A PESQUISA COM ADOLESCENTES NEGRAS: RELATO DE EXECUÇÃO DA TÉCNICA GERBSON DA SILVA LIMA - UPE, TACIANA LIMA DE PAULA BLACK - UPE, KALINA VANDERLEI PAIVA DA SILVA - UPE
Apresentação/Introdução No tempo presente, onde as relações sociais têm sido mediadas nos espaços virtuais, as plataformas como o Instagram estão se tornando ambientes adornados pela ubiquidade, ou seja, torna-se possível estar presente em dois lugares ao mesmo tempo. São nestas intersecções do “mundo real” com a interface digital que os nossos adolescentes têm socializado as suas experiências, todavia, este espaço não tem se configurado como um não lugar, pois o espaço digital, antes de tudo, é permeado pela ausência de uma concretude arquitetônica, onde a solidão e a similitude se impõem no campo de disputas da supermodernidade (AUGÉ, 1994; SANTAELLA, 2010). E neste cenário, por vezes, distópico, torna-se urgente decifrar a realidade em que a juventude interseccionada por raça, gênero e classe está inserida. Assim, a netnografia ou etnografia digital (FERRAZ, 2019) oferta importantes contribuições para a análise do uso das redes sociais por adolescentes.
Objetivos Descrever e analisar a aplicação do método netnográfico a partir de um estudo de campo desenvolvido com adolescentes negras.
Metodologia Trata-se de uma reflexão teórico-metodológica desenvolvida a partir de um estudo de campo, de abordagem qualitativa, com base epistemológica interdisciplinar e, desenvolvido em uma escola pública da periferia do Recife entre os meses de agosto de 2021 e maio de 2022. Determinada análise é fruto da dissertação vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Hebiatria, intitulada “A vida instagramável: performances identitárias das adolescentes pretas e pardas da periferia do Recife". Para a fundamentação desta análise foi necessário recorrer a triangulação de métodos, em que as entrevistas semiestruturadas subsidiaram uma leitura mais ampla do método aqui descrito.
Resultados e discussão A utilização da netnografia na pesquisa descrita no método não foi por acaso, mas embasada na sociologia reflexiva, para a qual Bourdieu (1993) considera que o pesquisador que deseja “descobrir a verdade” deve desenvolver estratégias para “ajudar o pesquisado a dar a sua verdade”. Assim, como forma de se aproximar da realidade compartilhada pelas adolescentes em seus perfis no Instagram, se fez necessário entender os movimentos construídos por essas jovens no ambiente digital. Determinada atitude foi consubstanciada nas reflexões de Ferraz (2019), ao afirmar que as câmeras e vídeos dos celulares formam uma trajetória que tece o caminho entre a paisagem física e digital e que entrelaçam a realidade on-line e off-line por meio dos movimentos das representações registradas. Essas imagens compõem os mapas digitais nas redes sociais, e fundam um universo regido pelas representações fotográficas.
Considerando estas prerrogativas, foram adotadas as etapas descritas por Kozinets (2014), a saber: definição das questões da pesquisa (identificação dos conteúdos que dialogavam com as performances identitárias); identificação e seleção da comunidade (adolescentes escolares negras); coleta de dados (catalogação e arquivamento dos conteúdos dos perfis das adolescentes); análise e intepretação interativa de resultados (por meio da significação que as participantes atribuíram ao conteúdo presente nos seus perfis do Instagram) e, por fim, a apresentação e relatos dos resultados da pesquisa (resultados dialogados na entrevista semiestruturada).
Em relação aos passos descritos acima, a análise e interpretação inicial dos dados provocou importantes questionamentos para o pesquisador, pois foi possível aferir que as adolescentes se descreviam com emojis, inclusive para apresentar os seus relacionamentos afetivos e autodeclaração racial. A realidade vivenciada por elas, frequentemente, era apresentada com imagens cortadas e focadas em pontos específicos que, por vezes, tinham a intenção omitir a “vida real”, atravessada pelo racismo e sofrimento mental. Assim, e considerando que seria presunçoso por parte do pesquisador desenvolver análises apenas pelas imagens disponíveis nos perfis, o caminho mais adequado para o descortinamento dos discursos digitais foi triangular as informações coletadas com a técnica da entrevista semiestruturada. Dessa forma foi possível que potencializar a técnica da netnografia, visto que apenas as jovens participantes tinham a capacidade de expor a intencionalidade atribuída, cabendo à técnica da etnografia digital interpretar a realidade a partir das contradições e significados.
Conclusões/Considerações finais A netnografia ofereceu recursos para as análises das interações sociais mediadas pelas tecnologias de comunicação on-line em sua interlocução com o discurso das próprias adolescentes, ou seja, tornou-se possível considerar como as ferramentas de uso do Instagram (curtidas, filtros, postagens, comentários nas fotos, stories, reels) funcionavam como elementos para a sociabilidade nos espaços virtuais e reais, além de expor as opressões operadas na rede.
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