02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC24.1 - Nada sobre mim, sem mim: História, saúde e resistência |
47689 - ENCRUZILHADA DE (RE)EXISTÊNCIAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ENFRENTAMENTO AO RACISMO RELIGIOSO ANTONIO CELESTINO GONÇALVES FILHO - UNEB, MÁRLON VINÍCIUS GAMA ALMEIDA - UNIVASF
Contextualização Às dificuldades enfrentadas pelas populações de terreiro são estruturadas a partir do racismo. Essa primazia reforça um padrão de culto único, cristão, que condena tudo que não se enquadra em seus dogmas e trata as demais manifestações religiosas como heresia.
Descrição Cabe ilustrar as dificuldades no acesso ao território controlado historicamente pelo poder dominante. Vivemos os impasses de manter a ideologia candomblecista numa sociedade que, ao longo de décadas, castrou as minorias e suas formas de expressar as liturgias.
Período de Realização Utilizamos como metodologia o relato de experiência com base em minha vivência ao longo dos últimos cinco anos sem, portanto, desconsiderar os entraves que acumulei ao longo da trajetória no enfrentamento ao racismo religioso.
Objetivos Relatar a experiência de um babalorixá nos enfrentamentos cotidianos na luta contra o racismo religioso.
Resultados O racismo religioso consiste, em termos práticos, na violência racial dos adeptos de religiões hegemônicas contra as populações de terreiro (NOGUEIRA; 2020). Diante disso, ao vislumbrar tal perspectiva na prática do dia a dia, percebe-se o quão danosa é essa manifestação de ódio para com os nossos corpos dissidentes. Ao manifestar nossa liberdade de crença, somos demonizados e violentados pelas religiões dominantes e seus seguidores devotos, presos a um padrão cujo dogma é a exclusão. Destarte, configura-se a ojeriza de uma parcela da sociedade com o culto associado ao negro. Sobretudo porque, desde os primórdios, a cultura de matriz africana teve que ser aniquilada, vez que tudo que é inerente ao negro, e que não pertence a uma visão eurocêntrica de mundo, é banalizado, invisibilizado e retaliado. Hodiernamente, esse apagamento se descortina por indivíduos que ao perpetuam a ideologia de religiões que estão no poder e que não aceitam outras formas de culto. Ademais, temos como contraponto a luta de uma comunidade em reexistir diariamente sob o viés da encruzilhada que compõe dor, medo e intolerância. Dessa forma, a luta dos povos de terreiro é para que não seja apagada a força que os nossos ancestrais, que foram corpos vítimas de escravização, deixaram de herança (NOGUEIRA; 2020). É por esse caminho de intersecção que se faz necessário caminhar, ao passo que muitos de nós morreram/morrem vítimas do racismo religioso e na tentativa de exercer o seu direito de viver a religiosidade dentro de sua existência
Aprendizados Por outro lado, o negro e sua ancestralidade sempre estiveram marginalizados no ideário social racista. Só existe uma tênue aceitação quando o afrodescendente está na condição de subalterno e comungando da ideologia majoritária, isto é, tem a raça como condicionante para o silenciamento e na manutenção capitalista, tendo em vista que uma única classe social permaneça na primazia do poder (ALMEIDA, 2019). Quando se pensa a discriminação e a religião (candomblé), em um único aparato, vê-se a dificuldade de transitar em determinados espaços. Em razão disso, no traquejo social com os filhos de axé, inúmeras vezes nos deparamos com discursos pejorativos contra a nossa existência religiosa. Essas pessoas, ao qual denominamos de racistas religiosos, estão calcadas sob uma alienação de seus líderes que disseminam o ódio contra os adeptos do candomblé. A base cristã fica a postos para segregar as nossas crenças, em um novo processo de catequização/evangelização. Nem com os aparatos legais, a exemplo do art. 5º da Constituição Federal, que aduz a livre manifestação a liberdade de crença, bem como a lei do crime racial (Lei nº 7716/89), o combate ao racismo foi efetivado, devido à permanência do cenário hostil. O sentimento a qual ficamos é de desamparo, sobretudo o desrespeito, em não nos legitimar em nossas pluralidades.
Análise Crítica Em suma, a luta a ser traçada, com a finalidade de um determinado êxito, é de reparação histórica. O que se almeja é a equidade de acesso ao sistema sem o olhar colonizador, que nos perseguem diariamente. Para isso, o descolonizar do olhar para o fomento de discussões sobre a temática do racismo religioso no meio institucional é instrumento crucial para a superação dos danos morais e físicos sofridos pela comunidade candomblecista. Logo, queremos exercer a nossa ritualística pacificados de proteção e liberdade. Enquanto isso, seguimos, junto ao movimento negro, em resistir as opressões, bem como transgredir o saber de terreiro para os veículos de pesquisa e comunicação. Nesse sentido, pertencer a comunidade religiosa de matriz africana vai muito além de expressões ou manifestação de crença. É um ato de pertencimento e impulsão de princípios para obtenção de políticas públicas e exercício de liberdade, sem atravessamentos.
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