02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC25.1 - Práticas de cuidado, de educação e de atenção: pluralidade na formação de saberes emancipatórios e complementares na saúde |
46296 - REPENSAR O PSE: UMA EXPERIÊNCIA DO PSE NA COMUNIDADE DO SALGUEIRO - RJ PAULA DALTRO SIMÕES MONTEIRO CAMPOS - UERJ, HELENA FERNANDES FERRAZ - UERJ
Contextualização O Programa de Saúde da Escola (PSE), é definido como uma estratégia direcionada para articular as políticas de educação e saúde públicas. Escolas situadas nas áreas consideradas de “risco” são duramente afetadas pelo contexto externo, além da rejeição e discriminação sentida e vivida pelos escolares. Há evidências da mitigação de chances reais de escolarização de crianças em função da localização da escola. Assim, o PSE que atua nas escolas nessas áreas deve desenvolver ações que atuem sobre os determinantes sociais de saúde, que auxiliem estudantes em vulnerabilidade a desenvolver conhecimentos, habilidades, e consciência na escolha de estilos de vida e comportamentos saudáveis.
Descrição Profissionais de saúde e educadores devem considerar o contexto de vulnerabilidade dos estudantes para planejarem e implementarem intervenções de saúde efetivas, e esse é o contexto de duas equipes ESF responsáveis pelo atendimento da comunidade do Salgueiro, que possui uma escola com turmas até o terceiro ano do ensino fundamental.
Período de Realização Iniciou-se um grupo mensal de crianças com problemas comportamentais em 2017, a fim de se observar os estudantes no ambiente escolar e na interação com seus pares, que funcionou até 2020, quando houve fechamento da escola pela pandemia, e retornou em 2022, com uma turma inteira participando das atividades. Em fevereiro de 2023, a escola elencou cerca de 1/3 do total de alunos para participar do grupo, o que se tornou inviável, e então iniciou-se um grupo com os professores, para trabalhar inseguranças, fortalecer o entendimento sobre desenvolvimento e comportamento infantil, onde foi proposto um questionário padronizado a ser preenchido pela escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da comunicação com a saúde sobre os escolares rotulados com desvios comportamentais, e identificar aqueles elencados para participar do grupo.
Objetivos Este trabalho tem como objetivo relatar o processo de elaboração de projeto de intervenção do PSE nesta escola, focado na avaliação de crianças com alteração de comportamento. Como objetivos secundários, destacam-se: relatar a experiência da construção de uma ferramenta que visa melhorar a comunicação entre a APS e a escola, e demonstrar à escola a importância da violência no desenvolvimento psicossocial na infância.
As equipes, por meio de reuniões regulares que envolviam a rede intersetorial do território (Saúde, Assistência Social, Conselho Tutelar, Educação, atores sociais), realizou uma abordagem voltada ao entendimento das vulnerabilidades das crianças. As equipes tinham uma frágil comunicação com a escola, sobretudo quanto aos encaminhamentos, pouco detalhados, sobre crianças com dificuldades escolares, agitação, agressividade e suspeita de doenças (transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, autismo). Um dos objetivos das reuniões de rede intersetorial era aproximar todos os envolvidos no cuidado com as crianças.
Resultados O questionário é composto por perguntas abertas sobre contexto social e familiar, além de área para observações livres, seguida de questões objetivas baseadas em critérios de avaliação de desenvolvimento neuropsicomotor e social de Sheridan, dividida em 5 áreas: linguagem, cognitiva, motora, socioafetiva e formação de hábitos.
Aprendizados Assim, ao preencher a ferramenta, os professores deverão atentar para questões às vezes despercebidas, evitando encaminhamentos desnecessários, bem como a patologização da infância e consequente medicalização. Uma vez preenchida, ela é avaliada pela equipe ESF, para elaboração de um plano terapêutico singular (PTS). As crianças elencadas para avaliação individual na unidade de saúde são colocadas em uma planilha de intervenção sistemática, com cuidado integral envolvendo assistência social, esporte, aulas extracurriculares, visitas domiciliares, abordagens familiares etc. Após o início do grupo com os professores, as equipes realizaram exame oftalmológico, auditivo, antropométrico e avaliação psicomotora de todos os alunos da escola, em seguida, os professores iniciaram a aplicação do questionário, e discutiam o PTS destas crianças. Ao aplicar a ferramenta, observou-se que as queixas de agitação estavam frequentemente relacionadas às vivências de violência intrafamiliar. Tais evidências reforçaram a convicção da equipe de que questões de natureza social deveriam ser o foco de atuação do PSE, reforçando a continuidade do grupo com os escolares.
Análise Crítica A depender da avaliação, era feita solicitação dos devidos encaminhamentos, matriciamento, ou de atividades extras. A rede de cuidado realizada com os atores sociais conseguiu vínculo com um clube local para oferta de aulas de esportes, lutas e teatro, além de aulas extras com reforço escolar oferecido na própria escola. O PTS permitiu conhecer suas histórias, de suas famílias, promover cuidado integral, prevenir adoecimento e aproximar o tripé família/escola/saúde.
|
|