02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC25.1 - Práticas de cuidado, de educação e de atenção: pluralidade na formação de saberes emancipatórios e complementares na saúde |
46845 - CONCEPÇÕES DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E PEDAGÓGICAS NA PERSPECTIVA HISTÓRICA: REFLEXOS PARA A FORMAÇÃO EM SAÚDE ÂNGELA CATARINA INÁCIO COSTA DE ANDRADE - IAM/FIOCRUZ-PE, PAULETTE CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE - IAM/FIOCRUZ-PE
Apresentação/Introdução A qualificação da atenção à saúde vem sendo pautada pelo Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB) em crítica à fragmentação do cuidado em saúde. A concepção ampliada de saúde é apontada enquanto novo paradigma com vistas a superar o modelo biomédico reproduzido no País e a formação em saúde é considerada um importante pilar neste processo de mudança. Como fruto deste movimento, o atendimento integral torna-se diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS). Articulada a esta diretriz, a ordenação de recursos humanos por este sistema de saúde e a integração ensino-serviço são apontadas como forma de promover, através da formação, a constituição de um perfil consoante ao cuidado integral. Porém, a mudança de prática e de formação em saúde tem demonstrado resistências que esbarram no modo de organização social de produção, cuja estrutura se expressa reprodutora do modelo hegemônico. Tendo em vista as resistências histórico-sociais para recuperar um cuidado fragmentado, ressalta-se a importância de estudos acerca das concepções do processo saúde-doença e pedagógica à luz do cuidado integral.
Objetivos Desenvolver um constructo teórico a respeito do processo saúde-doença e da formação em saúde na perspectiva do cuidado integral.
Metodologia Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e analítico, através de uma revisão não sistemática da literatura sobre o processo saúde-doença, com foco na sua reconstituição histórica e conceitual, tendo as categorias “trabalho” e “educação”, e o referencial hermenêutico-dialético. Considera-se a integralidade enquanto fenômeno e processo que se articula à concepção ampliada de saúde e a saúde enquanto direito social, bem como entende-se que a mesma compreende a relação entre a prática de saúde no plano particular, e a intersetorialidade e a organização social enquanto objetos de transformação no plano geral. Quanto à articulação com a educação, compreende-se que a concepção pedagógica histórico-crítica desenvolvida por Demerval Saviani articula-se à perspectiva de integralidade considerada.
Resultados e discussão Mediante a industrialização e urbanização no século XIX, nota-se uma perspectiva normatizadora da saúde que incorpora a dimensão social em práticas higienizadoras. Em crítica a esta concepção, o movimento anticontagionista compreendia as relações socioeconômicas enquanto produtoras de saúde e de doença. No século XX, com a expansão das tecnologias produtivas, destaca-se a concepção biomédica e inflexão do social. No contexto mundial de crise econômica e de movimentos populares a partir dos anos 1960, resgata-se a dimensão social da saúde nos limites do funcionalismo, mencionando-se os determinantes sociais. A concepção ampliada de saúde se apresenta na crítica ao limite funcionalista, e destaca-se a determinação social da saúde. No aspecto educacional, observa-se que no século XIX a ênfase da pedagogia tradicional, relacionada à estruturação produtiva. No século XX, ao lado do desenvolvimento e da expansão produtiva, destacam-se a pedagogia nova e o tecnicismo. Na saúde, identifica-se o modelo de formação pautado na medicina científica. No final deste século, no cenário de crise econômica, enfatiza-se a pedagogia das competências em favor da reestruturação produtiva. Em crítica, a pedagogia da libertação e a pedagogia histórico-crítica. Na formação em saúde, no Brasil, destacam-se processos formativos inseridos na política de reorientação da formação profissional em saúde.
Conclusões/Considerações finais Notam-se diversas concepções do processo saúde-doença e pedagógica durante o processo histórico, e que concepções funcionalistas tem tomado um lugar de destaque nas práticas de saúde e pedagógicas, o que tem apontado limites para um cuidado integral. Mesmo hegemônicas, concepções não críticas não estão dadas, nem são praticadas de maneira uniforme. A coesão de grupos em torno de concepções críticas indica a resistência ao modo de funcionamento das referidas práticas e a promoção de algumas mudanças de acordo com a sua particularidade histórica e espacial. Mas, ainda há a necessidade de vislumbrar mudanças no plano geral em direção ao referencial da integralidade para o cuidado na formação em saúde. Em consonância com este aspecto e enquanto movimento contrahegemônico, parece pertinente acolher enquanto etapa educativa as possibilidades de organização social que permita acessar espaços sociais articulados ao processo de determinação social da saúde.
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