Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC25.1 - Práticas de cuidado, de educação e de atenção: pluralidade na formação de saberes emancipatórios e complementares na saúde

47027 - ROMPENDO BARREIRAS COLONIAIS NO CUIDADO EM SAÚDE: A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES
JANAINA CARNEIRO DE CAMARGO - UFSC, MIRELLE FINKLER - UFSC, LILIAN SUELEN DE OLIVEIRA CUNHA - UFSC, JULIARA BELLINA HOFFMANN - UFSC, SILVIA RODRIGUES DOS SANTOS


Apresentação/Introdução
As Práticas Integrativas e Complementares (PIC) tem se apresentado como uma forma de enfrentamento diante do paradoxo do atual avanço e sofisticação da biomedicina e sua limitada possibilidade de oferecer respostas conclusivas ou satisfatórias para os problemas de saúde. A literatura tem apontado de forma incipiente que as PIC ainda enfrentam muita resistência nos espaços de cuidado em saúde. A partir da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) as PIC foram implementadas como resultado de embates políticos e sociais de enfrentamento da visão biomédica, que tem suas práticas fundamentadas na ciência positivista. Entendemos que uma forma de lidar com essa fragilidade envolve a valorização de saberes contra hegemônicos alinhados ao cuidado integral em saúde. Soma-se a isso a proposta de, por meio da Educação Interprofissional, promover o desenvolvimento de competências profissionais que ajudem a transpor o modelo vigente ainda com fortes características biomédicas, hierarquizado e fragmentado. Neste contexto, as PIC como prática decolonial no cuidado em saúde rompe com o modelo biomédico e com as práticas de medicalização da vida, buscando se fortalecer como um movimento contra-hegemônico, que valoriza saberes diversos na prevenção e para a promoção de saúde, almejando a integralidade do cuidado.

Objetivos
Compreender as PIC como forma de resistência e enfrentamento para a construção de um novo olhar no cuidado em saúde.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, embasada na vertente construtivista da teoria fundamentada nos dados (TFD), que buscou compreender os significados para os participantes sobre o fenômeno do cuidado em saúde por meio das PIC. A população de estudo foi composta por estudantes, docentes e gestores que atuam com Educação Interprofissional e PIC. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com 18 participantes selecionados por meio da técnica bola de neve, a partir de informantes-chave para o grupo amostral inicial. A análise dos dados ocorreu de forma simultânea à coleta assim, sendo os dados transcritos e analisados com auxílio do software ATLAS.ti22.

Resultados e discussão
As PIC atualmente partem de um discurso que percorre pela lateral, pela marginalidade no cuidado em saúde, com práticas contra hegemônicas que desafiam nosso sistema de saúde, fortemente amparado pelos saberes biomédicos. As PIC podem reestabelecer o elo do cuidado das medicinas tradicionais, como ponte de reconstrução para tornar o cuidado mais acessível para a população, a partir do território, fora do modelo e espaço hospitalocêntrico. Na saúde algumas populações sofrem dado impacto, por uma lógica universalista, que invisibiliza a diversidade de saberes, de práticas e de concepções sobre o próprio cuidado. A decolonização vem com a proposta de considerar essas diversidades e pluralidades de grupos, além da apropriação da comunidade sobre os saberes relacionados ao seu autocuidado. Desmonopolizar o poder de decisão e de concepção do que é um conhecimento válido é uma das características centrais da decolonialidade e que contribui para repensar as PIC como estratégia na construção de novos paradigmas de cuidado em saúde.

Conclusões/Considerações finais
A decolonialidade é discutida por alguns atores que muitas vezes acabam reproduzindo a lógica colonial, não questionando de onde partem seus pontos de vista. Muitas vezes advindos das potências colonizadoras que reforçam conceitos e critérios eurocentristas, sugerindo que elas supostamente seriam suficientes para o restante do mundo. Especialmente na América Latina, muitos têm sido os esforços de correntes e teóricos em produzir um pensamento próprio. Se alguns deles não conseguiram se reinventar diante da herança epistemológica eurocêntrica imposta, outros têm realizado rupturas consideráveis. As PIC, que atualmente incorporam as práticas de cuidados tradicionais como prática decolonial de cuidado, podem ser uma ferramenta para dar voz, abarcando saberes e outras populações que fazem seu próprio conhecimento e suas próprias tecnologias de cura.