02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC25.2 - Promoção da saúde, multiprofissionalidade e demandas por cuidado: transversalidades de agentes, setores e contextos |
46589 - AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E COVID-19: INTEGRALIDADE DO CUIDADO NA PNADEMIA, A EXPERIÊNCIA DE PERUÍBE (SP), BRASIL CLÁUDIA MALINVERNI - INSTITUTO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, JACQUELINE I. M. BRIGAGÃO - ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, MARIANA DE GEA GERVASIO - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, FABIANA SANTOS LUCENA - INSTITUTO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, MÔNICA MARTINS DE OLIVEIRA VIANA - INSTITUTO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, MARIA IZABEL SANCHES DA COSTA - INSTITUTO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO
Contextualização Com a emergência da covid-19 no Brasil, a partir de março de 2020, os municípios tiveram de reorganizar suas redes de saúde, em todos os níveis da atenção, adaptando a oferta de cuidado segundo as diferentes fases da pandemia, que se estendeu por mais de dois anos. No caso da atenção primária à saúde (APS), a maioria precisou rever rotinas, ao mesmo tempo em que assumia os casos leves da doença. Nesse contexto, a crise sanitária impactou particularmente o cuidado ofertado pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) e suas equipes, em especial os agentes comunitários de saúde (ACS), que devido as recomendações de distanciamento social e uso de EPI tiveram de adaptar a sua principal ferramenta de trabalho, as visitas domiciliares.
Descrição Parte da etapa qualitativa da pesquisa “A atenção primária à saúde (APS) na pandemia da covid-19”, realizada pelo Instituto de Saúde de São Paulo, este é um estudo de caso sobre o papel dos ACS em Peruíbe (SP). Balneário turístico, a cidade teve ampliado o desafio de lidar com uma população pendular, ora fixa, ora flutuante, devido às sucessivas quarentenas e as possiblidades de trabalho remoto.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas (gravadas e transcritas) com dois ACS da rede municipal de saúde. A análise focou nos principais temas presentes nas falas desses profissionais e as práticas desenvolvidas por eles para garantir a continuidade das ações de cuidado. A perspectiva teórica que orienta o estudo é a integralidade do cuidado entendida como prática social e dispositivo dialógico, em que o aspecto intersubjetivo das relações entre os sujeitos nos espaços públicos da saúde influencia discursos e ações, bem como a construção e reconstrução da capacidade de “agir-com-o-outro” (PINHEIRO, 2011).
Período de Realização Ao longo do segundo semestre de 2022.
Objetivos Discutir o papel dos ACS na integralidade do cuidado ofertado à população de Peruíbe (SP) ante os desafios da primeira onda da pandemia de covid-19.
Resultados Ao aderir à quarentena, na primeira fase da pandemia, a gestão municipal criou uma nova metodologia de monitoramento e rastreio em saúde, baseado em um sistema telefônico. Nomeada Central de Atendimento à Covid, foi o primeiro canal de comunicação a preservar o elo entre o território e as equipes de saúde. Entre os profissionais designados para atuar nessa central estavam os ACS, provavelmente os mais experientes no contato remoto com os usuários do SUS – muito antes da pandemia, o agente comunitário fazia uso de celulares e aplicativos de mensagem para se comunicar com a população de sua área de atuação.
Aprendizados os resultados da pesquisa indicam que:
• As ferramentas tecnológicas de comunicação, aliadas às habilidades relacionais dos ACS desenvolvidas no trabalho cotidiano com a comunidade, foram essenciais para garantir a continuidade do cuidado no contexto pandêmico. Nesse sentido apesar das transformações impostas pelo distanciamento social nos atendimentos em saúde, eles foram capazes de criar novos “settings terapêuticos”.
• A conexão com a comunidade, expressa em laços de solidariedade muitas vezes construídos a partir das experiências de vida similares às das pessoas e territórios que eles atendem, foi fundamental para que o trabalho de rastreamento e acompanhamento dos casos via telefone fosse efetivo. Isso permitiu à APS encaminhar com efetividade casos de saúde que demandavam atenção de média e alta complexidade.
• O trabalho dos ACS também incluiu a busca ativa através visitas peridomiciliares para casos de covid-19 e de pessoas que já eram acompanhadas pela ESF, como gestantes, diabéticos e hipertensos.
• A escuta atenta dos ACS viabilizou a inclusão de ações de cuidado nas dimensões subjetivas e o desenvolvimento por eles mesmos de estratégias de atenção à saúde mental.
• Os ACS perceberam uma avaliação positiva da APS pela população local quanto aos cuidados recebidos durante a pandemia, o que ampliou seus vínculos com os serviços de saúde e o SUS.
Análise Crítica O trabalho desenvolvido pelos ACS de Peruíbe foi catalizador da integralidade do cuidado como valor, e não mero artefato conceitual-prático instrumental (PINHEIRO, 2011). O seu conhecimento do território, sua capacidade de conexão com a comunidade, sua empatia reflexiva e sua escuta atenta deram visibilidade às demandas da população e viabilizaram ações de saúde muito além da covid-19, na primeira fase da pandemia.
A sensibilidade dos ACS diante do adoecimento e sofrimento das pessoas é, inquestionavelmente, um elemento central para pensarmos o cuidado integral como um dispositivo de cidadania. É nesse sentido que podemos dizer que esses profissionais são fundamentais não apenas no dia a dia dos serviços de saúde e controle de crises sanitárias, mas para a retomada de uma política nacional de atenção básica alinhada com os princípios fundamentais e organizativos do SUS.
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