47480 - SABERES TRADICIONAIS EM ANGOLA E NO BRASIL: ESTUDO COMPARATIVO SOBRE OS SABERES E PRÁTICAS DAS PARTEIRAS TOME CAPETA SOLUNDO - UFPI
Apresentação/Introdução O trabalho intitulado “Saberes tradicionais em Angola e no Brasil: estudo comparativo sobre os saberes e práticas das parteiras nos municípios do Andulo e Amarante”, tem a pretensão de problematizar as formas como foram e tem sido tratado as questões relacionadas as práticas dos partos, gestação, as políticas públicas para melhoria de suas assistências.
A pesquisa está dividida em cinco partes. na primeira, a que se refere a introdução; trago a contextualização do problema de pesquisa nos dois países, especificamente nos municípios trabalhados; na segunda refere-se ao primeiro capítulo em que é apresentado a descrição sociodemográfica mostrando suas aproximação e distanciamento; na terceira trago o segundo capítulo que é dedicado aos ofícios das parteiras tradicionais sua contextualização e seu processo histórico em relação a contemporaneidade, juntamente com as questões relacionadas as políticas públicas para inserção das parteiras nos sistemas de saúde; na quarta apresento o terceiro capítulo que aborda os saberes culturais quer seja os de caráter material e imaterial; Apresento na quinta e última parte faço algumas considerações relativas aos principais achados deste estudo e também levanto pontos para instigar pesquisadores para reflexão dos feitos das parteiras em ambos países.
Em Angola, a Política Nacional de Saúde assente no Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário (PNDS), elaborado por uma Comissão Multissetorial, criada por iniciativa Presidencial, através do Despacho Presidencial nº 84/11 de 27 de outubro de 20121, é um instrumento estratégico-operacional destinado à materialização das orientações fixadas na Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo “Angola 2025” e na Política Nacional de Saúde, no âmbito da reforma do Sistema Nacional de Saúde. Como documento fundamental de orientação e gestão, destinam-se a garantir o desempenho do serviço Nacional e a qualidade de vida da população. O Ministério da Saúde é o órgão máximo a nível nacional, incumbido de assegurar a execução das atribuições e competências gerais e especificas, consubstanciadas em coordenar, supervisionar e consolidar todas as ações do setor a nível de todo o país.
As parteiras tradicionais do Andulo são mulheres com idade compreendida entre 50 anos para cima, exercem grande influência na vida da comunidade, pois esta prática vem de longas datas. Como uma tradição cultural, elas acompanham as gestantes do início da gravidez até o parto, tornando-se cada vez mais importante, principalmente nas zonas rurais, dada a dificuldade de acesso para às assistências 14 médicas e medicamentosas. Mensalmente, as parteiras tradicionais se dirigem a sede da cidade ou os responsáveis dos postos de saúde próximo a elas se deslocam até as parteiras para prestação de conta por meio de relatórios de partos realizados, nos quais constam os números dos natos vivos e mortos. Isso ocorre porque a Direção Municipal de Saúde tem promovido ações que visam na formação e capacitação das parteiras para manuseamento de material e equipamento na realização dos partos
Nesta onda de ideias o foco deste trabalho é exaltar os grandes feitos das parteiras tradicionais em Angola e no Brasil, pois as condições de trabalho que elas possuem para exercer seus ofícios são precários, e até o presente momento têm desempenhado um papel fundamental na construção de nossas histórias e na salvaguarda a vida humana.
Salvo engano, em quase todas as sociedades africanas nenhum indivíduo escolhe as formas de saberes ou o que eles querem aprender. Os saberes são passados, consoante às vivências, ensinamentos, práticas e observações para que cada geração possa garantir a sobrevivência da cultura de sua família e também da coletividade ou grupo, dito isso, o saber popular expresso pelas parteiras não tem a pretensão, a ambição ou o poder de concorrer com o saber científico.
Objetivos Objetivo Geral
Compreender a importância do ofício do partejar, buscando adentrar na tradição e suas (re)significações no encontro com o conhecimento técnico-científico pela via da política de saúde reprodutiva.
Objetivos específicos, visou-se: 1) Identificar as políticas públicas existentes a saúde reprodutiva nos dois espaços pesquisados em Angola e no Brasil; 2) Conhecer sobre Patrimônio cultural imaterial relativo a parteiras para os espaços em estudo; 3) Conhecer algumas formas afetiva relativas aos partos vivenciadas por parteiras, profissionais da saúde e parturientes.
Metodologia Metodologia
A pesquisa está dividida em cinco partes. Onde suas principais autoras/sujeitos desta pesquisa são as protagonistas desse ofício as parteiras que trabalhei para o desenvolvimento deste trabalho, pois elas possuem uma tradição oral que constitui um patrimônio imaterial predominante no seio de suas comunidades. Quando a sua abordagem o oficio dessas mulheres dão conta em quase todas as abordagens apresentadas em vários momentos dentro do exercício de sua profissão quer seja: histórica, sociológica, etnográfica, antropológica, arqueológica histórica. De uma maneira superficial conseguimos adentrar superficialmente a essas abordagens acima mencionada para compreender o campo teórico-metodológico da pesquisa.
Resultados e discussão Ao pensar essa temática nos vem à tona a intercessão que ambas compartilham. Seria então esse denominador comum a colonização portuguesa, embora que em comparação com o Brasil, Angola tornou-se recentemente independente em 11 de novembro de 1975, diferentemente do Brasil que se deu essa proclamação em 7 de setembro de 1822, isto é, há quase 199 anos. De todas as formas o foco principal aqui não é o Brasil como um todo, mas sim, o Estado do Piauí, e especialmente o município de Amarante. Entretanto, esta diferença relativa ao período da colonização de cada um dos países repercute para compreensão do lugar que ocupa as parteiras em ambas as sociedades.
Nas suas sociedades deu para perceber a importâncias do trabalho das parteiras. Em Angola elas são responsáveis por realizar 30% dos partos em todo território nacional principalmente nas zonas nas comunidades. E no brasil só foi possível perceber o trabalho delas nas amazonas onde o sistema de saúde não consegue realizar “cobertura” e também a falta de interesse dos governantes por esse oficio. Apresentar as imagens das parteiras, no decorrer do século XIX, implica buscá-las nos discursos masculinos que deixaram registros sobre elas. Predominam as imagens das parteiras como mulheres ignorantes, construídas por discursos e práticas intervencionistas médicas e jurídicas que as desqualificam e criminalizam. Essas construções estavam, de uma forma ou de outra, relacionadas aos padrões morais instituídos na mentalidade do século XIX sobre as mulheres principalmente na busca de um saber médico sobre o corpo feminino. (AGE, 2002, p. 84).
As parteiras tradicionais fazem parte da construção da humanidade. Elas são mulheres que foram curandeiras, médicas da história ocidental, enfermeiras, conselheiras, transmitiam conhecimentos sobre ervas medicinais, parto e cura. Foram excluídas dos livros por alguns, exaltadas em localidades onde seus cuidados eram a única assistência existente. Resgatar parte da memória histórica é um direito da luta das mulheres e da sociedade como um todo (NASCIMENTO apud EHRENREICH; ENGLIH, 1973, p.21).
Ao apresentar uma breve arqueologia das mulheres parteiras, remete acerca do conhecimento do passado remoto que é produzindo especialmente pela arqueologia, há apresentação destas praticas interpretadas como já diz Clifford Geertz em “a interpretação das culturas”, a cultura deve ser interpretada como se fossem textos, “que o mesmo acredita como o Weber dizia o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo.” Sendo assim ele assume a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. Neste sentido seria o resultado de um processo ativo desempenhado por um sujeito no presente, que através do seu empenho em compreender como viviam os grupos humanos em tempos antigos, constitui uma forma de saber.
Conclusões/Considerações finais Partejar está ancorado em conjuntos de saberes, práticas e ritos encontrados nas bases da medicina tradicional, essas práticas desempenhadas pelas parteiras transcendem a história da humanidade. É um saber singular, um jeito, uma prática que se guia pela linguagem de ‘pegar criança’, ‘fazer nascer’, “trazer ao mundo’. Designa uma especialidade humanizada do parto e nascimento, desenvolvida, em sua maioria, por mulheres detentoras de uma ciência caseira, tradicional, influenciada por rituais que instituem formas míticas, afetuosas e delicadas de promover o nascimento com segurança para a mulheres e crianças. Neste estudo, verifiquei que tanto na sociedade angolana como na sociedade brasileira, pela via do saber e do ofício de partejar, a parteira tradicional tem uma posição de distinção, um lugar de poder, de evidência e de autoridade no contexto de suas relações sócio comunitárias. As parteiras são mulheres que dedicam suas vidas a realizar um ofício eficaz para a saúde comunitária. Suas práticas que fazem parte de um conhecimento ancestral (re)surgem no contexto de necessidades sociais sensíveis, em adversidades, preenchendo a lacuna deixada por políticas públicas de saúde inexistentes ou precárias em locais longínquos.
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