Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC29.1 - Memórias da pandemia de Covid-19: entre novas formas de cuidado e a medicalização da vida

47949 - PERFIL DOS ÓBITOS POR SUICÍDIO E SUA RELAÇÃO COM OS DIAGNÓSTICOS DE TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS NO BRASIL, NO ÂMBITO DA PANDEMIA DE COVID-19
PALOMA PALMIERI ALVES - ICICT/FIOCRUZ, GISELI NOGUEIRA DAMACENA - ICICT/FIOCRUZ, ALINE DE MACEDO RODRIGUES - ICICT/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O suicídio se tornou um grave problema de saúde pública, como apontam os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre o qual se estima que morram cerca de 703 mil pessoas dessa causa a cada ano no mundo. Ainda de acordo com a OMS, a morte por suicídio situa-se entre as principais causas de morte no mundo, superando os óbitos por malária, HIV/aids, câncer de mama ou guerra e homicídio. No Brasil, o suicídio também representa um sério problema de saúde pública, com raízes sociodemográficas e comportamentais.
A Pandemia da COVID-19 impactou severamente a população, deixando marcas profundas na saúde mental dos indivíduos, gerando ansiedade e agravando os casos de transtornos mentais e comportamentais (TMeC). A orientação do confinamento domiciliar teve implicações relevantes no contexto psicossocial dos indivíduos, tornando o enfrentamento do isolamento social uma experiência desafiadora e provocando a adoção de comportamentos não saudáveis. Nesse contexto de pandemia, acredita-se que em indivíduos afetados por TMeC, seria como se eles vissem no suicídio uma possibilidade de término da sua angústia e medos, tornando o cenário da saúde mental ainda mais complexo.


Objetivos
Analisar a relação espaço-temporal dos óbitos por suicídio registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), traçando o perfil dos indivíduos e sua associação aos diagnósticos associados de TMeC no Brasil, de 2010 e 2020.

Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico, com abordagem descritiva, no qual se buscou identificar grupos de indivíduos com características semelhantes e que cometeram suicídio na última década e no primeiro ano da pandemia de COVID-19. O processo de levantamento dos dados de suicídios no Brasil remete ao mesmo do relatório da OMS, sendo dado por meio da extração dos óbitos por suicídio da base do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), tomando por base a Classificação Internacional de Doenças, referente aos códigos X60-X84. Para os dados de suicídio associados a TMeC, foram coletados os óbitos onde a causa básica se tratava de suicídio com menção de causa múltipla do capítulo de transtornos mentais e comportamentais – Capítulo V da CID-10.

Resultados e discussão
O período de 2010 a 2020 apresentou um crescimento de 46,4% do número de suicídios, representando a perda de 126 mil e uma vidas que poderiam ter sido evitadas no período. Apenas em 2020, foram 13.835 óbitos por suicídio, representando um crescimento percentual de 2,3% de crescimento no último ano. Entretanto, quando o indivíduo também apresentava diagnóstico de algum TMeC como, depressão, ao uso de drogas, múltiplas drogas, sedativos, narcóticos, psicotrópicos e álcool, o crescimento foi de 11,5%, cinco vezes maior.
Os resultados obtidos apresentam a identificação de 6.228 menções diagnósticas de TMeC nos casos de óbitos por suicídio na última década, representando um aumento de 142,6% de aumento na década, 57,2% nos últimos 5 anos e 11,5% de crescimento dos casos apenas no último ano, que corresponde ao primeiro ano da pandemia de COVID-19. Do total registrado na década, 43,1% foram de suicídios associados à episódios depressivos, 17,3% de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool e 6,1% devido ao uso da cocaína, seguido de transtornos depressivos recorrentes, entre outros.
Observou-se um aumento de 83,7% do número de suicídio entre idosos, entretanto, também se destaca o crescimento na década do número de suicídio entre adolescentes, com um crescimento de 65,5%. Nos casos de suicídios associados aos TMeC se mantém o achado de aumento na intensidade e nas desigualdades, com crescimento de 400% na década entre idosos, de 155,6% entre os adolescentes e 114,3% entre os adultos. Em se tratando dos efeitos da pandemia de COVID-19, pode-se destacar que no último ano, os suicídios cresceram 100% entre as crianças e 14,2% entre os idosos, contra um aumento nacional de 2,3% e, nos casos associados aos TMeC, estes aumentos são de 9,5% entre os adolescentes e os adultos e de 21,3% entre os idosos, contra o crescimento nacional de 11,5%.


Conclusões/Considerações finais
A partir dos resultados obtidos, concluímos que é imperativo que a sociedade, bem como as autoridades competentes tratem o assunto seriamente, visto que, mesmo com problemas de subnotificação e com problemas na notificação de suicídio propriamente dita, tanto a taxa de suicídio quanto à taxa de suicídio associado aos TMeC demonstraram um crescimento muito expressivo, principalmente, no ano do início da pandemia de Covid-19, ressaltando a necessidade de um acompanhamento permanente do fenômeno e como ele se encontra nos anos seguintes de pandemia e pós pandemia de forma a auxiliar nos cuidados de prevenção e de medidas antecipatórias que mitiguem o risco do sujeito a cometer o suicídio.