02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC3.2 - Práticas institucionais, identidade e reparação para a formação inclusiva |
46804 - EQUIPE DE MONITORAMENTO E ACOMPANHAMENTO: UMA EXPERIÊNCIA DE RESISTÊNCIA E CRIAÇÃO PARA O CUIDADO À SAÚDE DOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS THAYNÁ DE OLIVEIRA MOREIRA RODRIGUES - UFF, LEONARDO SIMÕES FREIRE - UFF
Contextualização Trabalhamos no setor de Saúde Estudantil(SE) de uma Universidade Pública no Rio de Janeiro que, inserido na Pró-Reitoria ligada à Política Nacional de Assistência Estudantil, objetiva ampliar as condições de permanência de estudantes de graduação mediante a atenção à saúde. Em seu início, era formado majoritariamente por psicólogos que realizavam atendimentos psicológicos individuais. Em meados de 2019, a equipe foi ampliada com a entrada de novos profissionais - assistentes sociais, médicos e os autores deste relato, uma enfermeira e um psicólogo. Isso trouxe tensionamentos tanto internos, entre os profissionais, quanto por parte da comunidade acadêmica quanto à expectativa de atendimentos de casos complexos de saúde - principalmente saúde mental - os quais nem sempre foram absorvidos pelo setor.
Descrição A Equipe de Monitoramento e Acompanhamento (EMA) foi criada a partir de uma disputa de olhares e um posicionamento ético-político de uma parte dos profissionais da equipe de SE - além dos autores, uma psiquiatra e uma assistente social - que apostou na construção de uma perspectiva de trabalho com uma atuação mais institucional e interprofissional. Eles compreendiam a importância do setor atuar de forma conjunta com as coordenações de curso, visto que era, constantemente, acionado pela comunidade acadêmica para atuar em situações como ideação suicida ou surtos, que recebiam como resposta a orientação para acionar a emergência ou a família.
Observando isso, foi se demarcando no setor a importância de se construir ações além da assistência individual ao estudante, valorizando respostas coletivas em prol da comunidade estudantil, sensibilizando para a corresponsabilização e cogestão dos casos assim como um direcionamento técnico-responsável das demandas apresentadas, articulando redes e promovendo aproximações com o estudante quando necessário.
Período de Realização De junho de 2021 até o presente.
Objetivos Construir uma alternativa de cuidado a casos complexos de saúde do estudante em uma perspectiva institucional/intersetorial/interdisciplinar.
Resultados Os casos recebidos pela EMA chegam, principalmente, por duas vias. Um acolhimento semanal, em formato de plantão, que recebe os estudantes individualmente em modelo porta aberta e o contato feito por professores/coordenadores. Ao receber contato das coordenações, marcamos uma reunião online para repasse do caso. Nesse processo, iniciamos uma construção de corresponsabilização com os envolvidos a fim de construir alternativas que alcancem o estudante, visto que, por vezes, este não solicita ou não deseja ajuda. Quando este estudante solicita, por demanda espontânea, algum serviço oferecido pelo setor ou se direciona até o acolhimento semanal, a equipe segue em contatos ocasionais com ele e como profissionais de referência para situações de saúde que possa vir a ter. Dentre as estratégias de cuidado que adotamos, estão o matriciamento com a rede pública de saúde mental, visitas a unidades de saúde, visitas domiciliares e institucionais, viagens aos campi da universidade no interior, entre outros.
Um exemplo dessa atuação é o caso de um estudante de um campus da região médio-paraíba do estado, que apresentou um comportamento intimidador na sala de aula, após um professor ter chamado sua atenção. Em seus pedidos de bolsas estudantis, ele sinalizava uma relação familiar conflituosa, com situações de ameaça, perseguição e vulnerabilidade socioeconômica; também, por vezes, um discurso desconexo.
Fomos contactados pela coordenação que estava preocupada com a mudança repentina no comportamento dele e iniciamos uma ação que envolveu: orientação e apoio à coordenação nas abordagens ao estudante; contato com a rede pública a fim de sinalizar o caso; visita ao campus com o objetivo de aproximar-se da rede de atenção psicossocial e, também, realizar uma conversa com o estudante sobre os suportes possíveis na universidade; articulação com agente comunitário do território de moradia para cadastramento na unidade de saúde.
Aprendizados Nessa dinâmica de atuação da EMA, foi possível refletir sobre um fazer-profissional que apreende um cuidado possivel, em situações graves de sofrimento e vulnerabilidade, a partir do desejo, vínculo e encontro na relação profissional-estudante-universidade. Esses não se restringem aos muros da universidade, sendo necessário constituir redes que alcancem a complexidade de vida do sujeito. Tendo como parâmetros o respeito à liberdade e à autonomia do outro em seu seu modo-de-ser e viver a vida.
Análise Crítica Para além de um cuidado ampliado à saúde do estudante universitário, essa ação envolveu uma atitude de resistência da equipe, caminhando em oposição a uma lógica hegemônica de saúde - reducionista, individualizada e pautada no tratar/controlar/diagnosticar -, e de anúncio, rompendo com um olhar instituído para criar uma alternativa de cuidado engajado, considerando modos de encarar o sofrimento humano, por meio de uma tarefa coletiva de cuidado e da alteridade como processos essenciais para a emancipação humana
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